Capítulo 7 - Sujo

2312 Words
Narradora POV – Vikram! O garoto escutou as vozes de longe e seus soluços aumentaram ao ser pego no colo por um Theo apavorado que não sabia como agir diante daquela situação. Ele não esperava que as cismas de seu melhor amigo estivessem realmente corretas e que Vikram corria sério perigo ao estar sozinho. Assim que Armin viu o estado do moreno, correu guiando Theo até o almoxarifado onde ninguém poderia vê-los e eles deitaram o híbrido ferido no chão. Procurando por mais machucados além da óbvia ferida na cauda, ela viu manchas roxas espalhadas pela região do abdômen. Ver aquilo a fez sentir um gosto amargo na boca e sua cabeça latejou pelo stress e preocupação. – Vikram! Quem fez isso com você?! Responda! Armin gritou enfurecido com os olhos marejados de raiva e pena do pobre gatinho que chorava pela dor e também pelo susto de não ter percebido que seria atacado dessa forma. – Eu vou trazer o kit de primeiros socorros! Theodore disse saindo em direção a enfermaria onde ele teria que entrar escondido para roubar o tal kit de primeiros socorros para que ninguém desconfiasse de nada. – Vamos, Vikram! Me diga! Ele insistiu sem saber onde manter seus olhos apenas tentando de alguma maneira acalmá-lo com suas mãos, mas toda região que ele tocava o híbrido se encolhia sentindo dor. – O moço mau! O moço loiro mau! Vikram confessou entre soluços e o outro garoto entraria em colapso alí mesmo já entendendo de cara sobre quem Vikram estava se referindo, mas lembrou-se de que ele precisava de cuidados primeiro, então verificou seus machucados novamente com pesar. – Me perdoe. Se sentindo mais do que culpado pelos ferimentos do híbrido, Armin o abraçou e afagou seus cabelos agora percebendo que ele já estava ficando mais calmo. Não podia acreditar que Victor havia sido capaz de fazer algo tão vil e c***l apenas por um orgulho ferido. - Isso é culpa minha... Disse sem nem mesmo saber que aquela história havia começado a mais tempo do que ele imaginasse. Vikram se manteve quieto quanto a isto. Era doloroso demais lembrar, então nem mesmo um pio fora ouvido vindo dele. [...] Armin POV Eu ainda não conseguia crer que Victor teve a capacidade de ferir alguém tão inocente quanto Vikram. E eu não digo inocente apenas no sentido de ingênuo, mas sim inocente de estar no meio dos nossos conflitos. Ele não tinha absolutamente nada a ver com nossa situação, e por isso eu estava mais do que com raiva. Estava possesso. Não existia nenhum motivo para incluí-lo nessa bagunça. Meus últimos dois dias fora caóticos o suficiente para que minha cabeça esquentasse com facilidade, então eu o vi entrando na sala rodeado de garotas fofoqueiras e torci meu nariz voltando minhas atenções para o híbrido ao meu lado ajeitando a touquinha em sua cabeça vendo ele resmungar de dor. Meu coração dói apenas de saber que ele se machucou por minha causa, ou melhor, se machucou por causa daquele desgraçado. Tivemos que enfaixar uma parte de seu r**o, passamos pomadas para dor em seu dorso e passamos um pouco também em sua orelha que também ficou bem roxa. Suspirei ainda sem crer nisso tudo. A aula seguinte era de educação física, então todos os alunos saíram para trocar de roupa. Mas como aquela era uma aula opcional eu fiquei na sala com Vikram preocupado por deixar ele aqui ferido e sozinho. Ele era alguém definitivamente estranho, e eu não me referia apenas ao fato de ele ser parte humano e parte animal. Vikram tinha um corpo bonito, forte, como se fosse exercitado com frequência e seu rosto era masculino e sério. Na primeira vez que eu o vi eu não consegui distinguir nada disso por estar muito escuro e por estar assustado, mas agora eu podia ver claramente suas feições distintas. Me mantive ao seu lado vendo ele desenhar coisas bem avançadas, mais avançadas do que o que eu pensava. Seus desenhos eram sempre de uma casa grande e toda bem detalhada, sombreada e bem proporcional. Parecia um desenho de um artista profissional, o que não seria muito bizarro caso esse desenho não fosse dele. – Quem te ensinou a desenhar, Vikram? Perguntei curiosamente vendo ele passar o seu indicador sobre os traços desenhados em grafite para esfumá-los, então vi ele trazer seus olhos para mim e parecer pensar por alguns segundos. – Aprendeu sozinho. Respondeu ele limitado voltando a desenhar despreocupado como se ele não tivesse apanhado tanto alguns instantes a trás. – Que