• Capítulo 5 •

1082 Words
Ariel Gonzalez ★ Eu tinha que admitir, aquele lugar era o mais bonito em que já estive, mesmo sob circunstâncias estranhas. Prédios deslumbrantes, o pôr do sol refletindo nos vidros fazia a cidade brilhar aos meus olhos. Após um almoço solitário, Dorotéia me informou que recebeu ordens para me levar ao centro. Passeamos de carro particular, comprando roupas em lojas inesperadas. Dote, como ela pediu para ser chamada, disse que seu chefe instruiu gastar todo o valor do cartão comigo. Adquiri um novo óculos que estava aguardando ficar pronto. Enquanto isso, a convidei para um sorvete após aquele divino Strogonoff; merecíamos uma sobremesa. O meu era de flocos com calda de chocolate, e o dela, apenas de chocolate. — A senhora pode responder uma coisa? — perguntei, tentando puxar assunto. Ela quase não falava, a menos que fosse necessário. — Sim, se eu puder responder. — Passamos em lojas meio caras para o meu orçamento, mesmo que aquele homem chato tenha dito que vou ficar apenas duas semanas. — pude ver Dote segurando um riso diante das minhas palavras. — O tanto de roupas que compramos, posso montar meu novo guarda-roupa do zero. O que exatamente vocês fazem? — O Senhor Mancini é dono de uma rede de supermercados, além de metade das lojas do shopping que você visitou. — meu queixo estava na outra esquina; o sujeito era um gênio, é claro que mandou eu gastar o cartão. O dinheiro voltaria para o seu bolso. — E ele é chefe da milícia na Rússia. — O quê! — gritei mais alto do que deveria, atraindo a atenção de alguns olhares. — Você está dizendo que eu simplesmente me envolvi com algum tipo de máfia? — sussurrei na direção dela. — Eles não tinham te contado? — Dorotéia me olhava espantada, indicando com seu olhar que não estava brincando. — A família Mancini é respeitada por aqui há alguns anos. Veja. — Peguei o celular que ela me entregava. Na tela, havia o desenho de uma caveira; no olho esquerdo, uma rosa vermelha vibrante; na boca, em vez da típica mandíbula de ossos, uma faca de cabo dourado. — Este é o brasão da organização. Quem o usa é reconhecido por aqui. Makyson colocou isso como papel de parede do meu celular. Recuso-me a andar com isso exposto por aí. — Preciso ir ao banheiro, a senhora pode me dar licença? — Dorotéia sorriu gentilmente. — Leve isso com você, um momento. — Dorotéia pegou um papel e, não sei de onde, uma caneta. Estava nervosa demais para ler e apenas aguardei no bolso. — Pode ir, fique à vontade. Assim que entrei no banheiro, tranquei a porta, sentindo meu coração bater contra meu peito. Eu fui traficada, meu Deus! Meu pai sempre me disse para não aceitar nada de estranhos. Você deveria ter ficado no porão, se recomponha, mulher! Minha consciência gritava na minha mente. Se Felipe e Makyson eram mafiosos, aqueles homens que me mantiveram presa por três dias também. Meu Deus, aonde eu tinha me metido? Me perguntava se podia ter pegado algum dinheiro com um agiota enquanto dormia. Minha mão suava frio, meu medo era voltar para aquele lugar e ficar presa novamente. Eu ainda tinha o cartão; poderia fugir e dormir em um hotel ou mesmo comprar passagem para o Brasil. Com qual documento i****a? Respirei fundo três vezes enquanto ouvia minha consciência. Felipe e Makyson não pareciam tão ruins assim; o cara literalmente me tirou de um porão escuro e sem janela para me colocar em um quarto com uma cama macia e travesseiros maravilhosos, uma janela enorme e até mesmo um cartão para não andar como mendiga por aí. Quando a esmola é boa, até o santo desconfia... Suspirei cansada; não sabia se aquela voz chata na minha consciência queria me ajudar ou me ferrar. Assim que saí do banheiro, joguei água no rosto. Ao me olhar no espelho, suspirei novamente, me sentindo exausta. Meu olho ainda estava roxo, minha boca cortada junto ao meu supercílio, meu cabelo preto completamente ressecado, mesmo já tendo lavado. — Licença. — falei para a primeira garçonete que vi, para minha felicidade, ela falava inglês. — Onde está a senhora que estava comigo? — Pagou os sorvetes e saiu; um homem de terno ajudou a levar as sacolas. — Agradeci, ganhando um sorriso da mulher. Olhei em volta ainda dentro do shopping; o cartão ainda estava no bolso, não fazia ideia do valor que ainda tinha. Coloquei a mão no bolso de trás, sentindo o papel; as palavras descritas em inglês me fizeram arregalar os olhos. "Deixarei você sozinha, o cartão é sem limite, pode usar. No verso do papel está o endereço da casa do Sr. Mancini." Fiquei parada por um tempo no meio do shopping. Depois de receber alguns olhares, decidi me levantar. Voltei à ótica de antes, esperando minha nova armação; sorte que sabia meu grau de cabeça. Não demorou muito para a atendente vir com a pequena sacola e lentes de brinde. Olhei por um bom tempo para o novo modelo, transparente em forma de gato nas pontas. — Nova armação, novo estilo — agradeci à atendente, saindo da loja. Andei por um tempo até encontrar um salão. Se eu tivesse sido sequestrada como nas novelas e livros, pelo menos iria gastar o máximo que podia. — Depois do salão, vou comprar um celular também! Precisava apenas entender como funcionava para colocar o chip. Eu tinha que me comunicar com alguém do Brasil; a única pessoa que passava pela minha mente era Thomas. Querendo ou não, ele era meu único amigo naquele lugar. Eu saía de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Vida fora do escritório eu não tinha; lutei tanto para chegar onde estava. Somente de pensar no meu trabalho, meu coração se apertava. A única parte boa de tudo aquilo era o fato da minha mãe não ter mais acesso a mim. O pensamento de ficar desaparecida nunca foi tão reconfortante como agora. Ela não ia mais me ligar, sem e-mail do advogado ou de meus irmãos. Era estranho sentir alívio com isso, mesmo sabendo que estava por aí andando com um cartão de um criminoso. Eu deveria estar mais preocupada com isso, mas não, estava sentada na recepção do salão vendo nas revistas o que iria fazer no meu cabelo. Como pode... do dia para a noite, perdi o controle da minha vida. — Que merda estou fazendo...
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