A noite no hospital parecia interminável para Alessandro. Seus pais e Dona Alzira haviam ido descansar, mas ele se recusara a sair do lado de Serena. O quarto estava em meia-luz, e o tique-taque constante do monitor cardíaco enchia o silêncio. Alessandro, de braços cruzados e semblante sério, fitava Serena. Ela dormia profundamente, e cada respiração suave dela fazia algo apertar dentro do peito dele.
Ele suspirou, esfregando a testa, o maxilar tenso. “Ou eu estou ficando louco, ou estou apaixonado… mas isso é gostar de alguém?” Pensava, enquanto seus dedos tamborilavam no braço da poltrona. Olhou ao redor: o cheiro de antisséptico, o lençol branco impecável, o ar frio que vinha do ar-condicionado – tudo parecia aumentar sua inquietação.
Quando uma enfermeira entrou para ajustar o soro, Alessandro se ergueu num ímpeto, as mãos nos bolsos. Observou-a em silêncio, tentando afastar aqueles pensamentos. Mas não conseguia. “Estou aqui, passando a noite inteira nesse hospital. Por ela…” Ele franziu a testa e riu baixinho, mas sem humor. Logo, balançou a cabeça, afastando o sorriso. “Não, deve ser só coisa da minha cabeça. Só estou ouvindo demais meu pai. Só pode ser isso.”
A enfermeira o tirou de seus devaneios ao perguntar algo sobre o soro. Ele apenas assentiu, a voz sumida. Assim que ela saiu, voltou a encarar Serena. O coração dele parecia não querer dar trégua.
Quando o sol da manhã começou a tingir o quarto de um tom dourado, Serena acordou. Bocejou e virou o rosto, dando de cara com Alessandro, dormindo numa posição desconfortável, o queixo apoiado na mão, a expressão cansada.
Por um instante, ela sorriu, tocada pelo cuidado dele. “Ele passou a noite aqui?” Pensou, mas antes que pudesse falar, a moça do café entrou.
— Bom dia! – disse a moça, colocando a bandeja ao lado da cama. – Aqui está o seu café da manhã.
Alessandro despertou na mesma hora, o olhar sombrio ainda meio perdido. A moça se aproximou de Serena, sorrindo.
— Espero que hoje esteja bem melhor. Com licença.
— Obrigada, murmurou Serena, ajeitando-se melhor na cama. Ela pegou a xícara, mas o olhar dela estava em Alessandro, que se levantou devagar, os ombros tensos.
— Você… passou a noite aqui? – ela perguntou, a voz suave.
Ele suspirou e passou a mão pelo rosto.
— Sim, não está vendo? Vou sair para tomar um café. – O tom dele era frio, mas havia um cansaço que ela sentiu na voz. Alessandro saiu, fechando a porta com um leve estalo. Serena suspirou e começou a tomar o café em silêncio.
Quando Alessandro voltou, encontrou seus pais e Dona Alzira chegando. Eleonora foi a primeira a falar, a preocupação em cada ruga do seu rosto.
— Graças a Deus, o médico disse que ela vai ficar bem.
Inácio colocou a mão no ombro do filho.
— Meu filho, você está…
— Péssimo. Com o corpo doendo. Cansado. – Alessandro respondeu seco, cruzando os braços. O tom ríspido não surpreendeu ninguém. Estavam acostumados.
Eleonora e Alzira foram ver Serena. Inácio puxou o filho para o lado e, num tom baixo e preocupado, contou o que um empregado dissera sobre Silvino: que ele deliberadamente colocou Serena naquele cavalo que não era adestrado.
Alessandro gelou. Os olhos se estreitaram, um brilho de fúria surgindo.
— Aquele filho da p**a… ele fez isso de propósito. – Sua voz saiu grave, trincada de raiva. O maxilar dele se movia, tenso. – Vou agora mesmo falar com ele…
— Calma, meu filho. Serena precisa de você agora. – Inácio colocou a mão no braço dele, tentando conter a tempestade que via crescer nos olhos do filho.
— Que merda, pai… – Alessandro passou a mão pelos cabelos, a respiração pesada. – Tudo o que eu faço parece que volta para ela… de um jeito ou de outro.
Inácio suspirou, olhando o filho nos olhos.
— Vamos. Me leve até Serena.