casa é essa? É a sua casa? Em busca de mais informações sobre aquela imagem que ele desenhava, eu o questionei e vi ele parar por um segundo. – Vikram não sabe. Escutei ele responder e voltar a desenhar mais uma vez e eu apenas recostei em meu assento não acreditando muito naquilo. Aquele era um desenho assustadoramente detalhado, e ninguém sabe tantos detalhes de um lugar se nunca esteve lá, só esteve poucas vezes ou sequer está imaginando o local. Mas eu não iria insistir muito com ele pois sabia que isso não iria levar a nada. Com ele as coisas aparentemente precisam fluir naturalmente. Vi ele coçar sua cabeça fazendo a touca subir, então olhei em volta vendo que na sala havia apenas um garoto - também de touca - lendo um livro mais a frente e Victor que estava (aparentemente) terminando seus afazeres. Então ajeitei sua touca rapidamente organizando seus cabelos escutando ele resmungar com dor. Respirei fundo para não levantar e socar o Goldberg até deixá-lo desacordado por ver Vikram assim. – Você quer alguma coisa? Está sentindo muita dor? Perguntei preocupado e ele virou seu rosto com uma das bochechas arroxeadas pela agressão e sorriu negando. – Vikram bem! Armin não vai? Ele perguntou curioso apontando para os alunos se dirigindo ao campo em suas panelinhas pela janela e eu neguei organizando meus materiais que ele havia espalhado mais cedo. Até mesmo Victor se levantou para participar da próxima aula, talvez finalmente entendendo que eu nunca falaria com ele por livre e espontânea vontade depois de tudo o que ele fez. – Está frio demais para isso. Escutei o aluno da frente murmurar se metendo em nosso assunto e Vikram piscou lentamente olhando para o moreno. O garoto se virou para nos observar e o híbrido ao meu lado segurou na barra de minha blusa assustado, então eu toquei em seu pulso o tranquilizando. Esse garoto nunca sequer dirigiu uma palavra a mim em todo esse tempo em que estudamos juntos, e agora que estou com Vikram ao meu lado ele decide falar. Me surpreendendo ele veio até nós parando em nossa frente com o livro que lia anteriormente em suas mãos e semicerrou os olhos para o híbrido ao meu lado. E como se adivinhasse que algo estava errado, ele retirou a touca da cabeça de Vikram com um puxão e eu arregalei os olhos olhando ao redor para ver se mais alguém havia visto aquilo, mas apenas nós estávamos na sala. – Como você...- Não completei a pergunta pois Vikram se colocou de pé tirando também a touca da cabeça do garoto revelando que ele também possuía orelhas exatamente como as do híbrido ao meu lado. Na verdade, as dele eram pretas quase se camuflando em seu cabelo. Espantado por ver ele sorrir mostrando seus caninos afiados, eu levei uma de minhas mãos até minha boca tentando disfarçar meu assombro. Então Vikram não era o único? – Você também é... esquisito? Perguntei abismado e ele semicerrou os olhos para mim mostrando seus caninos mais uma vez sibilando para mim. Eu apenas levantei meus braços assustado, mas Vikram se colocou em minha frente devolvendo o ato com seu nariz franzido provavelmente não gostando muito de ver aquele garoto sibilar para mim. – A palavra certa é híbrido, okay? Isso fere meus sentimentos. O moreno exagera nem um pouco intimidado pelo híbrido que estava comigo e eu fiquei hipnotizado com suas orelhas pretas balançando acima de sua cabeça. Ele estala os dedos na frente de seu rosto me tirando de meus devaneios. – Meu rosto é aqui, bonitinho. Sinalizou ele apontando para o próprio rosto. – Mas me diga... o que traz um híbrido tão burrinho até um lugar tão perigoso? Ele diz passando a mão em uma das orelhas de Vikram com um sorriso ladino e vejo o mesmo se encolher com o toque porque ela provavelmente ainda doía. – Não é da sua conta! Afastei a mão dele e sentei Vikram ao meu lado novamente mantendo aquele garoto longe dele. O moreno revirou os olhos se sentando de frente para nós deixando seu livro de lado. – Meu nome é Nikita. Nikita Bruyne. Ele comentou olhando para suas unhas tingidas de preto. – E o de vocês? Eu conheço poucos híbridos por aqui. Uma pergunta seguida de uma afirmação não nos deixando responder já emendando em outra: – Nós precisamos nos aliar, certo? Suspendi minhas sobrancelhas processando as informações. Como assim ele conhece poucos híbridos por aqui? Existem mais? Se existem mais, como eles não foram descobertos até agora? De onde todas essas aberrações estão