— Então, o resort nos deu a trilha de cortesia? — Luísa perguntou.
— Sim, o resort oferece passeios turísticos e pediu que escolhêssemos alguns. — Felipe contou.
— Alguns? Tem outro? — Marina perguntou.
— Escolhemos dois para fazer com os padrinhos e madrinhas. Eu escolhi esse pra fazer com todos hoje. A Isa escolheu o de amanhã, mas ela não me deixa contar. É surpresa
Marina e Luísa se olharam animadas.
Alguns minutos depois, Felipe parou o carro logo atrás de uma van. De dentro do carro, Marina já pôde ver o semblante de Isa, que esperava eles de braços cruzados.
— Muito bem, Felipe, presta atenção no que você vai fazer... — Luísa começou a falar.
— Eu vou fazer? — Felipe perguntou.
— Sim, pra Isa não brigar com a gente.
— Eu não tenho nada a ver com isso, na verdade, eu sou o herói que esperou pelos atrasados, salvando o evento.
Marina e Luísa se olharam.
— Você faz isso e a gente fica te devendo uma, e acredite, você vai precisar da gente. — Marina disse.
Isso fez Felipe pensar.
— Ela tem razão. — Mário deu sua opinião.
— O que é pra fazer? — Felipe perguntou.
— Você trouxe? — Marina perguntou a Luísa.
— É óbvio que eu trouxe, é o casamento dela. — Luísa tirou uma sacola de sua bolsa e entregou para Marina.
Marina, por sua vez, entregou a sacola para Felipe.
— Nós vamos chegar primeiro, ela vai começar a brigar e você entrega isso a ela. — Marina explicou.
Felipe assentiu.
— Vamos lá.
Marina, Luísa, Ander e Mário saíram do carro. Devagar, os quatro foram ao encontro do resto do pessoal. Isa, para acelerar o processo, vinha andando na direção deles.
— Eu não acredito em vocês. Como podem ter perdido a van? — Isa questionou.
Ander e Mário riram. Como duas crianças rindo de outra criança tomando uma bronca. Isa então se virou para eles.
— E vocês? As meninas estão na faculdade ainda, são jovens, mas vocês dois têm empresa! Como vocês gerem uma empresa se atrasando pros compromissos?
— Felipe! — Ander chamou alto, pedindo socorro ao amigo.
Felipe correu e ficou entre a esposa e os amigos.
— Oi, meu amor, como você tá linda. Eu trouxe pra você. — Felipe estendeu a mão.
Isa pegou a sacola curiosa e olhou o que tem dentro. No mesmo momento, seu rosto derreteu.
— Meu amor, como você sabia? — Isa deu um beijo em Felipe. Por um momento, ela ficou aturdida, como se tentasse lembrar do que estava fazendo, e então um sorriso brotou em seu rosto.
— Vamos? — Ela perguntou a todos.
Felipe e Isa seguiram na frente. Marina e Luísa deram um "bate aqui" e comemoraram. E assim, os quatro seguiram. Ander se aproximou das meninas.
— O que tinha na sacola? — Ele perguntou. Mário se inclinou para escutar também.
— A Isa é viciada em "bibs". — Marina explicou. Ela não conseguiu olhar nos olhos de Ander para responder-lhe, e nem conseguiu dissertar sua explicação.
— A gente sempre tem uns saquinhos com a gente, mas ela não aceita mais se a gente oferecer, ela já sacou que é uma tática, na verdade, deixa ela mais furiosa. — Luísa completou a explicação.
— E ela não suspeitou de o Felipe ter aparecido do nada com o bibs logo depois de ela se estressar com a gente? — Mário perguntou.
— Ah, não. A gente não oferece a ela tem uns dois anos. Ela sempre "acha" um saquinho perdido na bolsa dela, ou um "desconhecido" oferece a ela. — Luísa explicou fazendo sinal de aspas.
— Acho que a gente vai ter que passar essa missão pro Felipe agora. Não somos mais as únicas a cuidar dela. — Marina refletiu.
Ander assentiu.
— Finalmente, podemos então começar? — Um cara desconhecido que Marina julgou ser um dos guias, falou assim que eles se aproximaram dele. — O primeiro grupo já subiu com o outro guia.
