Adelson
Eu desci até o bunker que havia construído na parte mais distante e inabitável do morro. Um lugar isolado, esquecido, perfeito para quem merecia ser enterrado em vida.
Construi o bunker e coloquei grades em volta, altas, fortes, como uma jaula para um animal que já tinha perdido qualquer direito de ser chamado de homem. Era ali que Jurandir estava agora. O ex-homem.
Agora, ele tinha s£ios também. O cabelo estava longo, desgrenhado, e o olhar... vazio, sem força, sem nada. Ele merecia cada segundo do que estava vivendo.
Me sentei em um banco, mais longe, observando tudo em silêncio, o lugar era quente. Algumas camisinh@s da diversão dos homens estavam ali no chão.
— Amanhã quando eu entrar aqui, quero esse lugar limpo. Eu disse que ia pagar. — Minha voz quebrou o silêncio.
Ele continuou sem levantar os olhos, como se já tivesse aceitado o lugar onde estava.
— Eu amo, a amo, foi só por amor.
— Amor? Que amor? Você era o pai dela…o pai que ela conhecia. Você é um doente. Você é o monstro que destruiu tudo que ela tinha.
Ele abaixou a cabeça, sem coragem de me encarar. Eu fiquei ali, parado, observando, porque eu sabia que, naquele lugar, o verdadeiro castigo não era físico. Era ser esquecido, apagado, reduzido ao nada.
E ele merecia cada segundo desse esquecimento.
Um dos meus homens desceu, sem perceber minha presença de primeira. Era o Sorocaba, apelido que pegou fácil por causa da região onde morava antes de vir pro morro.
— Foi m*l, chefe… não sabia que o senhor tava aqui.
— Faça de conta que não estou. — Falei, sem tirar os olhos do chão.
Sorocaba não insistiu, sabia a hora de ficar na dele. Tinha duas cervejas na mão e me entregou uma. Peguei sem pensar, abri e dei um gole. Eu gostava de uma boa cerveja gelada, e os homens sabiam disso.
Ele abriu a dele, bebeu alguns goles e, depois, se aproximou do pai da Bruna. Eu não estava nem aí pro que Sorocaba queria fazer com ele, o importante era que a "dondoca" estava pagando.
Sorocaba chegou perto, abriu a calça e colocou o pên.is pra fora.
— Chupa, porque hoje eu tô estressado. — Falou, frio, sem um pingo de pena.
Ele não tinha muita escolha. Às vezes, o preço era esse.
Continuei minha cerveja, e aquilo me fez bem. Era bom ver gente como ele pagar.
Segurado pelos cabelos, ele engolia a humilhação em silêncio. Sorocaba, por outro lado, bebia sua cerveja sem nem vacilar, tranquilo, como se fosse apenas mais um dia qualquer.
Quando ele goz.ou, foi na boca da "dondoca", e ele engoliu tudo, deitando-se logo em seguida, sem olhar para nenhum de nós dois. Sorocaba arrumou a calça e saiu rindo, satisfeito.
Terminei minha cerveja e me aproximei da cama. Fiquei ali, olhando para aquele verme, jogado como um lixo.
Cuspi em cima dele , sem dó.
— Sabe... os homens aqui não são muito diferentes de mim.
__ São sim, não são pedófil.os e abus@dores....e o dia em que um deles tocra em uma menina, em uma criança, ou forçar uma mulher. ... eu m.ato. É aí que a gente é diferente
Me aproximei ainda mais, olhando nos olhos dele, vazio e quebrado.
— Dei carta branca pra eles fazerem o que quiserem com você. Dez anos… Você tem dez anos pra pagar. E vai pagar.
Saí do bunker e fechei a porta atrás de mim. O lugar era quente, abafado, sufocante. A comida dele? Arroz e pão dormido. Agora, era só sobreviver. Nada mais.
No caminho, Xandy me parou.
— As construções estão finalizadas, chefe. Tô esperando sua inspeção pra poder pagar os homens que trabalharam.
Assenti, sem pressa.
— Eu faço isso depois do almoço. Antes, tenho um assunto pra resolver fora.
Xandy não questionou, sabia o momento de se calar. Eu segui em frente, com a cabeça já no próximo problema.
Eu tinha que organizar a documentação da Bruna. Ela ainda estava registrada como desaparecida, e isso era um problema grande demais pra ser ignorado.Assim que eu tentasse tirar uma carteira de identidade pra ela, a polícia ia bater na minha porta. E não viriam só pra fazer perguntas. Iam querer saber sobre o tempo em que ficou desaparecida também.
Então, tudo precisava estar bem organizado, cada detalhe no lugar certo. Se eu não fizesse isso direito, ia virar uma confusão gigantesca, e a última coisa que eu queria era a polícia no meu morro.
Eu ia me sentar com o advogado e entender o que precisava fazer. Também ia conversar com um delegado local, precisava deixar tudo certo, tudo limpo.
Queria organizar a documentação da Bruna, porque, em algum momento, eu teria que sair do país para resolver algumas negociações. Eu tinha duas irmãs e um irmão na Inglaterra, sobrinhos e o dia que eu fosse vê-los lá, levaria minha pequena comigo.
Não ia deixá-la sozinha, dormindo com medo e assustada na mesma escuridão de antes. Isso, nunca mais.