Capítulo 5

2599 Words
Azenathi  Os cortes que sofri na queda sangram sem parar. Avaliei cada um deles e não são danos sérios que eu deva me preocupar. Também não sofri nenhuma contusão grave, mas eu tinha uma imensa mancha roxa na lateral. Logo o processo de cura se iniciaria. Quando pulei da cachoeira não sabia o que encontrar lá embaixo, mas fui brindada pela minha sorte e afundei em águas selvagens e tortuosas. Lutei para não me afogar por quilômetros rio abaixo, me cortando em várias pedras pelo caminho. Assim que consegui chegar perto da margem estou sem forças e cansada. Olhei para cima e nem sinal dos meus perseguidores. Fiquei na margem respirando fundo várias vezes, tentando me recuperar, puxei um cipó de uma árvore que se partiu quando tentei subir, então peguei vários. Subir em árvores nunca foi o meu problema, mas ferida como estou foi um custo. Andei por vários troncos de árvores até chegar num lugar que eu achei seguro o suficiente para caminhar. Tive cuidado para não deixar rastros tanto de pegadas como de sangue. Durante a queda também perdi os sapatos que calçava, portanto foi inevitável ferir meus pés no processo. Assim que atingir a estrada o dia está chegando ao fim. Mesmo encharcada e descalça não tive outra opção senão correr. Correr para minha tão sonhada liberdade! Eu não tinha alternativa, preciso me esconder. Primeira lição que recebi: adaptação. Não sei quanto tempo fiquei apagada mais eu tenho que me situar com o ambiente que vivo agora. Preciso saber seus costumes e hábitos. Tenho que passar desapercebida e conseguir algum recurso para voltar à ativa e contatar alguns de meus velhos fornecedores. Alguns não ficariam felizes com minha aparição, mas quem liga? A cidade é pequena e pouco movimentada percebi ao andar pelas ruas. Quem me via, logo se afastava como se eu fosse uma doença. Talvez eles não estejam errados, sorri com amargor. O frio começou a incomodar e eu não tinha noção onde estou. Posso invadir uma casa e roubar claro, mas isso poderia acender uma luz sobre mim, o que não desejo agora. Estou cansada, molhada e faminta! Terei que tomar uma decisão rápida quanto a minha condição. Sentei num banco de praça e abracei minhas pernas. A imagem de um macho encheu minha mente e coração, me aquecendo. Cabeça lisa, olhos marcantes e de um tom de azul incomum, pele morena e quente, boca carnuda, braços fortes e musculoso, queixo quadrado e agressivo, alto que nem uma montanha... Nunca me deixei abalar ou impressionar por machos, mas aquele... Senti meu coração disparar quando nos encaramos e nossos corpos ficarão próximos. Nunca antes alguém tinha me tocado, mas ao sentir as mãos daquele macho em meu corpo... _ Com licença... - a voz de uma mulher ao meu lado me despertou de meus devaneios. Quando levantei meu olhos vi uma fêmea se agachar na minha frente. Grandes olhos castanhos me olham com receio, emoldurados por uma longa e farta cabeleira castanha escura, lábios finos mais muito bem desenhados, sobrancelhas finas no rosto pequeno. A fêmea devia ser mais baixa que eu. Para os padrões humanos ela devia ser muito bonita. Corajosa, tive que admitir, por se aproximar de mim neste estado sem me conhecer. Ela devia sentir aquilo que já ouvi milhões de vezes que é fraqueza... compaixão, empatia, bondade... Sinto o cheiro dela, mas não havia nenhum traço de medo, nem de outro humano, na verdade ela cheira muito bem. _ Quer que eu ligue para alguém? - me perguntou preocupada. Levantei a sobrancelha a olhando. Será que está fêmea não sente o perigo? Não vê meu estado? Por que não se afasta de mim como os outros? _ Você está sangrando. - o tom alarmante dela me deixou