Eles concordaram. Caminharam por alguns minutos até entrarem na trilha. Era uma espécie de floresta com um caminho que ficava cada vez mais íngreme e estreito. Era possível apenas duas pessoas andarem lado a lado, então o guia estava na frente, Isa e Felipe logo atrás dele, Ander e Mário e por último, Luísa e Marina, devagar e quase parando.
De trás, elas escutavam o guia falando, mas não conseguiam entender as palavras.
— Você tem que pedir desculpas agora. — Luísa falou para Marina.
Marina olhou para os meninos à sua frente, por sorte (ou não), elas estavam tão devagar que eles estavam longe delas.
— Aqui? Não mesmo. — Marina respondeu lembrando da sua conclusão sobre isso, mais cedo.
— Aqui é perfeito. Estamos isolados do resto, ele tá logo ali e a trilha é em dupla.
— Não, não tem pra que...
— Você não escutou? Surpresa, passeio, encontro na praia... Isa vai colocar a gente num barco. Vocês precisam estar bem até lá, ontem ele disse pra você nunca mais chegar perto dele e aqui estamos. Perto dele. E isso não vai mudar.
Marina sabia que a amiga tinha razão. Sabia também que Isa iria surtar se soubesse que ela está a esse nível de conflito com um dos padrinhos.
— Tá. Mas como eu vou...
Marina não terminou a frase. Luísa saiu na frente levando-a pela mão, até chegarem atrás dos rapazes. A partir daí, Marina não podia fazer mais nada. Luísa empurrou Mário pelas costas até os dois estarem longe de Marina e Ander.
Ander, no qual, estava tão sem entender o que estava acontecendo quanto Mário.
— O que ela tá fazendo? — Ander perguntou.
Marina deu um suspiro baixo. Por algum motivo, ela estava nervosa. A situação a deixava assim. A trilha ficava cada vez mais densa e difícil a ponto de o sol sumir nas árvores e Ander estava ao seu lado, de shorts e tênis.
— Ela tá tentando deixar a gente só para eu poder me desculpar. — Marina disse.
Marina percebeu a surpresa de Ander. Assim como percebeu os passos dele ficando mais lentos. Ela o acompanhou. Eles ficaram alguns segundos em silêncio. Marina já teve que apresentar seminários para uma turma inteira, já teve que defender ideias que ela nem tinha estudado sobre, e ela era muito boa nisso. Mas abrir a boca e pedir desculpas para Ander estava sendo mais difícil do que fazer uma apresentação sem ter estudado.
— Então... — Ele começou.
— Eu sei o que eu fiz e, acredite, eu me arrependo. Eu não devia ter avançado em você daquele jeito, foi mal mesmo.
Ander assentiu. Então, pela primeira vez no dia, ele olhou para Marina. Embora ele tenha visto ela e falado com ela, Ander tem evitado olhar para ela de verdade. Ander parou na mesma hora. Marina não entendeu, mas parou também e se virou para Ander.
Só então Marina percebeu que Ander estava olhando para os seus braços descobertos. Marina agora reparou que as dores que sentiu no dia anterior resultaram em hematomas roxos.
— Ah, isso. Os meninos acabaram me segurando com muita força. Ander levou os dedos até o arranhão. — Ah. A Luísa me arranhou. Foi tudo culpa minha.
Ander olhou para o fim da trilha, que já estava bem na frente deles. Então, ele segurou Marina pelo pulso e puxou ela. Marina foi praticamente arrastada por ele até o fim da trilha, ela tentou perguntar o porquê de Ander estar fazendo isso, mas ele estava mudo e com um olhar frio. Até que chegaram ao fim, onde todos já estavam reunidos. Ander parou na frente de Eric e Fabião.
— Por que fizeram isso? — Ander questionou.
Fabião, que estava rindo e conversando com os amigos, ficou sem saber o que Ander estava falando, então Ander mostrou os braços de Marina. A essa altura, todos estavam olhando para eles.
— Meu deus, o que aconteceu? — Isa exclamou ao ver os braços de Marina.
— Cara, deve ter sido quando a gente segurou ela. — Fabião disse.
Ander balançou a cabeça.
— Por que seguraram tão forte? Olha pra isso! — Ander estava quase gritando.
Marina olhou para Luísa, em busca de ajuda. Mas a verdade era que absolutamente ninguém estava entendendo.
