Capítulo 5
Ellen Philips
O resto da viagem é feito de maneira profissional e sem muitas palavras. Estava nítido que ele não queria falar comigo, e tudo bem, não quero também ser interrogada como se devesse algo há ele.
Nas poucas palavras que trocamos, Arthur entrou em modo de afirmação com a sua cabeça. Ele m*l dirigiu três palavras em minha direção durante o resto do voo. Eu não me surpreendo com mais nenhuma atitude vinda dele, são dois anos que convivo com suas guerras de silêncio, como se eu fosse a errada da situação, mas não sou, disso eu tenho certeza.
Me dedico demais a esse trabalho, não tenho porque o desrespeitar de onde vem o pão que como, mas não vou mais me calar ao ver situações que podem ser melhor avaliadas.
O Senhor Moratti poderia me dar uma folga depois da viagem, a próxima semana é praticamente um dos maiores feriados nos Estados Unidos, mas o conhecendo bem, ele vai arrumar trabalho até no dia 4 de julho.
Esse feriado é da independência dos Estados Unidos da América.
Para quem me perturba até no dia de domingo para saber se suas roupas estão na lavanderia, acredito que tudo possa acontecer.
Há alguns domingos que mesmo julgava não ser necessário trabalhar, sim teve pelo menos um ou dois domingos de cada mês que ele me pedia ajuda em sua mansão com a desculpa de acreditar que as horas no escritório não dariam conta.
Não gostava daquele lugar, a mansão é uma casa abandonada pela vida. Lá me lembrava tanto do Arthur que me sentia de uma maneira nada boa. Naquela casa podia-se ver o quanto era frio e sem alma. Acredito que nem ele gosta de ficar muito tempo lá.
Memória on
Após uma manhã de trabalho, Senhor Moratti me convidou para almoçar em sua sala de jantar enorme. Eu não sabia que para alguém tão solitário, sem amigos e sem família, não adiantava ter tantas mesas e cadeiras para refeições em família.
- Essa casa era dos meus pais, eles escolheram pelo jardim lindo e enorme que tinha aqui, mas como pode ver que está abandonado a tempo demais... – Ele olha tudo sem nenhum indício de emoção, é como se nunca tivesse pertencido há esse lugar. – Eu acho... ou achava errado mexer em algo sem a minha família aqui, às vezes eu penso em vender e me mudar para uma casa menor. Não quero me casar e ter filhos, então para que uma casa tão grande?
Foi a primeira vez que vi ele se abrir para falar algo sobre a sua família. São três meses trabalhando para ele e o Senhor Moratti não tinha recebido nenhuma ligação de parentes, amigos ou namorada. O único que ligou para ele era um sócio chamado Levi, de resto ele era a pessoa mais solitária que já tinha conhecido na face da terra.
- Não fale assim, o Senhor ainda é novo e pode encontrar alguém para se casar e ser feliz. Não seja tão pessimista! – Logo me arrependo ao me lembrar de quem eu estava falando, ele era o meu chefe e não um amigo que estava visitando no dia de domingo.
- Você vê esperança em tudo Ellen, todas as mulheres que se aproximam de mim são apenas para obter algum tipo de favorecimento. Nunca é por sentimentos verdadeiros, vai por mim, amor só existe em conto de fadas e historinhas para dormir, nunca vi um casamento em meu meio que não tenha bases em negócios ou contratos. Não existe amor entre os ricos criança, não existe... – Olho para ele e pela primeira vez não vejo um tom duro ou de repulsa, é a opinião dele e acredito que seja assim mesmo. Que dificilmente exista amor verdadeiro entre pessoas ricas além do dinheiro.
(...)
- Eles morreram de que Senhor, desculpe a pergunta... Não queria invadir sua i********e e somente uma questão que se instalou em mim. – Estava com um porta retrato de prata que tinha sua família feliz nas mãos. Arthur era somente uma criança que teve que amadurecer cedo demais por causa da morte dos seus pais. Foi-lhe negado o direito de ser criança, de ser amado por seus pais. Consigo entender um pouco do seu jeito, a solidão pode explicar um pouco seu jeito.
- Em um acidente de carro na rodovia, estávamos indo para a casa de campo dos meus pais. Eu estava animado, veria meu amigo. Era um final de semana normal que passaríamos em família. Mas tudo se acabou com um carro desgovernado que atingiu o nosso carro que estava correto na estrada. Eu sobrevivi e depois que cresci mandei averiguar... As pessoas da frente não resistiram... eu fui o único sobrevivente daquele dia trágico.– Ele suspira, nunca o tinha visto tão desarmado. - Eu queira ter partido com eles Ellen, eu queira...
- Não Senhor Morratti, quem me perturbaria? - Juro por tudo que é mais sagrado, vi pela primeira vez ele rindo do que eu falei.
- Esse é meu castigo então? - Esse homem rindo era algo que não tinha explicação, mas me deixou quentinha por dentro.
- Agora vamos trabalhar, chega de folga, está muito m*l acostumada...- Ele me deixa sozinha na sala de sua casa.
Não preciso dizer que logo voltou tudo a ser como antes, meu chefe dando ordens e eu vivendo a vida. Meu coração ficou mexido a partir daquele dia, eu via Arthur com outros olhos, mesmo ele reafirmando através de gestos que não era aquela pessoa machucada que ele demonstrou.
(...)
- As reservas do hotel já foram feitas e nos esperam para fazer o check, todos os seus compromissos estão confirmados e o Senhor Nakamura deseja que vá com ele em jogar golfe no final da tarde de hoje...- Ele estende a mão.
- Está com a tarde livre Ellen, vá ao salão ou faça um passeio pelo resort... Faça o que desejar. Quero que jante comigo às sete da noite, te busco em seu quarto. - Simples assim, ele fala tudo e sai andando para seu carro. Eu entro no lado do passageiro e pagamos a estrada para logo chegamos no resort.
Faço todos os procedimentos para nossa entrada no hotel, logo estávamos nos quartos destinados para nossa estádia e começo a organização de todos os compromissos. O lugar é lindo e cheio de vida, decidi que iria explorar depois de confirmar seus compromissos.
Arthur Morratti entrou no quarto e não saiu mais, fiz exatamente o que ele disse, vou passear pelo hotel enquanto meu patrão está de bom humor.