em alerta ao olhá-la e a minha volta. A fêmea vasculhou na bolsa até achar uma sacola com lenços e começou a limpar meus cortes, tentei me afastar, mas ela me segurou firme - Fiquei quieta! - ralhou concentrada. Um rosnado subiu em minha garganta, mas eu o engoli. Do outro lado vi um casal nos olhar curiosos. Seria fácil para mim quebrar seu pescoço e roubar seus pertences, mas chamaria atenção, pois senti o cheiro de outros humanos se aproximando. _ Você está gelada! - exclamou ela tirando um casaco dentro da bolsa e colocando sobre meus ombros. Olhei a bolsa dela e a achei muito pequena para tirar tanta coisa. _ Quer que eu ligue para a polícia? Você foi assaltada? - a preocupação dela é genuína, eu pude sentir, pois seu coração batia descompassado. Ela está realmente assustada com meu estado. Quando ela pegou o aparelho eu lhe segurei a mão e fiz uma negativa com a cabeça - Por que não? Apenas balancei a cabeça negativamente várias vezes. A fêmea se sentou ao meu lado e segurou minha mão. _ Não me diga que é uma fugitiva da justiça? - os olhos castanhos brilham em expectativa. Fechei a cara e balancei a cabeça negativamente. _ Mas não quer ser encontrada? - uma ruga se desenhou na testa da fêmea - Está fugindo de seu namorado? A imagem daquele macho veio a minha mente, me fazendo fechar mais a cara. _ Da sua família então? Ou de seu namorado que é da polícia? Pode ser... Aquela fêmea tinha uma imaginação prodigiosa e ela parecia uma metralhadora de palavras. Cada palavra que ela proferia com suas conspirações mirabolantes eu me convencia que a fêmea sofria de algum distúrbio mental. _ Coitadinha. - murmurou ela levando as mãos para o rosto - Quem deve estar em sua perseguição deve estar a sua procura. - olhou para os lados alarmada - Venha para minha casa. Lá posso escondê-la e lhe dar comida e roupas. Queria muito a informar que meus inimigos tinham meios nada peculiares de me encontrar. Eu tinha apenas algumas horas de vantagem. Forte como sou, fui puxada pela fêmea pela mão, que me obrigou a ficar de pé e acompanhá-la. Estou ainda me perguntando o porquê não lhe quebrei o pescoço ainda para dar fim aquela falação no meu ouvido. Chegamos numa casinha simples, mas bem arrumada afastada do centro da cidade. Durante todo o trajeto a fêmea falou pouco, mas percebi que ela estava concentrada no caminho que estávamos fazendo, pois ao que tudo indica não é seu habitual, olhava sempre de um lado para o outro quando cruzamos uma pista. Mesmo assim não senti medo nela, só expectativa. _ Entre. - me empurrou porta adentro e olhou para fora antes de fechar a porta com vários trincos. Eu podia muito bem lhe falar que não fomos perseguidas, mas minha voz ainda não saia - Vamos ao banheiro. Claro que eu podia aproveitar de sua situação e a matar e roubar o que precisava e sair dali, pois não havia nenhum cheiro de outro humano na casa, e pelo cheiro de gasolina tinha um carro na garagem. Mas ao vê-la ali... na minha frente... prostrada sobre a banheira me preparando um banho... algo no meu coração mudou. Nunca ninguém tinha feito algo por mim sem interesse. _ Água quente e meus sais preferidos. Creio que você vai gostar! - disse ela fechando a torneira e checando a temperatura da água - Vou lhe arrumar roupas quentes e confortáveis. Acho que vestimos o mesmo número, apesar de você ser bem mais alta. - disse ela empolgada se levantando e me encarando - Tire a roupa e se lave está bem? - ela colocou as mãos em meus ombros, resisti o impulso de tirá-las - Vou ver algo também para você comer. Fique à vontade linda! - saiu do banheiro. Petrificada no lugar repassei tudo o que eu fiz até chegar aqui, mas