vindo? Será que existe algum vazamento tóxico em algum lugar? Será que isso é transmissível? Se for eu já devo estar mais do que contaminado. – Eu Vikram, ele Armin! Animadinho ao meu lado, ele respondeu antes que eu pudesse fazer todas as perguntas que eu queria mas, mesmo eu querendo me manter quieto, não consegui contê-las por muito tempo. – Existem mais de vocês por aqui? Perguntei curioso e ele bufou voltando seus olhos entediados para mim. Estava mais do que óbvio que ele não tinha ido com a minha cara, mas eu precisava saber mais sobre esse assunto. Talvez assim eu pudesse achar a família de Vikram e finalmente ver ele voltar para a sua casa são e salvo e me livrar de um imenso problema em minha vida. Sinto muito por ele e tudo mais, mas eu não estava disposto a criar um bichinho de estimação neste momento. – É claro! No terceiro ano B tem um coelho, no segundo A tem um raposa, e no prédio três tem gêmeos cachorros... Ele foi dizendo e eu fiquei cada vez mais chocado. Então existiam de vários animais? Como deve ser os de cachorro? Minha nossa, isso era completamente bizarro e assustador. Como vivemos por tanto tempo convivendo com esses híbridos sem nunca ter notado nada? [...] Assim que a aula acabou e terminamos de cumprimentar a professora eu juntei minhas coisas rapidamente e coloquei no colo de Vikram que estava sentado observando todos os movimentos que eu fazia. – Fique aí. Eu vou resolver algo e já volto. Ordenei baixinho e ele afirmou debruçando na janela mais uma vez e sorri percebendo que ele gostara bastante de ficar ali observando as pessoas transitarem de um lado para o outro. Isso de alguma forma me ajudou bastante hoje, já que não sei o que faria se ele não tivesse ficado tão quieto. Então, já com um objetivo em mente eu saio da sala e, como previsto, Victor estava em um dos armários guardando suas coisas. Raiva era o que me movia. Eu estava com raiva de tudo o que aquele Goldberg representava em minha vida no momento. Papai nem mesmo esperou minha mãe esfriar no túmulo para me vender ao primeiro que aparecesse, e isso eu nunca irei perdoar. Ou melhor: Nunca iria me submeter. Mas naquele momento a raiva que eu estava sentindo também estava - em sua grande parte - sendo alimentada pelo que ele fez com Vikram. Sendo assim, fui até ele e o empurrei vendo que todos já estavam nos olhando assombrados, já que normalmente garotos como eu (com essa droga de defeito genético) fazem o tipinho de frágeis e intocáveis, mas eu tinha algo muito mais importante para resolver e não tinha tempo para esses esteriótipos ridículos. – Seu covarde! Soquei seu peito com meus dois punhos várias vezes vendo ele tentar se esquivar na terceira ou quarta vez. Minha voz estava um fiasco, meus grunhidos de ódio apenas eram ouvidos por ele. – Você nunca mais encoste um dedo nele, tá me escutando?! Me aproximei dele ao dizer aquilo segurando no meio de sua camisa a amarrotado e vendo ele apenas me observar de braços cruzados. Ele possuía uma expressão neutra não parecendo muito afetado por meus protestos. – Você pode até ter algum direito sobre mim, mas nele você não encosta! Garanti empurrando ele novamente e apontando com o indicador para o seu rosto de dentes trincados. Ele apenas riu fechando seu armário. Abaixou minha mão e beijou a mesma tão hipócrita que eu só fiz rir em incredulidade. – Meu bem, fique calmo, okay? Pediu ele com falsa mansidão em sua voz e um olhar dominante óbvio para mim, mas imperceptível para quem nos olhava. Eu sabia que ele estava fazendo o joguinho vitimista para que todos em nossa volta achassem que eu era a surtada e ele o anjo, quando na verdade na prática isso não funciona bem assim. – Não vamos estragar nosso noivado por causa de um garoto tão sujo quanto ele. Ele murmurou sorrindo como um ótimo ator, e eu não pude crer que eu estava escutando aquilo. Vikram? Sujo? Acho que ele está meio confuso nos papéis. – Você é inacreditável. Me desvencilhei dele com um riso sem humor o afastando de mim com extremado nojo daquilo tudo. – Você está avisado, Goldberg. Concluí por fim andando na direção contrária de onde ele estava esperando que nunca mais o visse. Como ele tem coragem de falar de Vikram assim?! Ele nem ao menos conhece o garoto. Tudo isso por causa desse noivado ridículo e sem sentido. Minha cabeça estava explodindo, eu apenas precisava ir para casa.
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