• Capítulo 2•

1265 Words
Ariel Gonzalez ★ O chão gelado que antes me causava frio, agora era a fonte da minha pequena tranquilidade. Meu corpo inteiro ardia e doía; evitava me mexer para não sentir meu rosto latejar. Poderia engasgar no meu próprio sangue, mas meu rosto grudado no chão me oferecia uma falsa sensação de alívio. — Oggi... le s-stelle brilleranno — sussurrava com as últimas forças a música que cantava junto ao meu pai. — i tuoi occhi vedranno la dimensione del mio am-amore... Chorava e tossia, tentando respirar, cantar ou até criar forças. Mas desisti de entender o que estava acontecendo comigo, principalmente de lutar contra a escuridão da tristeza que crescia em mim. Estava cansada, cansada de cuidar de mim mesma, de não ter ninguém para me pegar no colo ou me abraçar; eu não era forte como todos pensavam, e naquele momento, entreguei a toalha branca para a vida. Eu desisto de tentar vencer; pode me levar, dona morte, dessa vez a senhora ganhou. Com esse pensamento, finalmente deixei o sono me abraçar. — Vamos, filha, cante comigo! — abri meus olhos devagar, sentindo o cheiro de terra molhada misturado com rosas. Assim que abri completamente os olhos, lá estava meu pai, sorrindo de maneira alegre, com as covinhas em suas bochechas, o cabelo longo preso em um r**o de cavalo e as roupas sempre elegantes. — Hoje as estrelas irão brilhar! Levantei-me imediatamente, sorrindo pelo campo de rosas, correndo com os braços abertos igual ao meu pai e sentindo o sol no meu rosto. — E seus olhos verão a dimensão do meu amor! — cantava alegre a música boba que meu pai cantava para mim, toda vez que tinha um pesadelo ou me sentia triste ou com medo. — Esses olhos tão lindos, como um diamante mas raro. Vou contar para as estrelas o brilho que minha princesinha tem. — comecei a rir como sempre fazia. — Papai, esse final não rima com a música! — o abracei assim que cheguei mais perto. — Você sempre fala isso, mas para mim combina sim. Só as estrelas e a lua sabem o quanto amo você. — sentia o abraço quente dele em meu corpo. — E como ainda amo, minha Vanessa... — sentia meu rosto quente, pelas lágrimas que caíam dos meus olhos. — Vamos, filha, não pode desistir agora, não pode entendeu — O senhor me deixou sozinha, não tenho mais por que lutar. — senti meu pai envolvendo suas mãos em minhas bochechas, os olhos verdes me olhando com ternura. — Lute por você, meu amor, você ainda não encontrou sua alegria. Você está livre agora, pode viver, viva para você. Vamos, Ariel, acorde, não faça isso, o jogo só acaba quando o juiz apita. — ouvia ele dizer o nosso dilema. Como se estivesse me afogando, levantei do chão, procurando ar e ao mesmo tempo tentando entender onde estava. Gemendo de dor assim que meu corpo doeu, encolhi-me rapidamente no canto da parede, sem ligar para a dor. A porta fazia barulho, e talvez se eu ficasse no canto escuro, eles não me veriam. "Eles não vão me ver, não vão, não vão, não vão..." repetia várias vezes em minha mente, abraçando meu próprio corpo. Ouvia novamente aquela voz rouca do homem enquanto ele caminhava na minha direção. Alto, com botas típicas do exército na cor preta, assim como sua roupa, o capuz apenas com os olhos à mostra, impedindo-me de ter qualquer lembrança daquele homem, exceto pelos olhos pretos e a voz que revirava meu estômago. Assim que a mão do rapaz veio em direção ao meu braço, rapidamente me levantei, ignorando as dores em meu corpo. O homem apontou na direção da porta aberta, fiquei por longos segundos olhando na direção da mesma até que senti o rapaz me empurrar. Comecei a caminhar e, assim que meus pés tocaram o outro lado da porta, minhas pernas tremeram. O rapaz encapuzado agarrou meu braço, arrastando-me escada acima. No topo da escada, dois capangas mascarados aguardavam. Todos mascarados, a porta se abriu, e meus olhos arderam imediatamente. A claridade fez com que fechasse os olhos, levando as mãos até minha vista para me acostumar com a luz. Quando os abri novamente e senti o rapaz soltar meu braço, estava em uma sala com cortinas roxas. As paredes estavam cobertas por quadros de pessoas desconhecidas, todas sorrindo como numa foto de família. Logo notei o senhor de cabelo grisalho, pele branca e terno roxo. A bengala que ele usava fazia barulho, e o rapaz olhava na minha direção, semelhante ao outro, falando coisas que eu não entendia. — É um velho tão burro assim? — uma voz firme, com um sotaque rouco, fez com que eu me virasse. Precisei levantar meu rosto quando o rapaz levantou-se do sofá, parecendo ter dois metros de altura, pele branca e impecável, mãos grandes e olhos em um tom de preto extremamente escuro. — Pelo jeito que está me olhando, entende o que estou dizendo. — O homem me olhava seriamente, como um mafioso dos livros que costumava ler. Não conseguia pensar direito, além do fato de que era o homem mais alto e bonito que já tinha visto. — Você fala inglês? A única coisa que fiz foi balançar a cabeça em confirmação, tentando formular perguntas na minha mente. O medo não permitia que eu desse qualquer passo; só de pensar em falar, lembrava dos tapas e socos que recebi. Não sabia quanto tempo estava ali, nem onde estava. Estava confusa. Até pouco tempo atrás, discutia com minha mãe no carro. Agora, estava em uma sala com pessoas desconhecidas, ouvindo uma língua estranha. O senhor grisalho voltou a falar na língua desconhecida, o rapaz respondeu com facilidade. Poucos minutos de conversa fizeram com que o senhor se sentasse novamente na cadeira, pegando um charuto com um sorriso largo. Seu olhar em minha direção causava calafrios; ao perceber que o encarava, sorriu na minha direção. — Ariel, vamos. — Pulei de susto ao ouvir o rapaz me chamar. Virei-me novamente para o homem, que já estava com a porta aberta, revelando um salão enorme, com janelas grandes e uma porta maior do que minha casa. — Se quiser ficar aqui, você que sabe. O rapaz começou a caminhar, mas eu não sabia o que faria. Segui-lo ou ficar parada? Não conhecia aquele homem nem ninguém ali. Como ele sabia meu nome? Rapidamente, o ar me faltou, e o pensamento de que fui traficada fez meu coração acelerar. Puxei o ar com força, não esperando pelo chiado que vinha do meu peito. Tentei dar o primeiro passo em direção à porta, mas minhas pernas falharam. O barulho dos meus joelhos no chão fez o homem, que estava na metade do salão, olhar para trás. — N-não consigo re-respirar — falei em português com pouca força, ganhando um olhar interrogativo do rapaz que caminhava novamente na minha direção. Quanto mais puxava o ar, mais a falta dele parecia tensa. Sentia minha visão ficar turva; não sabia se era pelas lágrimas que já caíam ou pela ansiedade que me atingia. Quando senti meu corpo ser levantado do chão, meu sistema todo entrou em alerta, mas não tinha forças para lutar contra. Meu corpo estava mole; os braços que me sustentavam eram do homem que minutos antes estava na metade do salão. Fechei os olhos, conseguindo ouvir o rapaz me mandando abrir, mas meu corpo não respondia. A voz grossa e com sotaque, foi ficando distante, e me amaldiçoei por estar perdendo a consciência nos braços de um estranho.
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