o que ficou marcado foi a fêmea me chamando de irmã e aquele macho shifter. Preciso de respostas e sei onde encontrar. Tirei toda minha roupa e entrei naquela banheira fechando os olhos e me deixando levar pelas lembranças passadas e presentes. Recordei toda minha infância, adolescência e parte da fase adulta, nenhuma delas encontrei nenhum indício de uma irmã. Ela é forte e ágil como você, me lembrou uma voz dentro de mim. O cheiro dela se parece com o seu, me lembrou a voz. Sim. Verdade. Lavei meus cabelos que estão imenso para me gosto, que sempre gostei deles em cima do ombro. Odeio questões pendentes. Outra questão é o macho que confrontei na floresta, ao contrário dos outros este tinha algo diferente que chamou minha atenção, mas também não sei o quê. Preciso encontrá-lo novamente para tirar esta dúvida, mas como? A fêmea bateu na porta e entrou trazendo um roupão e uma caixa de curativos. _ Nesta confusão nem me apresentei. - disse ela rindo. Ela tinha trocado de roupa - Meu nome é Gislayne Monroe, mas pode me chamar de Gy. Me mudei para cá há alguns meses. - puxou uma cadeira de frente para mim e me avaliou - Sabe, minha mãe dizia que eu não podia ver ninguém ferido que eu trazia para casa, seja pessoa ou animal. - os olhos dela brilham - Nunca tive uma irmã. E quando minha mãe morreu fiquei sozinha. Sempre quis uma irmã. Não gostei de ver o brilho nos olhos dela quando me encarou. Eu não quero uma irmã! Não quero ser responsável pela vida de ninguém! Só quero me vingar e depois decidir o que fazer da vida. Uma humana junto de mim só me atrapalha. _ Por que você não fala? - agora ela mudou de assunto enrugando a testa - Você me compreende né? Balancei a cabeça afirmando. _ Sua garganta dói? Afirmei novamente com a cabeça. _ Mas o que diabos fizeram com você? - perguntou mais para si mesma quando vasculhava dentro da caixa - Vamos cuidar de seus cortes, comer algo e depois usar isto. - me mostrou um frasco alaranjado - Amanhã você vai acordar outra. Amanhã estarei longe. _ Levanta. - pediu se erguendo e abrindo o roupão - Vamos cuidar de seus ferimentos. Não tenho hábito de ficar nua na frente de outras pessoas, mas sendo outra fêmea não me importei. Mas me arrependi ao ver os olhos horrorizados da fêmea ao ver a mancha roxa em minha lateral. _ Qual foi o desgraçado que fez isto com você? - ela tentou tocar, mas eu afastei suas mãos. Não está doendo, mas eu não quero ser tocada - Desculpas, deve estar doendo. - levou um dedo a boca nervosa - Se eu pegar o responsável disto... Sorri diante da fêmea. Aposto que ela não mata nem uma... como é o nome mesmo? Ah, barata! Lembro quando apareceu uma na minha cela e a técnica quase passou m*l quando o bichinho voou para cima dela. Ela saiu correndo aos berros! Com extremo cuidado deixei a fêmea chamada Gislayne cuidar dos meus ferimentos, depois de limpos e feito os curativos, ainda não acredito que ela colocou vários band-aid coloridos por meu corpo, pior, eu deixei, vesti uma camisa larga e calça preta curta. Nunca tinha vestido algo tão macio e confortável. Gislayne me preparou um prato delicioso, que me disse depois se chamar macarronada com queijo e almôndegas. Também me serviu uma torta de cremes com frutas que me levou ao céu. Valeu a pena não a matar para degustar aquelas maravilhas. Ela me contou toda sua vida enquanto comíamos. Gislayne nasceu em uma cidade no interior do Kansas, seja lá onde isto fica, sua mãe foi cozinheira de uma empresa grande que faliu, e seu pai nunca o conheceu. Herdou da mãe a arte de cozinhar. Senti a mesma solidão que eu trazia no peito em cada palavra dela, mas eu não podia me deixar envolver. Ambas