Capítulo 1 Amanda
Amanda
Eu sou filha única, meus pais sempre me deram de tudo, eles são donos de uma distribuidora de água e gás, como a distribuidora é aberta de domingo a domingo eu fui criada por babás, como a maioria das crianças brasileiras ou os pais trabalham ou cuida dos filhos às duas coisas é muito difícil de se fazer a não ser que os pais trabalhem em horários diferentes que não foi o meu caso, meu pai é bem rígido de família tradicional, eu sempre tive que me vestir comportada e estudei nos melhores colégios para eles os estudos é fundamental, quando completei 14 anos conheci algumas garotas que estudavam em uma escola próximo da minha, elas eram livres ao contrário de mim, estavam sempre vestidas com roupas curtas bem maquiadas a única coisa que eu não gostava nelas era a forma de falar o português delas eram totalmente diferentes do meu cheio de gírias e eu tinha que tomar muito cuidado para não falar igual elas ou meu pai descobriria que estou andando com pessoas diferentes de nós.
Marcela e Kátia moram no morro, Marcela é Loira tem olhos claros e corpo definido, Kátia e morena de cabelos cacheados e um pouco mais gordinha às duas são lindas.
— Marcela me convidou para ir na casa dela algumas vezes, mas eu sempre tive muito medo do meu pai descobrir ele sempre falava que às pessoas da periferia eram perigosas, já minha mãe sempre defendeu às pessoas de classe baixa, toda vez que eles entram nesse assunto e uma briga, minha mãe chama meu pai de preconceituoso e ele chama ela de irresponsável que confia em todo mundo.
Marcela me falou dos bailes Funk que tem na periferia eu fiquei muito curiosa eu sempre gostei de dançar fiz balé, jazz e sertanejo, mas quando elas me falaram do baile fui pesquisar e tinha que arrumar uma forma de ir em uma festa dessa, ainda tenho muita dificuldade de conversar com Marcela tem palavras que não entendo é ela acaba rindo de mim, tem horas que quero me afastar dela, mas a vontade de conhecer o baile e maior do que a minha falta de vergonha na cara.
— Amanda vamos tomar uma gelada?
— Marcela o que é uma gelada, coca coca?
— Pega a visão Kátia a Patrícinha meteu o louco, não saber o que é uma gelada, em qual planeta ela vive.
— Marcela para de tirar sarro da garota, ela não foi criada na quebrada como você, fala direito com ela.
— Desculpa Patricinha é que foi engraçado você não saber o que é uma gelada lá na comunidade cerva, gelada, breja é a mesma coisa que cerveja gelada.
— Entendi Marcela, mas vocês com 14 anos já bebem cervejas?
— Olá a garota é careta mesmo, nas baladas a gente bebe e fuma e normal.
— Vai ser bem complicado eu entender vocês.
— Não é não quando você não souber o que é pode perguntar.
— Marcela por que você não segue os conselhos da sua mãe e fala o português correto.
— Qual é Kátia você é essa mania de querer falar tudo explicadinho, estou indo nessa.
— Estou indo nessa o que significa?
— Ela está indo embora.
— Como vocês conseguem destruir o português assim?
— No começo eu também achei estranho mais depois me acostumei com a forma que eles falam, eu tento não pegar os vícios de linguagem deles sei que futuramente isso vai me prejudica quando for prestar vestibular ou fazer uma entrevista de trabalho.
— Você não nasceu na comunidade?
— Não eu sou de outra cidade, mas com a crise meus pais não conseguiram manter nosso custo de vida e acabamos se mudando para o morro, meu pai odeia aquele lugar, ele e minha mãe trabalham e fazem b***s aos finais de semana para juntar dinheiro e comprar uma casa para nós se mudar.
— Você também não gosta de lá?
