Capítulo 13 - As consequências

1482 Words
Serena acordou com os olhos inchados e a cabe ça pesada. A noite fora um tormento, com pensamentos confusos e lágrimas incessantes. Decidiu que não iria à fazenda naquele dia. Com mãos trêmulas, escreveu um bilhete para Dona Alzira: "Não estou me sentindo bem hoje. Preciso de um dia de descanso, mas não se preocupe, não é nada grave." Depois de entregar o recado, voltou para a cama, abraçando o travesseiro enquanto soluços silenciosos escapavam. "Por que isso tinha que acontecer comigo?" pensava, sentindo-se perdida. --- Enquanto isso, na fazenda, Alessandro despertava com um humor incomumente leve. O sol entrava pelas janelas, iluminando o quarto luxuoso, e ele espreguiçou-se, satisfeito. "Finalmente está chegando a hora de ir embora", murmurou para si mesmo, um sorriso de canto brotando em seus lábios ao lembrar-se de Serena. "Até que foi uma estadia interessante... Serena até me surpreendeu. Quem sabe um dia..." Ele deu de ombros e riu sozinho. "Mas já valeu." Descendo as escadas em passos preguiçosos, Alessandro encontrou seus pais já à mesa na varanda. — Bom dia! — saudou com um tom despreocupado, pegando o seu café . — Bom dia, filho! — respondeu Eleonora, observando-o com curiosidade. — Está de ótimo humor hoje, não está? Inácio lançou-lhe um olhar avaliador e comentou com uma pitada de sarcasmo: — Claro que está feliz. Ele sabe que vai embora em breve. Já passou do tempo de começar a reclamar de novo. Confesso que até me surpreendi. Alessandro, divertido, levou seu café a boca e respondeu: — Até que foi interessante. Mas preciso admitir, estou ansioso para voltar à minha rotina. A conversa foi interrompida por Dona Alzira, que surgiu com uma bandeja. Antes que ela pudesse servir o café, Inácio a chamou. — Alzira, chame Serena, por favor. Quero agradecer pelo doce. Está perfeito. Dona Alzira ajustou o avental, parecendo hesitar antes de responder: — Ah, senhor, Serena não veio hoje. Mandou um recado dizendo que não está se sentindo bem. — Não está bem? — perguntou Eleonora, preocupada. — Mas ela está sozinha lá. Inácio franziu o cenho, sua voz grave refletindo preocupação. — Alzira, mande alguém buscá-la. Talvez precise de um médico. Alessandro, que até então parecia indiferente, levantou os olhos rapidamente, mas logo voltou a atenção para o prato, mantendo uma expressão neutra. A atmosfera ficou mais tensa quando Luiz Fernando apareceu na varanda, com o chapéu nas mãos e uma expressão séria. — Com licença, patrão. Preciso falar com o senhor. — No escritório. Depois do café — respondeu Inácio, sem levantar a cabeça. — Perdoe-me, mas é algo urgente. É sobre Serena. O nome dela fez com que todos na mesa parassem. Eleonora levou uma mão ao peito, enquanto Alzira cobriu a boca, aflita. — O que aconteceu com a menina? — perguntou Dona Alzira, já com os olhos marejados. Luiz Fernando apertou o chapéu nas mãos, a voz carregada de indignação. — Talvez quem possa explicar seja o Alessandro. Por que não conta, doutor? Ou quer que eu diga o que fez? Todos os olhos se voltaram para Alessandro, que continuava sentado, mastigando calmamente. Ele finalmente levantou o olhar, sua expressão mostrando um leve tom de aborrecimento. — Contar o quê? — perguntou, fingindo desinteresse. — Qual é mesmo o seu nome? Eleonora e Alzira trocaram olhares desesperados, enquanto Inácio cerrava os punhos sobre a mesa, o semblante carregado de fúria. — Alessandro, o que está acontecendo? — exigiu Inácio, a voz firme. Alessandro suspirou, inclinando-se na cadeira. — Não faço ideia. Mas parece que o drama está só começando. Luiz Fernando, tomado pela raiva, deu um passo à frente. — Como pode falar assim depois do que fez? Aproveitar-se de Serena, uma moça inocente e boa... — O quê? — rugiu Inácio, levantando-se de um salto. Eleonora segurou o braço do marido, mas ele já estava tomado pela fúria. Alessandro, no entanto, manteve-se tranquilo, inclinando-se para trás com um sorriso irônico. — Aproveitar? Não sei por que estão fazendo tanto alarde. Sim, fiquei com ela. E daí? Não é o fim do mundo. O silêncio caiu como uma bomba na varanda. Eleonora arregalou os olhos, horrorizada. Alzira levou as mãos ao rosto, enquanto Inácio avançava para o filho. — Eu te avisei! Disse para não se aproximar dela com intenções erradas! Serena não é como as mulheres que você está acostumado. Ela