— Ela era muito forte, se a gente não tivesse segurado assim, ela teria partido pra cima de ti. — Fabião falou.
— Deixasse ela vir. — Ander grunhiu.
— O que aconteceu? — Marina escutou Isa perguntando a Luísa.
Fabião e Ander se encaravam. Marina escutou Luísa contando o que aconteceu e sentia os olhares dos outros nos seus braços. Se ela tivesse visto antes, nunca teria posto uma blusa que mostrasse tanto.
Eric, que apenas observava ao lado de Fabião, se virou para Marina.
— Desculpa. De verdade, a gente não achou que estava doendo. — Eric disse a Marina.
— Não precisa se desculpar. Ander, eles não precisam se desculpar. — Marina tentou puxar o braço de Ander, mas não teve sucesso em chamar sua atenção, então tentou com Fabião. — Está tudo bem, não tá nem doendo.
Ander então olhou para Marina. Ela não sabia o que se passava na sua mente, ela não sabia de onde tinha vindo aquilo, ela só queria que parasse. Mário colocou a mão no ombro de Ander e isso fez Ander segui-lo e os dois se afastaram.
Luísa buscou Marina na mesma hora.
— O que aconteceu? — Luísa perguntou.
Ela estava ao lado de Isa e Felipe.
— Eu não sei! Eu não tinha percebido que meus braços estavam assim e quando ele viu, ele simplesmente fez isso.
Felipe tocou os hematomas de Marina.
— Eu sei por que ele fez isso, não foi sua culpa. — Ele disse. Felipe olhou para Ander e foi na sua direção.
— Você sabe de alguma coisa? — Luísa perguntou pra Isa.
Isa deu de ombros.
— O Felipe uma vez falou que o Ander não gosta que batam em mulher, mas ninguém gosta, né?
Um dos guias se aproximou das meninas.
— Está tudo bem? — Ele perguntou.
— Está sim! Por favor, continue! — Isa disse.
Então o guia continuou. E só então Marina se deu conta de onde estava. Era um lugar alto, sem dúvidas. E a vista era perfeita. A vastidão do oceano se estendia até onde a visão podia alcançar, suas águas cintilantes refletindo os raios dourados do sol. O horizonte se encontrava com o céu em uma linha indistinguível, como se a terra e o mar se fundissem em um único elemento. Ao longe, ilhas pontilhavam a paisagem, cada uma envolta em seu próprio mistério e beleza singular. Era de parar o tempo.
O grupo aproveitou para tirar fotos e fazer vídeos. A brisa do mar junto com a umidade da floresta trazia um cheiro especial. Marina, Luísa e Isa deitaram no chão o mais próximo que puderam da beira e fecharam os olhos. Isa, que estava entre as duas, entrelaçou o dedo mindinho com cada uma.
— Obrigada por isso, Isa. — Marina disse ainda de olhos fechados.
— Não seria a mesma coisa sem vocês. — Isa falou.
Marina sentiu a presença de alguém se aproximando e abriu os olhos.
— Vamos tirar fotos? — Felipe perguntou a Isa.
Isa se levantou e foi com o marido.
— Droga. — Luísa falou de repente.
— O que foi?
— Eu odeio estar errada. Também quero uma foto. — Ela disse e se levantou.
Marina sentou. Ela não pôde evitar e procurou por Ander. Ela não o encontrou com os demais, e nem se quer Mário estava com ele. Então ela o viu, descendo a trilha. Ele já estava indo. Marina não pensou duas vezes. Na verdade, ela nem pensou uma vez. Se levantou e foi atrás de Ander.
Quando ele percebeu, eles já tinham descido alguns metros da trilha.
— O que você tá fazendo? — Ander perguntou. Ele não foi ríspido, seu tom foi de pura surpresa.
— Você me arrastou e quase causou uma confusão. Eu vim perguntar se você tá bem.
— Eu tô bem. Não precisa se preocupar comigo.
— E nem você comigo. Isso aqui foi consequência minha, tá? Ninguém fez isso pra me machucar. — Marina tentou falar brandamente.
Ander ficou calado. Por muitos minutos, eles se concentraram em apenas descer a trilha, até porque o caminho era íngreme e Ander até tinha que ajudar Marina para que ela não capotasse até embaixo.
