O sol m*l havia dissipado a neblina quando Alessandro Castellani já estava na sala, sentado à mesa tomando seu café amargo. Vestia uma camisa branca com os primeiros botões abertos, e o cenho franzido denunciava sua irritação enquanto falava ao celular. A impaciência em sua voz preenchia o ambiente silencioso da casa.
— Eu pedi esses relatórios ontem, Patrícia. Não é a primeira vez que preciso repetir as mesmas coisas — dizia ele em tom ríspido e firme, pressionando os dedos contra a têmpora.
Serena entrou na sala alguns instantes depois, usando um vestido leve de algodão. Seus passos eram suaves, mas ainda assim Alessandro ergueu os olhos brevemente antes de voltar o foco para a chamada. Ela se aproximou da mesa e sentou-se com delicadeza, servindo-se de uma xícara de café com leite. Enquanto mexia a bebida, o observava com uma mistura de cautela e curiosidade.
Assim que ele desligou o telefone com um suspiro irritado, Serena aproveitou o momento de silêncio para fazer a pergunta que a inquietava desde a noite anterior.
— Alessandro... por que essa decisão repentina de irmos para a fazenda? — perguntou com a voz baixa, tentando não soar invasiva. — Tem negócios a resolver com seu pai?
Ela ensaiou um sorriso discreto, quase tímido. Em parte, sentia-se feliz. Estava com saudades da tranquilidade do campo e, com o fim das provas na faculdade, enfim teria alguns dias de descanso.
Alessandro levantou o olhar lentamente. Seus olhos escuros traziam uma expressão de tédio e incômodo. Recostou-se na cadeira, cruzou os braços e soltou um suspiro impaciente antes de responder, com frieza:
— Pois é... infelizmente — disse, com um leve sarcasmo no tom. — Parece que está cada vez mais difícil evitar aquele lugar entediante. Sim, tenho algumas pendências com meu pai, mas sei muito bem que o verdadeiro motivo de ele nos querer lá é outro. Ele quer ver de perto a nossa relação... avaliar, conferir se eu estou te tratando bem o suficiente.
Ele a encarou por um instante, o olhar firme e sem qualquer vestígio de suavidade, antes de completar:
— Então você já sabe o que tem que fazer. Só tenta não piorar as coisas, Serena.
Serena baixou os olhos, sentindo um aperto no peito. Sua voz saiu quase num sussurro, embargada:
— Sim...
O silêncio que se seguiu foi denso e desconfortável. Alessandro a observou por alguns segundos, os olhos duros, mas com uma sombra sutil de algo mais difícil de decifrar — talvez dúvida, talvez um cansaço que ele não sabia como nomear.
Nesse momento, Dirce, a empregada, surgiu na porta com as mãos unidas à frente do avental impecavelmente limpo.
— Senhor Alessandro — disse respeitosamente —, as malas da senhora Serena e as suas já estão no carro. Deseja mais alguma coisa?
Alessandro respondeu sem sequer virar completamente o rosto. Seu tom era curto e cortante:
— Não.
Dirce então se voltou para Serena com um sorriso gentil:
— Deseja algo, senhora?
Serena forçou um sorriso frágil.
— Não, obrigada, Dirce.
Alessandro se levantou em silêncio. O movimento foi calmo, mas sem qualquer traço de afeição ou delicadeza.
— Esteja pronta em vinte minutos — ordenou, antes de sair da sala com passos firmes e decididos.