Capítulo 50 – Noite em Claro

1331 Words
A noite no hospital parecia interminável para Alessandro. Seus pais e Dona Alzira haviam ido descansar, mas ele se recusara a sair do lado de Serena. O quarto estava em meia-luz, e o tique-taque constante do monitor cardíaco enchia o silêncio. Alessandro, de braços cruzados e semblante sério, fitava Serena. Ela dormia profundamente, e cada respiração suave dela fazia algo apertar dentro do peito dele. Ele suspirou, esfregando a testa, o maxilar tenso. “Ou eu estou ficando louco, ou estou apaixonado… mas isso é gostar de alguém?” Pensava, enquanto seus dedos tamborilavam no braço da poltrona. Olhou ao redor: o cheiro de antisséptico, o lençol branco impecável, o ar frio que vinha do ar-condicionado – tudo parecia aumentar sua inquietação. Quando uma enfermeira entrou para ajustar o soro, Alessandro se ergueu num ímpeto, as mãos nos bolsos. Observou-a em silêncio, tentando afastar aqueles pensamentos. Mas não conseguia. “Estou aqui, passando a noite inteira nesse hospital. Por ela…” Ele franziu a testa e riu baixinho, mas sem humor. Logo, balançou a cabeça, afastando o sorriso. “Não, deve ser só coisa da minha cabeça. Só estou ouvindo demais meu pai. Só pode ser isso.” A enfermeira o tirou de seus devaneios ao perguntar algo sobre o soro. Ele apenas assentiu, a voz sumida. Assim que ela saiu, voltou a encarar Serena. O coração dele parecia não querer dar trégua. Quando o sol da manhã começou a tingir o quarto de um tom dourado, Serena acordou. Bocejou e virou o rosto, dando de cara com Alessandro, dormindo numa posição desconfortável, o queixo apoiado na mão, a expressão cansada. Por um instante, ela sorriu, tocada pelo cuidado dele. “Ele passou a noite aqui?” Pensou, mas antes que pudesse falar, a moça do café entrou. — Bom dia! – disse a moça, colocando a bandeja ao lado da cama. – Aqui está o seu café da manhã. Alessandro despertou na mesma hora, o olhar sombrio ainda meio perdido. A moça se aproximou de Serena, sorrindo. — Espero que hoje esteja bem melhor. Com licença. — Obrigada, murmurou Serena, ajeitando-se melhor na cama. Ela pegou a xícara, mas o olhar dela estava em Alessandro, que se levantou devagar, os ombros tensos. — Você… passou a noite aqui? – ela perguntou, a voz suave. Ele suspirou e passou a mão pelo rosto. — Sim, não está vendo? Vou sair para tomar um café. – O tom dele era frio, mas havia um cansaço que ela sentiu na voz. Alessandro saiu, fechando a porta com um leve estalo. Serena suspirou e começou a tomar o café em silêncio. Quando Alessandro voltou, encontrou seus pais e Dona Alzira chegando. Eleonora foi a primeira a falar, a preocupação em cada ruga do seu rosto. — Graças a Deus, o médico disse que ela vai ficar bem. Inácio colocou a mão no ombro do filho. — Meu filho, você está… — Péssimo. Com o corpo doendo. Cansado. – Alessandro respondeu seco, cruzando os braços. O tom ríspido não surpreendeu ninguém. Estavam acostumados. Eleonora e Alzira foram ver Serena. Inácio puxou o filho para o lado e, num tom baixo e preocupado, contou o que um empregado dissera sobre Silvino: que ele deliberadamente colocou Serena naquele cavalo que não era adestrado. Alessandro gelou. Os olhos se estreitaram, um brilho de fúria surgindo. — Aquele filho da p**a… ele fez isso de propósito. – Sua voz saiu grave, trincada de raiva. O maxilar dele se movia, tenso. – Vou agora mesmo falar com ele… — Calma, meu filho. Serena precisa de você agora. – Inácio colocou a mão no braço dele, tentando conter a tempestade que via crescer nos olhos do filho. — Que merda, pai… – Alessandro passou a mão pelos cabelos, a respiração pesada. – Tudo o que eu faço parece que volta para ela… de um jeito ou de outro. Inácio suspirou, olhando o filho nos olhos. — Vamos. Me leve até Serena. Quando entraram no quarto, encontraram