5- Perdendo a razão de viver

1041 Words
Capítulo 5 Pedro narrando : Foi aí que eu senti. A mão dela escorregou da minha, devagar. Meu coração disparou, não era mais medo, era desespero. Puxei a mão dela de novo, mas não veio nada. Virei rápido, e meu mundo desabou. Alice tava no chão, os olhos dela meio abertos, mas sem olhar pra mim de verdade. Tinha sangue. Muito sangue. — Não, não, não, Alice! — Gritei, me jogando no chão ao lado dela. Eu tremia todo, meu corpo não respondia direito. — Alice! Fala comigo, p***a! — A voz falhou. O choro engasgou na minha garganta. Mas ela não respondeu. Só o silêncio. O barulho dos tiros ao fundo parecia distante agora. A única coisa que eu conseguia ver era ela, deitada no chão, o corpo pequeno, frágil .. e eu, impotente. Não dava pra fazer nada. Não tinha mais o que fazer. — Alice, não faz isso comigo, por favor… — Sussurrei, pegando a mão dela de novo. Mas ela não apertou de volta. Eu tava quebrado. De joelhos no chão sujo da favela, com a pessoa que eu mais amava no mundo ali, no meio de um inferno que a gente não escolheu viver. O som dos tiros continuava, mas eu não ouvia mais nada. Só conseguia olhar pra ela, sem saber o que fazer. Sem saber o que dizer. Eu peguei o corpo da Alice nos braços. O sangue dela ensopava a minha roupa. Ela era tão pequena, frágil, parecia que eu tava carregando uma boneca quebrada. Meu peito doía, cara. Uma dor que nem o inferno daquela favela conseguia explicar. Eu tava chorando igual uma criança, com ela nos braços, e os tiros ainda rolando ao nosso redor. — ALICE! FALA COMIGO, c*****o! — Gritei, mas não adiantava. Ela só mexia os lábios, como se tentasse falar alguma coisa. Tava fraca demais, mano. — NÃO DORME, ALICE! NÃO DORME, PELO AMOR DE DEUS! Eu tremia. O corpo dela escorregava no meu colo, o sangue escorrendo pelos meus dedos. Meu coração batia tão forte que parecia que ia explodir. A adrenalina era tanta que eu não sabia se tava chorando de desespero ou de raiva. Os tiros não paravam, vinham de tudo quanto é lado. A gente tava no meio da guerra, e ninguém ia parar pra ajudar. Todo mundo só pensava em salvar a própria pele. Fiquei ali, gritando, implorando, mas parecia que o morro inteiro tinha virado as costas pra mim. — AJUDA! ALGUÉM ME AJUDA, p***a! — Eu berrava, mas só escutava o eco das balas. O desespero me consumia, mano. Segurei o rosto dela com as duas mãos, o sangue manchando minha pele, minha roupa, tudo. — ALICE, NÃO FAZ ISSO, NÃO! SEGURA FIRME! Ela abriu os olhos devagar, o rosto dela tava pálido, os lábios tremendo. E aí veio, uma lágrima escorreu do canto do olho dela. — Tá doendo, Pedro… — A voz dela saiu baixinha, quase sem força. E p**a que pariu, como aquilo me destruiu. Eu senti uma pontada no peito, como se tivesse levado uma facada. Ver a Alice sofrendo daquele jeito, saber que eu não podia fazer p***a nenhuma, era insuportável. — Eu sei, eu sei, segura firme, tá? Eu vou te tirar daqui! — Falei, com o coração na mão. Abaixei o rosto até o dela, beijando sua testa. — Eu vou te levar pro hospital, Alice. Eu prometo. Só não dorme, tá? Não dorme. De repente, os tiros pararam. Ficou um silêncio estranho no morro, como se todo mundo tivesse segurando o fôlego. Eu sabia que aquela merda não tinha acabado, mas aquela era a nossa chance de sair dali. Levantei com ela nos braços, sentindo o corpo dela mole, sem força. — Vai dar tudo certo, Alice. Aguenta mais um pouco. — Falei, mesmo sabendo que nem eu acreditava mais naquilo. O sangue não parava de sair, pingando no chão enquanto eu corria. Desci as vielas do morro a milhão, desviando das pessoas que se escondiam. O hospital da Vila Esperança não ficava tão longe, mas cada passo parecia uma eternidade. A Alice tava ficando mais leve a cada segundo, e isso me apavorava. — p***a, p***a, aguenta, Alice, só mais um pouco, tá? — Eu dizia enquanto apertava o passo, quase tropeçando nas pedras soltas do caminho. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, cegando minha visão. Ela gemia baixinho no meu colo, o rosto apertado de dor. Cada vez que ela soltava aquele som, era como se alguém estivesse enfiando uma faca no meu coração. Eu corria, mano. Corria como se minha vida dependesse disso. E dependia. Porque sem a Alice, eu não tinha mais p***a nenhuma. Chegando no hospital, o caos continuava. O lugar tava cheio de gente ferida, mas eu não me importava com mais ninguém. Só conseguia pensar na Alice. Entrei chutando a porta, quase caindo com o peso dela nos braços. — AJUDA! AJUDA AQUI, c*****o! — Gritei com a garganta seca, e os médicos vieram correndo, mas já dava pra ver na cara deles que não ia dar tempo. — Não dorme, Alice! NÃO DORME! — Eu repetia, apertando ela contra mim, mas o corpo dela já tava mole demais, sem resposta. Os olhos dela piscavam devagar, como se estivesse lutando pra se manter acordada. — Vai ficar tudo bem, maninha, só mais um pouquinho. — Sussurrei, com o rosto molhado de lágrimas e suor. Eu sentia o coração dela batendo cada vez mais fraco. Cada vez mais distante. A mãozinha dela ainda tava segurando a minha, mas aos poucos, foi afrouxando. Foi escorregando. Os médicos tentaram pegar ela de mim, colocar na maca, mas eu não larguei. Não conseguia. Eu queria que ela ficasse comigo, queria proteger ela. Eu prometi. Eu prometi que ia proteger ela. — Pedro..— Ela sussurrou, a voz dela tão fraca que eu m*l conseguia ouvir. — Pedro.. eu tô.. com.. sono.. A última palavra dela cortou o ar. E foi isso. Acabou. Os médicos correram pra tentar reanimar, mas eu já sabia. Eu senti. Naquele momento, o coração dela parou de bater. Alice, minha irmã, tinha ido embora. E com ela, levou tudo de bom que ainda existia em mim. Continua.... Volto aqui dia 19 com capítulos diários 😘
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