— Eu gosto, lá dentro e o contrário do que às pessoas pensa tem muitas famílias de bem, trabalhadoras que estão vivendo em condições difíceis por não conseguirem empregos ou por ganhar muito pouco, o aluguel é muito caro e ainda tem conta de energia, água, gás, alimentação, etc. É impossível sustentar uma família com um salário mínimo e pagar tantas contas, por esse motivo que às favelas e morros estão se multiplicando, às pessoas estão procurando lugares para morar que o custo de vida seja mais baixo.
— Kátia você mora muito tempo na comunidade?
— Dois anos meu pai ficou desempregado, eu tenho dois irmãos só o salário da minha mãe de costureira não era suficiente para suprir as despesas, então minha mãe propôs para o meu pai vender a nossa casa e comprarmos uma mais barato, mas foi o maior erro que eles cometeram o meu irmão mais velho ama uma balada, nos bailes Funk conheceu uma garota e desandou nas bebidas e drogas, ele dorme de dia e vai para farra de noite.
— Desandou, farra o que significa?
— Ele se viciou em drogas, ele bebe e sai toda noite para festas.
— Você tem que tomar cuidado já está aprendendo os vícios de linguagem deles.
— Eu percebi estou lendo muitos livros e escutando vídeos para continuar falando o português correto, mas é difícil porque muitos alunos na escola falam assim e na comunidade quase todo mundo, sabe o que é engraçado o dono do morro fala muito bem, ele não tem vícios de linguagem qualquer dia vou perguntar para ele como consegue falar o português perfeitamente igual você.
— Kátia não fica próximo dessas pessoas podem ser perigoso meu pai sempre falou que essas pessoas são perigosas.
— O Dentinho é envolvido no tráfico e adora um baile, mas ele não é viciado pelo contrário pega muito no meu pé e da Marcela para ficar longe das drogas e do crime.
— Vocês são tão próximo dele assim?
— Ele é irmão da Marcela, o cara é lindo, quando eu cheguei na comunidade quis ficar com ele, mas ele não quis, disse que eu era muito novinha e que eu era como a irmã dele, que ele iria cuidar de mim como cuida dela e foi o que ele fez, sempre me respeitou e muitas vezes briga comigo e com a Marcela por usarmos roupas curtas, mas a gente finge que não escutou sabemos que ele nunca vai nos fazer m*l, ele não gosta que a Marcela fale gírias, mas ela não liga, ela acha bonito.
— Eu queria conhecer esses bailes, mas meu pai nunca permitiria eu subir o morro.
— Amanda você é muito bonita eu acho melhor você não ir o dentinho não deixa passar uma Patrícinha que vai nos bailes, ele fica com todas, ele é muito bonito e tem uma lábia como ninguém, se você subir se prepara para ir parar na cama dele.
— Dentinho esse é o nome dele?
— Não Amanda esse é o apelido o nome dele é Marcelo, mas no morro as pessoas colocam apelidos uns nos outros.
— Qual é o seu?
— Kati
— E o da Marcela?
— Loira.
— Como é esse dentinho?
— Ele é lindo alto, tem cabelos castanhos e olhos castanhos esverdeados, mas o que chama a atenção é a educação dele, o homem é bonito, educado e cheiroso só usa perfumes importados.
— Você é apaixonada por ele?
— Não, agora o vejo como irmão também.
— Você gosta de alguém?
— Sim, ele estuda na mesma escola que você, nós já conversamos algumas vezes ele é filho de um empresário.
— Que legal Kátia tomara que vocês consigam ficar juntos.
— Quem sabe um dia, agora quero focar nos estudos, vou me escrever para trabalhar no jovem aprendiz, não quero ficar morando muito tempo no morro.
— Você não falou que gosta de lá?
— Sim, eu gosto, mas meu pai não está feliz ainda mais depois que meu irmão se envolveu com drogas.
— Que chato, Kátia tomara que ele consiga se livrar dos vícios.