Eleonora e Alzira ao lado de Serena. Inácio, com um sorriso terno, falou baixo. — Que susto, menina. Mas que bom que você está bem. Serena sorriu, mas seus olhos foram direto para Alessandro, que estava escorado na parede, o rosto sombrio, os ombros caídos de cansaço. Ele parecia em guerra consigo mesmo – dividido entre a vontade de matar Silvino e o desejo de ficar ali, ao lado dela. Nesse momento, uma enfermeira entrou. — Com licença. Tem um rapaz querendo ver você, Serena. Ele disse que se chama Luiz Fernando. Alessandro se endireitou num estalo, os olhos faiscando. — Ah, que merda. Diz pra ele que não. – A voz dele cortante, como aço. — Filho… – Eleonora começou, preocupada. Mas Alessandro só balançou a cabeça, tentando controlar o fogo que ardia dentro dele. Inácio assentiu para a enfermeira. – Deixe-o entrar. Luiz Fernando entrou timidamente, tirando o chapéu das mãos. Seus olhos se encheram de preocupação ao ver Serena. — Com licença, patrão. – murmurou para Inácio. Mas logo se aproximou de Serena, segurando o chapéu junto ao peito. – Serena, como você está? Fiquei tão preocupado… Serena sorriu, a voz doce. — Estou bem, Luiz Fernando. Foi só um susto. Ele olhou para a testa dela, o olhar cheio de preocupação. — Você se machucou…– murmurou, estendendo a mão para segurar a dela. Mas Alessandro se levantou tão abruptamente que a cadeira rangeu. — Não toque nela. – disse num tom baixo e ameaçador, os olhos fixos em Luiz Fernando. Serena arregalou os olhos assustada. Luiz Fernando recuou um passo, o rosto tenso. — Agora já pode sair. Já viu que a minha mulher está bem. Vai embora.– A voz de Alessandro soava como um trovão contido. — Filho… – Inácio tentou intervir, mas Alessandro cortou: — Saia. p***a. —Alessandro, não faça isso…– Serena murmurou, a voz quase um sussurro. Ele virou o rosto para ela, os olhos escuros como tempestade. — Cala a boca, Serena. – O tom dele foi tão áspero que ela se encolheu. A tensão no quarto era densa. Eleonora e Alzira trocaram olhares preocupados, e resolveram sair com Inácio e Luiz Fernando, deixando apenas Alessandro e Serena. Quando ficaram a sós, ela o olhou assustada. — O que foi? Que mania de me contrariar, Serena. A culpa é sua. Então não fique me olhando assim. Ela baixou os olhos. Horas depois, Serena recebeu alta. Alessandro a acompanhou até o carro, andando ao lado dela enquanto a enfermeira empurrava a cadeira de rodas. Quando chegaram, ele a ajudou a se levantar com cuidado. Prendeu o cinto dela com um gesto rápido e firme, depois fechou a porta e foi para o volante. O caminho de volta foi silencioso, a tensão pairando como uma nuvem n***a entre eles. Chegaram à fazenda. Na varanda, Inácio conversava com Silvino, o advogado e alguns empregados. Quando Alessandro viu Silvino, algo nele explodiu. Num instante, partiu para cima dele. Os punhos de Alessandro eram tempestade, chuva de socos e chutes. Silvino m*l teve tempo de reagir. Sangue jorrava do nariz, e os empregados tentavam separar Alessandro a mando de Inácio. — Seu filho da p**a! Eu vou te matar! – Alessandro urrava, a voz grave e furiosa, cada soco carregado de ódio. Serena, assustada, começou a chorar. — Alessandro, por favor, para! – a voz dela soava quebrada, implorando. Ele só parou quando Inácio gritou: — Olha o estado de Serena! Alessandro se virou, o peito arfando. Viu Serena abraçada a Dona Alzira, os olhos dela inchados de chorar. O sangue de Silvino pingava no chão. Alessandro soltou um suspiro pesado e se afastou de Silvino. — Não quero mais ver você na minha frente. Nunca mais. – disse com a voz rouca, cheia de desprezo. Ele olhou uma última vez para Serena, tão frágil nos braços de Dona Alzira, e sem dizer mais nada, virou as costas e foi para o quarto, o peito ainda em brasa.
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