Quando entraram no quarto, encontraram Eleonora e Alzira ao lado de Serena. Inácio, com um sorriso terno, falou baixo.
— Que susto, menina. Mas que bom que você está bem.
Serena sorriu, mas seus olhos foram direto para Alessandro, que estava escorado na parede, o rosto sombrio, os ombros caídos de cansaço. Ele parecia em guerra consigo mesmo – dividido entre a vontade de matar Silvino e o desejo de ficar ali, ao lado dela.
Nesse momento, uma enfermeira entrou.
— Com licença. Tem um rapaz querendo ver você, Serena. Ele disse que se chama Luiz Fernando.
Alessandro se endireitou num estalo, os olhos faiscando.
— Ah, que merda. Diz pra ele que não. – A voz dele cortante, como aço.
— Filho… – Eleonora começou, preocupada. Mas Alessandro só balançou a cabeça, tentando controlar o fogo que ardia dentro dele.
Inácio assentiu para a enfermeira. – Deixe-o entrar.
Luiz Fernando entrou timidamente, tirando o chapéu das mãos. Seus olhos se encheram de preocupação ao ver Serena.
— Com licença, patrão. – murmurou para Inácio. Mas logo se aproximou de Serena, segurando o chapéu junto ao peito. – Serena, como você está? Fiquei tão preocupado…
Serena sorriu, a voz doce.
— Estou bem, Luiz Fernando. Foi só um susto.
Ele olhou para a testa dela, o olhar cheio de preocupação.
— Você se machucou…– murmurou, estendendo a mão para segurar a dela. Mas Alessandro se levantou tão abruptamente que a cadeira rangeu.
— Não toque nela. – disse num tom baixo e ameaçador, os olhos fixos em Luiz Fernando.
Serena arregalou os olhos assustada. Luiz Fernando recuou um passo, o rosto tenso.
— Agora já pode sair. Já viu que a minha mulher está bem. Vai embora.– A voz de Alessandro soava como um trovão contido.
— Filho… – Inácio tentou intervir, mas Alessandro cortou:
— Saia. p***a.
—Alessandro, não faça isso…– Serena murmurou, a voz quase um sussurro.
Ele virou o rosto para ela, os olhos escuros como tempestade.
— Cala a boca, Serena. – O tom dele foi tão áspero que ela se encolheu.
A tensão no quarto era densa. Eleonora e Alzira trocaram olhares preocupados, e resolveram sair com Inácio e Luiz Fernando, deixando apenas Alessandro e Serena.
Quando ficaram a sós, ela o olhou assustada.
— O que foi? Que mania de me contrariar, Serena. A culpa é sua. Então não fique me olhando assim.
Ela baixou os olhos.
Horas depois, Serena recebeu alta. Alessandro a acompanhou até o carro, andando ao lado dela enquanto a enfermeira empurrava a cadeira de rodas. Quando chegaram, ele a ajudou a se levantar com cuidado. Prendeu o cinto dela com um gesto rápido e firme, depois fechou a porta e foi para o volante. O caminho de volta foi silencioso, a tensão pairando como uma nuvem n***a entre eles.
Chegaram à fazenda. Na varanda, Inácio conversava com Silvino, o advogado e alguns empregados. Quando Alessandro viu Silvino, algo nele explodiu.
Num instante, partiu para cima dele. Os punhos de Alessandro eram tempestade, chuva de socos e chutes. Silvino m*l teve tempo de reagir. Sangue jorrava do nariz, e os empregados tentavam separar Alessandro a mando de Inácio.
— Seu filho da p**a! Eu vou te matar! – Alessandro urrava, a voz grave e furiosa, cada soco carregado de ódio.
Serena, assustada, começou a chorar.
— Alessandro, por favor, para! – a voz dela soava quebrada, implorando.
Ele só parou quando Inácio gritou:
— Olha o estado de Serena!
Alessandro se virou, o peito arfando. Viu Serena abraçada a Dona Alzira, os olhos dela inchados de chorar. O sangue de Silvino pingava no chão. Alessandro soltou um suspiro pesado e se afastou de Silvino.
— Não quero mais ver você na minha frente. Nunca mais. – disse com a voz rouca, cheia de desprezo.
Ele olhou uma última vez para Serena, tão frágil nos braços de Dona Alzira, e sem dizer mais nada, virou as costas e foi para o quarto, o peito ainda em brasa.