Alessandro se levantou da cama após o momento intenso com Serena. Seu corpo ainda carregava vestígios do calor que haviam compartilhado, mas sua expressão estava séria e fria. O som de uma notificação no celular chamou sua atenção, e ele pegou o aparelho na mesinha ao lado da cama.
Ao ler a mensagem do advogado, seu rosto fechou de imediato. As palavras sobre compromissos impostos por seu pai e a menção ao "dever" com Serena o atingiram como um soco no estômago. Uma irritação evidente surgiu em seu semblante, e ele passou as mãos pelo rosto, tentando controlar a raiva que subia rapidamente.
Ele se virou para Serena, que ainda estava sentada na cama, tentando se cobrir com o lençol. Seus olhos estavam cheios de expectativa, mas Alessandro a cortou com um tom seco e indiferente:
— Pode ajeitar sua cama no sofá. Vou tomar banho.
A mudança abrupta no comportamento dele a deixou desnorteada. Serena abriu a boca, tentando dizer algo, mas desistiu. Assentiu em silêncio, sentindo um nó apertar em sua garganta. Enquanto ele se afastava em direção ao banheiro, ela se perguntava o que poderia ter acontecido para ele voltar àquela frieza tão familiar. Um instante antes, acreditava que algo havia mudado entre eles, mas aquele momento de esperança desapareceu como um vapor.
Sozinha, Serena suspirou e levantou-se da cama ainda enrolada no lençol. Quando Alessandro saiu do banheiro, ignorou-a completamente, e ela aproveitou para tomar um banho rápido, tentando se livrar da sensação de desamparo que parecia crescer dentro dela.
Ao voltar, vestida com simplicidade, Serena se aproximou do sofá para arrumá-lo como cama. O olhar de Alessandro a acompanhou por um momento, mas era impossível decifrar o que ele sentia. Ela pensou em confrontá-lo, perguntar o que havia mudado, mas o medo de piorar a situação a fez recuar.
Deitado na cama, Alessandro observou-a com uma expressão indecifrável. Parte dele sentia uma faísca de arrependimento ao vê-la encolhida, tão vulnerável. Mas logo afastou esse pensamento, lembrando a si mesmo que ela era uma peça no jogo que seu pai havia armado. A irritação voltou com força, e ele se virou, decidindo ignorar o desconforto que sentia.
Já Serena, enrolada no cobertor fino do sofá, deixou que as lágrimas escorressem silenciosamente. Cada soluço era abafado pelo travesseiro, enquanto sua mente revisitava as palavras frias de Alessandro e os momentos que, para ela, haviam sido tão reais. Eventualmente, o cansaço a venceu, e ela adormeceu, ainda sentindo o peso da humilhação.
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Na manhã seguinte, Serena acordou sobressaltada. O sol já estava alto, e ela percebeu que havia dormido demais. Hoje era dia de prova, e ela sabia que precisava correr. Ao olhar para a cama, notou que Alessandro já havia saído. Um resquício de dor surgiu em seu peito ao lembrar da noite anterior, mas ela afastou o pensamento, concentrando-se em se arrumar rapidamente.
Ao descer para a sala, encontrou Alessandro e Eleonora conversando.
— Bom dia — disse Serena, tentando soar tranquila.
Eleonora sorriu calorosamente:
— Não vai tomar café, querida?
— Estou atrasada, senhora. Com licença, já vou.
Eleonora olhou para Alessandro com uma sobrancelha arqueada:
— Filho, não vai levá-la?
Alessandro hesitou por um instante, mas logo se levantou com um sorriso falso:
— Claro. Serena geralmente vai de táxi, mas já que está atrasada, por que não?
— Não precisa, eu posso ir de táxi mesmo — disse Serena, tentando evitar a tensão.
— Claro que precisa, amor — Alessandro rebateu com um tom cortante, gesticulando para que ela o seguisse.
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No carro, o silêncio era pesado. Serena, nervosa, arriscou um olhar para Alessandro, que dirigia com o maxilar tenso. Finalmente, ela tomou coragem:
— Alessandro... aconteceu algo? Você mudou depois que...
Ele riu, mas o som estava carregado de ironia:
— Não, Serena. Eu não mudei. Eu sou assim.
— Mas... — ela tentou continuar, sua voz falhando de leve.
Ele a cortou bruscamente, sua voz tão fria quanto gelo:
— O que você esperava? Flores? Amor eterno?
O olhar que ele lançou a ela era afiado, como uma lâmina. Serena engoliu em seco, com os olhos um pouco arregalados.
— Mas olha — ele continuou, com uma pitada de sarcasmo —, quando quiser mais momentos como aquele, ou seja, sexo, estarei disposto.
— Alessandro... — Serena começou, a voz embargada. — Eu já disse que não sou assim. Eu gosto de você e...
— Não espere nada de mim além disso — ele respondeu, cortando qualquer esperança que ela pudesse ter, seus olhos fixos nela como se quisesse garantir que a mensagem fosse clara. — Pronto, chegamos.
Ele parou o carro abruptamente. Serena desceu, os olhos cheios de lágrimas que ela segurou com todas as forças. Quando Alessandro arrancou o carro, ela ficou ali parada, tentando processar as palavras cruéis que ele havia dito.