— Eu gosto disso que vocês têm. — Ander falou de repente. A essa altura, eles já ouviam um barulho longe, indicando que o grupo já começou a descida.
— O que? — Marina questionou sem entender.
— O jeito que vocês cuidam uma das outras. O jeito que vocês sempre têm um bibs pra Isa e também o jeito que a Luísa arrastou o Mário daqui. — Ander soltou uma risada lembrando da cena.
— Emília, Isa e eu crescemos assim pra sobreviver na nossa família. Não que eles tenham sido abusivos ou algo assim, é outro tipo de sobrevivência...você os conheceu. Enfim, A Luísa tá na nossa vida há quatro anos e parece ser uma de nós desde sempre. São as únicas que eu posso confiar, sabe? São as únicas que me aceitam assim.
Ander solta uma pequena risada pelo nariz.
— São as únicas que te aceitam assim maluca?
Marina não sentiu provocação no seu tom. Ele só estava sendo engraçado.
— São quem me fizeram entender o que é o amor.
—E vocês nunca brigam?
— Pffft — Marina ironizou. — A gente brigava toda hora, desde pequenas. Já passando meses sem nos falar. Algumas vezes a vida também nos levou a não ter tempo para as outras, sabe? Mas eu nunca me senti menos amada, eu nunca senti que não pudesse contar com elas.
— Eu entendo, sabia? É quase assim com o Mário e o Felipe. A gente se conhece desde que eu era moleque. o Eric, o Gustavo e o Fabião eu conheci depois, são nosso grupo, mas com o Mário e Felipe é diferente.
Marina assentiu.
— E você cuida deles. — Marina disse e Ander concordou. — Por isso tentou impedir a todo custo que Mário e eu nos aproximássemos.
— Exato.
— Mas agora que me conhece um pouquinho melhor, não vai mais impedir.
Ander riu.
— Não. Eu ainda vou impedir. Desculpa, não é pessoal. Talvez seja, não importa. Mas eu não vou deixar você se envolver com o Mário.
Marina sentiu um incomodo com a declaração de Ander.
— Eu gosto dele. — Marina admitiu. — Então vamos ter que achar um jeito de resolver isso, poque não podemos brigar, mas eu não vou desistir assim.
— Você conhece ele há 2 dias!
— E já gosto dele assim! Isso não acontece comigo. E eu acho que ele gosta de mim também.
Ander bufa.
— Não vamos brigar. Não vamos surtar ou algo assim na frente dos outros. Você vai insistir, eu vou impedir, e vamos estar sorrindo um pro outro no final.
Marina olhou para Ander.
— E se um de nós não conseguir se controlar e voar no pescoço do outro? Assim, só uma hipótese.
Ander riu. Marina teve que confessar que ele parecia mais leve.
— A gente precisa avisar o outro, ou então vamos estragar o dia de todo mundo.
— Tipo o que? Usando uma palavra de segurança que nem em sexo?
Marina só se ouviu depois que a frase saiu da sua boca. Isso fez Ander rir dela, mas de um jeito diferente.
— Não é uma má ideia. O que você sugere?
Marina pensou um pouco.
— Eu gosto da palavra "Abacaxi".
— Combinado. — Ander disse. — Cuidado aqui na frente.
Marina então deu um pulo sobre uma pedra e segundos depois, eles haviam chegado no começo da trilha.
— A descida é mais rápida que a subida. — Marina observou.
— É verdade, mas vocês também não fizeram nada pra acelerar a subida.
Marina levantou uma sobrancelha para a petulância de Ander.
— Cuidado, falando assim parece até meu amigo. — Marina falou.
— Pfft, não quero isso pra mim. Vai uma água de coco?
Marina concordou. Os dois foram até um quiosque a vista e tomaram água de coco enquanto esperavam o restante do grupo. Demorou o tempo exato dos dois secarem seus cocos para o grupo chegar e todos voltaram ao resort. Eles chegaram logo no horário do almoço que foi servido na praia. O cronograma de Isa seguiu-se com os meninos tendo a tarde da barba, cabelo e bigode, e as meninas aproveitaram o dia na praia. Perto das 17:00, Isa despachou todo mundo para se arrumar para a noite do karaokê.