passaram muitas dificuldades, mas permaneceram juntas, cuidando uma da outra. Com o tempo trabalhou em alguns restaurante e ela aprendeu ser garçonete, isto eu sabia o que é, pois me disfarcei disto quando tive que matar um homem para a organização. Na verdade, executei muitas pessoas para a organização. Sempre era levada e trazida em cada missão que teve, até aquele dia... Balancei a cabeça não querendo recordar, não hoje. _ Trabalho a noite num bar aqui perto. Tenho algumas horas ainda. Quer descansar? - me perguntou após guardar as vasilhas e secar as mãos num pano - Amanhã podemos ver o que faremos em seu caso. Concordei com ela, pois meus planos é ir embora na madrugada. Gislayne me entregou uma escova de dente e depois aplicou aquele remédio em minha boca. _ Nunca vi caninos tão desenvolvidos. - disse ela analisando minhas presas - Você faz parte de algum destes cultos malucos de vampiros? - ela me olhou de modo engraçado. Balancei a cabeça em negativa, nem sei o que ela está falando. _ Que bom! - levou a mão ao peito, respirando aliviada me fazendo sorrir - Aqueles caras são loucos. Bebem sangue e tudo! - fez cara de nojo e se tremeu toda como se estivesse com frio. Estranho, pois a temperatura está agradável - Depois quero saber sobre isto, quando puder falar. Vamos dormir? - me levou para um quarto onde tem uma cama de casal - Podemos dividir. Tem problema? Balancei a cabeça novamente. _ Ótimo! - se espreguiçou toda - Fique no canto. Deitei no canto da cama com a barriga para cima admirando o teto cheio de estrelas. Nunca tinha visto algo igual. _ Minha mãe disse que quando pessoas morrem viram estrelas e nos concedem desejos. Já perdi tantas pessoas... - suspirou profundamente com pesar - Sempre durmo pensando nelas ao olhar para o teto, e peço que eu encontre uma pessoa especial que cuida de mim. - segurou minha mão - Faça um pedido também. Meu único pedido e que eu tenha minha vingança. Uma imagem nova se juntou a tantas outras em minha mente, de um lindo par de olhos azuis incríveis. (...) Para minha surpresa eu tinha dormido e acordei com a fêmea me olhando, apoiando a cabeça sobre um dos braços. _ Desculpas. - sorriu ela parecendo feliz - Você é muito bonita! Estava dormindo tão bem que fiquei com pena de te acordar. Me levantei e olhei a minha volta, sentindo o cheiro de tudo, nem sinal de meus perseguidores. Creio que eles ou estão procurando meu corpo no rio ou pensaram que tinha morrido. Espero que eles pensem na segunda hipótese. _ Vou trabalhar. - disse ela se levantando e indo para o guarda-roupas, enquanto eu olho para a noite lá fora - Como está a garganta? r**m ainda? - me encarou com algumas roupas na mão. Tentei falar, mas ainda doía. _ Use um pouco mais do remédio. - me passou o frasco - Vou falar com Bill que você é minha prima e está com problemas e veio me visitar. A olhei com interesse. _ Não vou deixá-la sozinha. - sorriu para mim - Quer vir comigo? Lá servem um espetáculo de hambúrguer com fritas? Meu estômago roncou na hora e ela gargalhou. _ Vou arrumar roupas para você. - voltou sua atenção novamente para o guarda-roupa - Tenho uma calça preta aqui novinha que não mandei acertar ainda. - tirou a calça, uma blusa e jaqueta - Vai ficar gata! O que este termo quer dizer eu não sei, mas o sorriso que ela deu foi interessante. Por que ela ainda está viva mesmo? *************************************************************************** Minhas lindas, Queria muito ler os comentários de vocês sobre o desenvolvimento da história. Divirtem-se e me de seus corações. Loucas para isso!!! Beijocasssssssssssssssss...
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD