"Às vezes, não é o mundo que muda ao nosso redor, mas o olhar que lançamos sobre ele. Descobri que coragem não é ausência de medo, mas a decisão de seguir mesmo quando tudo parece ruir. Hoje, cada passo que dou carrega o peso das escolhas que fiz — e das que ainda preciso fazer."
Christopher Davis
Quando finalmente nos desfizemos em gemidos e respirações ofegantes, permaneci dentro dela por alguns segundos, sentindo o calor, o vínculo, a intensidade. A culpa voltou, como uma sombra, mas dessa vez não me paralisou. Estar ali com Victoria me deixava saciado, e de alguma forma, aliviado. Era como se, por um instante, o peso que eu carregava tivesse se dissolvido.
Afastei-me lentamente, segurei sua mão e a conduzi para dentro da cabana. O ambiente iluminado pela lareira parecia feito para nós. A madeira aquecida, o cheiro de cedro e o reflexo da lua entrando pelas janelas criavam uma atmosfera íntima, quase irreal.
Deitei-a na cama, e por um momento apenas a contemplei. Seus cabelos espalhados sobre os lençóis brancos, o brilho nos olhos ainda úmidos, o corpo entregue. Ela era a visão mais bela que eu já havia presenciado.
— Você não faz ideia do que está fazendo comigo, Vic… — murmurei, minha voz rouca.
— Então me toma, Christopher… — disse, sua voz baixa, quase um gemido. — Eu sou sua.
Minhas mãos percorreram sua cintura, explorando cada curva, cada tremor. Eu queria gravar em mim cada detalhe dela. O calor de sua pele me incendiava.
— Você é tudo o que eu não deveria querer… — confessei, mordendo suavemente seu lábio. — Mas não consigo resistir.
Ela sorriu, provocante. — Então não resista.
Nossos corpos se encontraram com intensidade. Eu a envolvi, sentindo sua respiração acelerar contra meu peito. O ritmo entre nós era marcado por gemidos, por olhares que diziam mais do que palavras.
— Christopher… — ela murmurava, segurando meus ombros. — Não para…
— Nunca. — respondi, minha voz firme, enquanto a olhava nos olhos. — Essa noite você é só minha.
Ela se arqueava sob mim, e eu me entregava sem reservas. Não havia máscaras, não havia barreiras. Apenas nós dois, despidos de qualquer defesa.
O tempo parecia suspenso. Cada toque, cada palavra, cada respiração compartilhada era uma explosão de desejo e de algo que eu não queria admitir: sentimento.
Quando finalmente nos desfizemos em suspiros e silêncio, permaneci ao lado dela, o corpo ainda colado ao seu. Passei a mão por seus cabelos e sussurrei: — Você me deixa vivo, Vic. Como ninguém mais consegue.
Ela fechou os olhos, sorrindo, e se aninhou contra mim.
Por alguns minutos, ficamos apenas em silêncio, ouvindo o crepitar da lareira e o som suave da água batendo contra a margem do lago. Eu a acariciava, sentindo sua pele quente sob meus dedos, e percebia como ela se entregava sem reservas.
— Você me assusta, sabia? — confessei, olhando para o teto.
— Por quê? — ela perguntou, virando-se para mim.
— Porque você me faz sentir coisas que eu jurei nunca mais sentir. — respondi, encarando seus olhos. — E eu não sei lidar com isso.
Ela sorriu, mas havia ternura em seu olhar. — Então não tente lidar. Apenas sinta.
Suas palavras me atingiram como um golpe. Eu a puxei para cima de mim, e nossos lábios se encontraram outra vez. O beijo era lento, profundo, carregado de entrega. Eu a queria mais uma vez, e não hesitei.
Nossos corpos se uniram novamente, dessa vez com menos urgência e mais intensidade. Eu a penetrei devagar, saboreando cada reação dela, cada gemido contido. O ritmo era marcado por olhares, por mãos que se agarravam, por respirações que se misturavam.
— Você é minha, Vic. — sussurrei contra sua boca. — Só minha.
— Sempre sua. — ela respondeu, arfando.
O prazer nos envolveu outra vez, mas agora havia algo diferente. Não era apenas desejo. Era entrega. Era como se, por algumas horas, eu tivesse deixado de ser o homem quebrado que sempre fui.
Deitei de costas, olhando para o teto de madeira da cabana. A culpa ainda estava ali, mas misturada a uma paz que eu não sentia há anos. Estar com Victoria me fazia esquecer das mágoas, das cicatrizes, do peso que eu carregava.
Eu sabia que o dia seguinte traria de volta a frieza, o desprezo, as máscaras que me protegiam. Mas naquela noite, eu havia sido apenas Christopher. Um homem quebrado, sim, mas que encontrou em Victoria um alívio que não sabia que precisava.
Fechei os olhos, tentando gravar cada detalhe: o cheiro dela, o calor, o som dos seus gemidos. Eu sabia que, quando o sol nascesse, tudo mudaria. Mas até lá, eu me permitia viver o que nunca pensei que viveria de novo.
Quando o sol começou a nascer, a luz dourada invadiu a cabana pelas janelas. Eu já estava desperto, deitado ao lado dela, observando-a dormir. Seus cabelos espalhados pelo travesseiro, o rosto sereno, os lábios entreabertos. Ela parecia tão inocente, tão distante da dor que eu carregava.
Passei a mão por seu rosto, delicadamente, e senti uma pontada no peito. Eu sabia que não podia oferecer nada além daquela noite. Sabia que, quando ela acordasse, eu teria que voltar a ser o Christopher frio, distante, o cafajeste que não se permite sentir.
Mas naquele instante, eu me permiti sonhar.
— Como seria se eu pudesse ser diferente? — pensei. — Se eu pudesse acordar todos os dias ao lado dela, sem medo, sem culpa?
A ideia me assustava. Eu não podia me permitir. Meu coração estava endurecido pelas mágoas do passado, e eu não podia deixar que alguém me dominasse outra vez.
Ainda assim, olhar para Victoria me fazia acreditar, por um breve momento, que talvez houvesse esperança.
Levantei-me devagar, sem acordá-la, e caminhei até o deck da cabana. O lago refletia a luz do sol nascente, e eu respirei fundo, tentando afastar os pensamentos.
Eu sabia que o dia seguinte seria diferente. Eu teria que me afastar dela, tratá-la com frieza, desprezá-la se fosse necessário. Era a única forma de me proteger, de evitar que ela criasse expectativas que eu não poderia cumprir.
Mas dentro de mim, algo já havia mudado. Eu não podia negar o que havia sentido naquela noite. Não podia negar que, por algumas horas, eu havia sido feliz.
— Você é minha ruína, Vic. — murmurei para mim mesmo. — E eu não consigo me afastar.
Voltei para dentro da cabana e a vi ainda dormindo, serena. Sorri, mas era um sorriso triste. Eu sabia que, quando ela acordasse, eu teria que vestir minha máscara novamente.
E assim, o amanhecer trouxe não apenas luz, mas também o peso da realidade.