Serena ouviu alguém chamá-la e virou-se rapidamente. Era Miguel e Alice, aproximando-se com expressões de preocupação.
— Serena, tá tudo bem? — perguntou Alice, franzindo as sobrancelhas.
— O-oi... sim, está sim. Só estava distraída — respondeu Serena, forçando um sorriso. Seus olhos ainda estavam ligeiramente vermelhos, mas ela desviou o olhar, tentando não chamar atenção.
Miguel sorriu de forma reconfortante e apontou para a entrada da sala.
— Vamos? A prova já vai começar.
Enquanto caminhavam, Miguel observou Serena de soslaio, como se pudesse sentir a tensão que ela tentava disfarçar. Quando chegaram em frente à sala, ele parou e a encarou com uma expressão séria, mas gentil.
— Boa prova, Serena — disse ele, com um leve sorriso.
Ela o olhou com gratidão nos olhos e respondeu, com um tom mais calmo:
— Obrigada, Miguel. E obrigada pela ajuda também.
Ambos entraram na sala, e Serena respirou fundo, tentando afastar as emoções que Alessandro tinha despertado mais cedo. Apesar disso, ela conseguiu se concentrar e a prova transcorreu sem problemas.
Quando saiu, Miguel já a aguardava do lado de fora. Ele parecia ansioso para saber como ela havia se saído.
— E aí? Como foi a prova, Serena? — perguntou, inclinando-se levemente para escutar melhor.
Serena sorriu, um pouco mais relaxada agora.
— Consegui. E só tenho a agradecer a você pela paciência. Miguel, obrigada mesmo.
Sem pensar, Miguel a puxou para um abraço caloroso, rindo com entusiasmo.
— O mérito é todo seu! Eu só dei uns empurrõezinhos.
Surpresa, Serena hesitou por um segundo antes de retribuir o gesto, sorrindo. Alice se aproximou naquele instante, observando os dois com um olhar divertido.
— Pelo visto, a prova foi ótima! — comentou Alice, cruzando os braços e piscando para Serena.
— Foi sim, amiga — respondeu Serena, rindo.
Alice abraçou Serena também, dizendo:
— Temos que comemorar! Que tal hoje?
Serena lembrou-se do compromisso com Eleonora e respondeu, um pouco sem graça:
— Pode ser amanhã? Hoje eu já combinei algo...
— Ah, claro! — disse Alice, e Miguel assentiu em concordância.
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Mais tarde, Serena chegou ao apartamento, onde Eleonora já a aguardava com um sorriso acolhedor.
— Vamos, querida. Amanhã eu volto para casa, mas hoje temos um dia cheio para você — disse Eleonora, conduzindo Serena até a porta.
No shopping, Serena ficou impressionada com o luxo e a grandiosidade do lugar, mas tentou disfarçar a surpresa, mantendo uma postura neutra. Quando experimentou a primeira roupa, Eleonora soltou um suspiro de aprovação, seus olhos brilhando.
— Menina, você está perfeita! — exclamou, admirando Serena no espelho.
Depois de escolherem várias peças e acessórios, Eleonora declarou com satisfação:
— Pronto. Agora tem roupa para todas as ocasiões.
Antes que Serena pudesse protestar, Eleonora já a estava levando ao salão de beleza.
— Senhora, acho que já gastou demais comigo... Não precisa... — começou Serena, hesitante.
— Isso não é nada, minha querida. Hoje é o seu dia! Você precisa se parecer com uma verdadeira Castellani — respondeu Eleonora, com firmeza, mas um sorriso caloroso.
No salão, Serena passou por uma transformação completa: unhas feitas, cabelo hidratado, e até uma limpeza de pele. Quando enfim voltaram para o apartamento, já era noite.
Alessandro estava parado em frente à grande parede de vidro, segurando um copo de bebida na mão, seus olhos fixos na cidade iluminada. Ao ouvir a porta, ele se virou lentamente, seu olhar encontrando o de Eleonora.
— Olá, meu filho! Olhe para sua esposa. Não está linda? Você precisa vê-la com as roupas novas! — disse Eleonora, animada.
Alessandro aproximou-se com passos controlados e um sorriso ensaiado.
— Amor, está linda. Fez até as unhas. Mais linda do que já é — disse ele, com um tom que soava quase genuíno, mas seus olhos mostravam outra coisa: uma frieza calculada. Embora seu sorriso fosse para manter as aparências, seus olhos a observaram com algo que ele não admitiria: admiração misturada com frustração.
Serena, envergonhada, congelou por um momento. O olhar dele era um lembrete mudo para que ela mantivesse o papel. Ela rapidamente se recompôs e respondeu, forçando um sorriso:
— Ah, obrigada, amor. Tudo obra da sua mãe.
Eleonora sorriu, satisfeita.
— Ótimo. Já vou descansar. Boa noite para vocês!
Assim que Eleonora saiu, o sorriso de Alessandro desapareceu. Ele cruzou os braços e a encarou com seriedade.
— O que aconteceu com você? Por pouco minha mãe não percebeu. Tenha mais cuidado, Serena. Não complique ainda mais as coisas.
Serena baixou os olhos, sentindo o peito apertar, mas não respondeu. Alessandro deu meia-volta e foi para o quarto sem dizer mais nada.