A manhã surgiu radiante, com o sol iluminando a vasta e tranquila paisagem da fazenda. Serena despertou ao som dos pássaros, sentindo-se grata por mais um dia. Espreguiçou-se preguiçosamente, e um sorriso tímido surgiu em seus lábios enquanto ela observava os primeiros raios de sol tingindo o céu em tons dourados pela pequena janela do barraco.
— Que manhã linda... Obrigada, Deus, por mais um dia assim — murmurou, a voz carregada de esperança.
Depois de tomar um banho rápido no banheiro improvisado, estremecendo ao toque gelado da água, Serena vestiu um vestido simples e saiu rumo à fazenda.
Caminhava descalça, com os pés tocando a terra macia. No caminho, admirava as flores que cresciam à beira do caminho e conversava com os pássaros que voavam ao seu redor, em evidente bom humor.
Enquanto isso, na casa grande, Alessandro estava no escritório, ao telefone com Lucas.
— Cara, isso aqui é um tédio. Não sei como meu pai consegue gostar tanto deste lugar — disse, a voz repleta de impaciência.
Lucas, com um tom de zombaria, respondeu:
— Quem sabe você não encontra algo para te distrair? Vai que aparece alguma coisa interessante.
Alessandro soltou uma risada cínica, mas as palavras do amigo ecoaram em sua mente. Ah, Lucas, se tivesse algo, eu já teria encontrado.
Ele encerrou a ligação com um suspiro e jogou o celular sobre a mesa.
Mais tarde, Serena foi chamada para servir o almoço na sala de jantar. Nervosa, ajeitou o avental e respirou fundo antes de entrar. Ao abrir a porta, viu Alessandro sentado à mesa com seus pais. A presença dele, embora tranquila, fez o coração dela acelerar.
— Boa tarde. Espero que tenham uma ótima refeição — disse Serena, a voz suave, mas respeitosa.
O senhor Inácio e dona Eleonora retribuíram o sorriso educadamente, mas Alessandro sequer pareceu notá-la. Ele mexia no talher de forma desinteressada, como se o momento não tivesse importância.
Na cozinha, Alzira, a cozinheira, notou o semblante pensativo de Serena.
— Está com a cabeça longe, menina. Aconteceu alguma coisa? — perguntou, com um leve sorriso.
— Não, dona Alzira. Só achei que o filho dos patrões parecia... incomodado. Espero que não tenha sido por causa da comida — respondeu Serena, ajeitando os pratos.
Alzira riu.
— Alessandro? Ah, menina, ele não se incomoda com comida, não. O que incomoda aquele rapaz é estar aqui na fazenda.
Mais tarde, Serena foi levar o café ao senhor Inácio no escritório. Não percebeu imediatamente que Alessandro estava ali, sentado casualmente no sofá. O olhar dele a encontrou antes mesmo que ela notasse, e um sorriso lento surgiu em seus lábios.
— Serena, sirva meu filho também, por favor — pediu o senhor Inácio, enquanto folheava alguns papéis.
Sem jeito, Serena aproximou-se de Alessandro. Não entendia por que se sentia tão desconcertada na presença dele.
— Boa tarde, senhor Alessandro. Aceita um café?
Ele a observou por alguns segundos, analisando sua expressão.
— Por que não? — respondeu, com um sorriso carregado de malícia.
Quando o pai se afastou para atender uma ligação, Alessandro inclinou-se levemente na direção dela.
— Você sempre é tão obediente? — perguntou, com a voz baixa e provocativa.
Serena sentiu o rosto queimar, mas disfarçou.
— Eu apenas tento fazer bem meu trabalho, senhor.
Antes que pudesse responder, o senhor Inácio retornou. Serena aproveitou a oportunidade para sair rapidamente.
— Com licença, qualquer coisa estarei na cozinha — disse, fechando a porta atrás de si.
Mais tarde, Alessandro, sentado na varanda, observava o horizonte quando avistou Serena no jardim, colhendo tomates. Seus movimentos eram leves, quase dançantes, enquanto ela cantarolava uma melodia suave. Havia algo nela que chamava sua atenção, embora ele não soubesse dizer o quê.
Ele ajeitou a camisa e desceu os degraus.
— Ei, garota!
Serena virou-se, surpresa pela voz firme.
— Meu nome é Serena, senhor.
— Que seja. Preciso de algo para beber.
— Vou preparar agora mesmo.
Enquanto ela se afastava, Alessandro a observou, intrigado pelo contraste entre sua simplicidade e as mulheres sofisticadas que costumava conhecer. Seus pés descalços tocavam suavemente a grama, e o vestido modesto movia-se ao vento.
Pouco depois, Serena retornou com a bebida.
— Aqui está, senhor.
Alessandro pegou o copo, mas seus olhos não deixaram os dela.
— Você parece gostar muito desse lugar.
— Gosto muito, senhor. Sempre vivi aqui, e acho a fazenda cheia de vida e beleza.
Ele arqueou uma sobrancelha, intrigado.
— Beleza? Parece que estamos falando de lugares diferentes. Isso aqui é pura monotonia.
— Talvez o senhor só precise explorar mais. Tem tantos cantos bonitos por aqui.
Ele sorriu de lado, avaliando-a.
— Então me mostre esses "cantos bonitos". Amanhã à tarde, você será minha guia.
Surpresa, Serena arregalou os olhos, mas respondeu com sinceridade.
— Claro! Eu adoraria, senhor Alessandro.
Ele sustentou o olhar dela por um momento antes de dar um último gole na bebida.
— Ótimo. Está combinado.
Serena afastou-se, o coração acelerado por um sentimento novo e desconhecido.
Alessandro, por sua vez, observou-a partir, intrigado com a forma como aquele breve encontro havia quebrado sua monotonia.
No dia seguinte, a fazenda prometia ser palco de novas descobertas para ambos — e talvez de algo mais.