A sala principal da casa estava silenciosa, quebrada apenas pelo som distante de passarinhos cantando do lado de fora e o tique-taque discreto de um relógio antigo na parede. Era uma sala ampla, com móveis rústicos, sofás de couro escuro e grandes janelas por onde entrava a luz suave da manhã. Alessandro estava sentado em uma das poltronas, a postura tensa, o olhar fixo em nada enquanto seu pai, Inácio, se aproximava com passos lentos, mas firmes.
— Meu filho… — disse Inácio, cruzando os braços e encarando Alessandro com seriedade. — Preciso falar com você.
Alessandro passou a mão pelos cabelos com impaciência, bufando como se já soubesse o assunto.
— Pai… por favor. Não começa. Não tô com cabeça pra isso agora.
— É sobre o seu casamento — continuou o pai, ignorando a resistência dele.
Alessandro revirou os olhos, recostando-se no encosto da poltrona com um sorriso sarcástico.
— Eu já disse que não quero escutar. Já sabemos como essa história termina, não é?
— Alessandro! — o tom de Inácio subiu um pouco, firme, cortando o deboche do filho. — Eu sou seu pai. E preciso te falar, porque vejo que você não tá sabendo lidar com isso. E imagino que, pra você, deva estar sendo… difícil.
Alessandro o olhou de esguelha, apertando os lábios com força.
— Claro que está sendo difícil, pai. Não estava nos meus planos me casar. Ainda mais dessa forma. — Sorriu com amargura. — E se não fosse por você…
— Eu não estou falando do casamento em si — interrompeu Inácio com voz grave. — Estou falando de você ter se apaixonado pela Serena.
As palavras caíram como uma bomba. O olhar de Alessandro se fixou no pai, os olhos semicerrados, como se tentasse decifrar o que acabara de ouvir. Ele abriu a boca para responder, mas nada saiu.
Inácio continuou, aproveitando o silêncio:
— Você sempre foi acostumado a mandar, a decidir tudo sem considerar ninguém. Sempre foi impulsivo, arrogante… egoísta. Mas agora… — deu um passo mais perto — Agora você está perdido. E talvez nem tenha percebido. Mas eu percebi, Alessandro. Porque conheço esse olhar. Você não sabe lidar com o que sente.
— Pai… você está exagerando — murmurou Alessandro, com a voz vacilante.
— Não estou. — Inácio o encarou de frente, com olhos duros, mas sinceros. — A Serena era só uma sombra, um nome no meio da obrigação. Um contratempo. Mas agora… agora ela se tornou a tempestade que você não pode conter. E que vai te arrastar até você aprender a amar… ou se perder de vez.
Alessandro engoliu em seco, o coração batendo mais rápido. Seu peito começou a doer com o peso daquelas palavras. Ele abriu a boca para contestar, mas foi interrompido por passos suaves vindos do corredor.
— Bom dia… — disse Serena com a voz baixa, entrando na sala com uma bandeja nas mãos. Ela olhou primeiro para Inácio e depois para Alessandro, de forma delicada, porém visivelmente hesitante.
Usava um vestido claro e simples, os cabelos presos em um coque solto. Havia um ar de fragilidade em seu rosto, mas seus olhos carregavam uma profundidade que fazia Alessandro desviar o olhar por um instante.
— Eu trouxe café pra vocês — disse, depositando a bandeja na mesinha de centro com cuidado.
Alessandro a observou em silêncio por alguns segundos, ainda sob o peso da conversa com o pai. Sua expressão era fechada, mas seus olhos a seguiam com atenção.
— Não é sua função servir café, Serena — disse ele, com a voz baixa e seca, tentando manter o tom indiferente.
Ela sorriu de leve.
— Ah… mas eu quis. Não vejo problema nenhum em fazer isso — respondeu, sentando-se ao lado dele com naturalidade.
Inácio observava os dois em silêncio, como quem assiste o início de algo que os próprios protagonistas ainda não percebem.
Alessandro, por sua vez, olhava para Serena como se a visse pela primeira vez. As palavras do pai ainda martelavam em sua mente. A tempestade. A sombra que se tornou algo maior. A mulher que, mesmo em meio à dor, ainda lhe trazia café e sorrisos gentis.
Ele apertou as mãos sobre os joelhos, lutando com algo dentro de si que não conseguia nomear.
Serena em silêncio, sentindo o ar entre eles se tornar mais denso. Ela engoliu em seco e desviou o olhar, o coração acelerado, sentindo que algo havia mudado.
Inácio se levantou discretamente e, com um olhar cúmplice para o filho, disse:
— Vou deixar vocês a sós. Às vezes, a gente só precisa escutar o que o coração já sabe… e parar de lutar contra ele.
E então saiu da sala, deixando para trás duas almas que, embora perdidas, se buscavam sem admitir.
Alessandro ficou ali, ao lado de Serena, tentando entender o que se passava dentro de si.