A manhã na fazenda Castellani estava especialmente bonita, com o sol iluminando os campos e o ar carregando o perfume das flores. Serena caminhava apressada, segurando uma cesta com frutas frescas que levaria para a cozinha.
Quando passou pela varanda principal, seus olhos captaram Alessandro conversando com visitantes: o senhor Alencastro, dono de uma fazenda vizinha, e sua filha, Betina.
Betina era conhecida pela sociedade local por sua ambição desmedida, e seu interesse em Alessandro era quase palpável. O pai incentivava esse interesse com um objetivo claro: um possível enlace com os Castellani, o que traria um aumento significativo no prestígio e nas riquezas da família Alencastro.
Serena hesitou em continuar seu caminho ao perceber os olhos de Alessandro virando-se para ela. No entanto, antes que pudesse sair despercebida, ele a chamou com um tom de voz distante:
— Garota, traga algo para beber à senhorita Betina.
O coração de Serena apertou com o tom indiferente. Como ele podia falar assim, especialmente depois da proximidade que tinham compartilhado no dia anterior? Disfarçando sua decepção, ela respondeu educadamente:
— Bom dia. Já trago algo para beberem. Com licença.
Enquanto preparava o suco na cozinha, Serena respirava fundo, tentando acalmar o turbilhão de sentimentos que Alessandro despertava nela.
Quando voltou para a varanda, encontrou Alessandro e Betina rindo juntos. A visão a incomodou, mas ela se manteve firme, servindo a bebida com gestos delicados.
Betina, com um sorriso de desdém, aproveitou o
momento para alfinetar:
— Espero que tenha lavado as mãos, garota. Não queremos ser contaminados por essa sua imundície.
Os olhos de Serena faiscaram, mas ela tentou manter a compostura. Respondeu com firmeza:
— Senhorita, se não quiser o suco, não precisa tomar. Mas garanto que minhas mãos estão mais limpas que sua língua.
Betina arregalou os olhos, chocada com a resposta, enquanto Alessandro recostava-se na cadeira, um sorriso divertido dançando em seus lábios.
— Como ousa?! — Betina explodiu. — Alessandro, essa selvagem sem modos está me insultando!
— Sem modos é você, que não sabe tratar as pessoas — rebateu Serena, sem baixar o olhar.
A tensão na varanda atingiu seu ápice quando Betina, furiosa, desferiu um golpe ainda mais baixo:
— Seu avô deve ter morrido de desgosto por ter uma neta como você!
Serena congelou por um momento. A dor e a raiva tomaram conta dela. Seu avô Joaquim, que a criara com tanto amor, era a figura mais importante de sua vida, e ouvir isso foi demais. Sem pensar, avançou sobre Betina, agarrando seus cabelos.
— Não fale do meu avô, sua cobra!
O alvoroço atraiu a atenção de todos. Alessandro permaneceu sentado observando a cena como se fosse um espetáculo pessoalmente encomendado.
O senhor Inácio chegou apressado, alarmado:
— O que está acontecendo aqui?! Serena!
Alessandro finalmente se levantou, arrastando Serena para longe de Betina com uma calma irritante. Betina, chorosa e dramática, correu para os braços do pai:
— Papai, essa selvagem me atacou!
O senhor Alencastro exigiu satisfações, mas Inácio, conhecendo Serena como poucos, interveio:
— Serena, o que houve?
Com a voz trêmula, ela respondeu:
— Senhor Inácio, ela... me insultou. Eu...
— Vá se acalmar, Serena — ordenou ele, com firmeza, mas também com compreensão.
Serena assentiu, fugindo para a cozinha enquanto as desculpas eram feitas ao senhor Alencastro.
Betina, ainda furiosa, não poupou críticas:
— Essa garota é um perigo, senhor Inácio. Ela não tem modos e não deveria estar aqui!
Inácio, no entanto, respondeu com paciência:
— Serena está passando por um momento difícil. Essa foi sua forma de se defender, mas garanto que aprenderá a lidar melhor com essas situações.
Enquanto isso, na cozinha, Serena chorava silenciosamente. Dona Alzira, sempre maternal, se aproximou e a envolveu em um abraço apertado.
— O que aconteceu, menina?
— Ela insultou meu avô... eu perdi a cabeça, dona Alzira.
— Não deixe Betina te atingir, Serena. Ela é venenosa. Você é melhor que isso.
Mais tarde, enquanto organizava a cozinha, Serena ouviu seu nome ser chamado por Eleonora, a matriarca da família Castellani.
— Serena, soube do que aconteceu. Está tudo bem? — perguntou Eleonora, com um olhar misto de autoridade e empatia.
— Sim, senhora. E peço desculpas pelo ocorrido.
— Não se desculpe comigo. Apenas evite que se repita. Violência nunca é a solução.
Serena assentiu, sentindo-se ainda mais deslocada naquele ambiente.
Enquanto isso, no quarto, Alessandro falava ao telefone com um sorriso de escárnio:
— A garota que mencionei... Serena. Selvagem e brava como um potro indomado. Vai ser minha distração por um tempo.
Lucas, do outro lado da linha, riu.
— Boa sorte com ela, então.
Na cozinha, Serena tentava retomar o fôlego, mas o som da voz de Alessandro a fez saltar da cadeira.
— Ei, garota — ele chamou, encostado na porta com um sorriso enigmático.
— Ah, oi! — respondeu Serena, colocando a mão no peito pelo susto. — Deseja algo?
— Nosso piquenique. Já esqueceu?
— A-a-ah, eu... achei que não íamos mais...
Alessandro inclinou-se, olhando-a fixamente.
— Estou te esperando lá fora.
O coração de Serena batia descompassado enquanto ela preparava a cesta. O que aquele homem estava fazendo com ela? E por que, apesar de tudo, uma parte de sua alma queria descobrir?