Capítulo 6 - Entre Ofensas e Desejos

873 Words
A manhã na fazenda Castellani estava especialmente bonita, com o sol iluminando os campos e o ar carregando o perfume das flores. Serena caminhava apressada, segurando uma cesta com frutas frescas que levaria para a cozinha. Quando passou pela varanda principal, seus olhos captaram Alessandro conversando com visitantes: o senhor Alencastro, dono de uma fazenda vizinha, e sua filha, Betina. Betina era conhecida pela sociedade local por sua ambição desmedida, e seu interesse em Alessandro era quase palpável. O pai incentivava esse interesse com um objetivo claro: um possível enlace com os Castellani, o que traria um aumento significativo no prestígio e nas riquezas da família Alencastro. Serena hesitou em continuar seu caminho ao perceber os olhos de Alessandro virando-se para ela. No entanto, antes que pudesse sair despercebida, ele a chamou com um tom de voz distante: — Garota, traga algo para beber à senhorita Betina. O coração de Serena apertou com o tom indiferente. Como ele podia falar assim, especialmente depois da proximidade que tinham compartilhado no dia anterior? Disfarçando sua decepção, ela respondeu educadamente: — Bom dia. Já trago algo para beberem. Com licença. Enquanto preparava o suco na cozinha, Serena respirava fundo, tentando acalmar o turbilhão de sentimentos que Alessandro despertava nela. Quando voltou para a varanda, encontrou Alessandro e Betina rindo juntos. A visão a incomodou, mas ela se manteve firme, servindo a bebida com gestos delicados. Betina, com um sorriso de desdém, aproveitou o momento para alfinetar: — Espero que tenha lavado as mãos, garota. Não queremos ser contaminados por essa sua imundície. Os olhos de Serena faiscaram, mas ela tentou manter a compostura. Respondeu com firmeza: — Senhorita, se não quiser o suco, não precisa tomar. Mas garanto que minhas mãos estão mais limpas que sua língua. Betina arregalou os olhos, chocada com a resposta, enquanto Alessandro recostava-se na cadeira, um sorriso divertido dançando em seus lábios. — Como ousa?! — Betina explodiu. — Alessandro, essa selvagem sem modos está me insultando! — Sem modos é você, que não sabe tratar as pessoas — rebateu Serena, sem baixar o olhar. A tensão na varanda atingiu seu ápice quando Betina, furiosa, desferiu um golpe ainda mais baixo: — Seu avô deve ter morrido de desgosto por ter uma neta como você! Serena congelou por um momento. A dor e a raiva tomaram conta dela. Seu avô Joaquim, que a criara com tanto amor, era a figura mais importante de sua vida, e ouvir isso foi demais. Sem pensar, avançou sobre Betina, agarrando seus cabelos. — Não fale do meu avô, sua cobra! O alvoroço atraiu a atenção de todos. Alessandro permaneceu sentado observando a cena como se fosse um espetáculo pessoalmente encomendado. O senhor Inácio chegou apressado, alarmado: — O que está acontecendo aqui?! Serena! Alessandro finalmente se levantou, arrastando Serena para longe de Betina com uma calma irritante. Betina, chorosa e dramática, correu para os braços do pai: — Papai, essa selvagem me atacou! O senhor Alencastro exigiu satisfações, mas Inácio, conhecendo Serena como poucos, interveio: — Serena, o que houve? Com a voz trêmula, ela respondeu: — Senhor Inácio, ela... me insultou. Eu... — Vá se acalmar, Serena — ordenou ele, com firmeza, mas também com compreensão. Serena assentiu, fugindo para a cozinha enquanto as desculpas eram feitas ao senhor Alencastro. Betina, ainda furiosa, não poupou críticas: — Essa garota é um perigo, senhor Inácio. Ela não tem modos e não deveria estar aqui! Inácio, no entanto, respondeu com paciência: — Serena está passando por um momento difícil. Essa foi sua forma de se defender, mas garanto que aprenderá a lidar melhor com essas situações. Enquanto isso, na cozinha, Serena chorava silenciosamente. Dona Alzira, sempre maternal, se aproximou e a envolveu em um abraço apertado. — O que aconteceu, menina? — Ela insultou meu avô... eu perdi a cabeça, dona Alzira. — Não deixe Betina te atingir, Serena. Ela é venenosa. Você é melhor que isso. Mais tarde, enquanto organizava a cozinha, Serena ouviu seu nome ser chamado por Eleonora, a matriarca da família Castellani. — Serena, soube do que aconteceu. Está tudo bem? — perguntou Eleonora, com um olhar misto de autoridade e empatia. — Sim, senhora. E peço desculpas pelo ocorrido. — Não se desculpe comigo. Apenas evite que se repita. Violência nunca é a solução. Serena assentiu, sentindo-se ainda mais deslocada naquele ambiente. Enquanto isso, no quarto, Alessandro falava ao telefone com um sorriso de escárnio: — A garota que mencionei... Serena. Selvagem e brava como um potro indomado. Vai ser minha distração por um tempo. Lucas, do outro lado da linha, riu. — Boa sorte com ela, então. Na cozinha, Serena tentava retomar o fôlego, mas o som da voz de Alessandro a fez saltar da cadeira. — Ei, garota — ele chamou, encostado na porta com um sorriso enigmático. — Ah, oi! — respondeu Serena, colocando a mão no peito pelo susto. — Deseja algo? — Nosso piquenique. Já esqueceu? — A-a-ah, eu... achei que não íamos mais... Alessandro inclinou-se, olhando-a fixamente. — Estou te esperando lá fora. O coração de Serena batia descompassado enquanto ela preparava a cesta. O que aquele homem estava fazendo com ela? E por que, apesar de tudo, uma parte de sua alma queria descobrir?
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