é diferente, com valores e costumes que você não respeita! Alessandro revirou os olhos e cruzou os braços, claramente impaciente. Seu tom era cheio de sarcasmo quando respondeu: — Na verdade, pai, não foi isso que pareceu quando fiquei com ela. Serena é exatamente igual a todas as outras. Não entendo por que tanta surpresa. Agora, com licença. Luiz Fernando, que estava ao lado, cerrou os punhos e respirou fundo, o maxilar travado. O respeito que tinha por Inácio e Eleonora era a única coisa que o impedia de avançar sobre Alessandro naquele momento. “Como pode falar assim de Serena?”, pensava, tentando se conter. Alessandro deu um passo para sair e arrematou com um sorriso cínico: — Preparei o terreno para você, Luiz Fernando. Vê se consegue algo lá. Riu com ironia, mas seu riso foi interrompido pela voz cortante de Inácio, que se aproximou de um salto. — Não dê mais um passo, Alessandro! — Sua voz estava carregada de uma fúria contida, e seus olhos brilhavam de decepção. — Como ousa falar assim de Serena? Eu não sei onde errei na sua criação. Você só pensa em si mesmo e nos seus prazeres egoístas. Nunca reflete sobre o m*l que causa aos outros! — Ah, pai, não começa! — Alessandro exclamou, exasperado, jogando as mãos para o alto. — Vocês estão fazendo drama por nada. É só mais uma mulher! Sem importância! O estalo ecoou pela sala. O tapa de Inácio atingiu o rosto de Alessandro, que virou o rosto com o impacto, os olhos agora estreitos e cheios de raiva. Eleonora, sentada, levantou-se num salto, desesperada. — Pelo amor de Deus, Inácio! Inácio apontou para Alessandro, a mão ainda tremendo. — Não se atreva nunca mais a falar dessa forma, Alessandro! — rugiu, ignorando a intervenção de Eleonora. — Você não é mais um garoto. Eu não vou mais permitir que você viva como um moleque irresponsável. — Eu vou sair agora mesmo, pai! — Alessandro disse, virando-se de costas. A voz de Inácio, porém, soou firme e ameaçadora: — Saia por aquela porta e hoje mesmo bloqueio todos os seus bens, incluindo a herança. Não se engane, meu filho. Não é uma ameaça. É uma promessa. O jovem parou imediatamente, cerrando os punhos. Eleonora correu até Alessandro, segurando seu braço, os olhos aflitos. — Meu filho, o que você fez a Serena? — perguntou, a voz tremendo. — Ela não é como essas moças que você está acostumado. Você pode destruir a vida dela! Alessandro se desvencilhou do toque da mãe com impaciência, suspirando irritado. — Drama por nada. Preparei ela para a realidade, mãe. Tudo foi consensual. Eu não forcei nada. Inácio cerrou os olhos, como quem tomava uma decisão difícil, mas necessária. — Alessandro, venha ao meu escritório agora. Precisamos resolver isso. Sem outra opção, Alessandro foi, bufando e balançando a cabeça. Quando chegou ao escritório, jogou-se na cadeira, encarando o pai com arrogância. — O que foi agora? Inácio o olhou nos olhos, seu semblante era de aço. — Você vai se casar com Serena. Alessandro riu, incrédulo. — Está louco? Eu? Casar com ela? Você perdeu o juízo! — Perdi mesmo, Alessandro — respondeu Inácio, cruzando os braços. — E já estou cansado. Você vai se casar com Serena, ou perderá tudo. Seu dinheiro, seu conforto, sua herança. Quero ver até onde vai sua arrogância sem a fortuna que sustenta seu estilo de vida. Alessandro arregalou os olhos, tentando captar alguma hesitação no rosto do pai, mas Inácio permanecia firme. — Isso não é sério... — Teste para descobrir — respondeu o pai, impassível. — Ou você se casa, ou eu dou fim à sua vida de luxo. Respirando fundo, Alessandro finalmente respondeu, com raiva evidente em cada palavra: — Tudo bem. Eu caso com a garota. Ele saiu batendo a porta, deixando Inácio sentado em silêncio, o peso da decisão sobre seus ombros. Eleonora entrou logo depois, os olhos marejados. — Inácio, isso é uma loucura. E Serena? Ela pode sofrer muito com isso. Inácio a encarou com firmeza. — É nossa última chance de salvar nosso filho. Serena tem um coração bom. Talvez ela consiga mudar Alessandro. No quarto, Alessandro andava de um lado para o outro, pensando no que acabara de aceitar. Uma luta interna se desenrolava nele: a raiva de ser controlado pelo pai e a certeza de que não havia escapatória. Ele murmurou para si mesmo, com um sorriso amargo: — Essa loucura definitivamente está no sangue da família.
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