— Eu acho difícil quando às pessoas cai nessa vida precisa de muita força de vontade para sair, que não é o caso do meu irmão ele acha bonito assim como a Marcela.
— Será que a Marcela corre o risco de se viciar em drogas.
— Acredito que não, ela tem medo do dentinho e só se a pessoa for maluca em oferecer drogas para ela, todos conhecem o dentinho o que tem de lindo tem de r**m, ele não passa a mão na cabeça de ninguém.
— Marcela a conversa está boa, mas preciso ir, tenho trabalho de escola na casa de uma amiga.
— Tudo bem, foi bom conversa com você e não fica irritada com o jeito maluquinho da Marcela ela tem um coração bom, só gosta de andar com pessoas erradas, se um dia você for no morro vou te apresentar algumas pessoas, você vai ver como às pessoas são simples.
— Ok quero muito conhecer o baile funk.
— Pelo jeito você gosta de dançar né?
— Sim, eu amo dançar, faço aula de dança desde muito pequena.
— Que legal na comunidade tem algumas modalidades de dança a que eu mais gosto é dança de rua.
— Vou dar um jeito e ir conhecer a comunidade estou muito curiosa para ver como tudo funciona lá.
— Ok será bem vida, vou amar te apresentar cada pedacinho daquele lugar.
Até mais.
Me despeço da Kátia e vou para casa da Luísa, Luísa, Valquíria e Felipe estudam comigo, estamos no nono ano, estamos em época de provas, o professor de matemática passou um trabalho em grupo então marcamos de nos encontrar na casa da Luísa, eu a Valquíria e o Felipe.
— Boa tarde meninos desculpa o atraso.
— Tudo bem Amanda, vamos assistir um filme primeiro antes de começarmos o trabalho.
— Valquíria eu não tenho muito tempo, vocês conhecem o meu pai o homem é rígido não gosta que eu fique até tarde na rua.
— Tudo bem, qualquer coisa, nós pedimos para a mãe da Luísa ligar para sua mãe avisando sobre o trabalho.
Luísa fez pipoca e fomos para a sala assistir ao filme, a mãe dela chegou do trabalho, nos cumprimentou e foi fazer um lanche para nós, pois ela viu nos em cima dos livros estudando e ficou com dó, Luísa pediu para ela tirar uma foto nossa estudando e enviar par minha mãe falando que eu estou na casa dela fazendo um trabalho escolar, em poucos minutos minha mãe responde à mensagem avisando que passará na casa dela para me pegar depois do trabalho, já era de se esperar até parece que ela me deixaria ir sozinha para casa.
— Terminamos o trabalho, Felipe e Valquíria foram embora e eu fiquei com Luísa até meus pais chegarem.
Não demorou muito meu pai buzina, eu me despeço de Luísa e de sua mãe e vou direto para o carro com minha mochila, meu pai me dá um sorriso e me pergunta...
— Filha como foi o seu dia?
— Foi cansativo papai a semana toda de provas e trabalhos.
— Papai eu posso dormir na casa de uma amiga sábado.
— Que amiga é essa?
— O nome dela é Kátia a mãe dela é costureira e o pai trabalha de porteiro, ela me convidou para dormi na casa dela sábado porque a mãe dela não trabalha nos finais de semana.
— Tudo bem filha se a mãe dela for te buscar em casa e no domingo te levar de volta por que você sabe que nos finais de semana e bem corrido para mim e sua mãe na empresa.
— Ok papai vou pedir para a Kátia pedir para mãe dela te ligar e vocês conversam.
— Filha nunca ouvi falar dessa sua amiga.
— Mamãe eu conheci a Kátia a pouco tempo como a senhora está trabalhando muito e eu estou estudando bastante para passar de ano acabei me esquecendo.
— Tudo bem filha, tem data prevista para reunião de pais na sua escola.
— Ainda não mamãe, não terminou o bimestre ainda, mas assim que os professores falarem eu te aviso.
— Certo filha obrigada!