Capítulo 8 - Acidente

2445 Words
Armin POV Depois de voltar para casa e nos despedir de Theodore, eu decidi que hoje eu não expulsaria o híbrido daqui. Sei que não era certo mantê-lo em um lugar onde é arriscado tanto para mim quanto para ele, mas não tínhamos muitas opções além dessa. Desço com Vikram até a sala onde encontrei ele no porão, ele fez bico na hora que eu soltei a mão dele, mas não me rendi facilmente. – Armin deixar Vikram? Vikram não pode ficar com Armin? Ele pergunta com os olhos azuis marejados e eu sinto que meu coração se partiria a qualquer momento ao ver aquela cena. Se você pudesse vizualizar o que eu estava visualizando, você entenderia que é extremamente difícil dizer não para esse híbrido. A beleza exótica, o brilho em seus olhos, sua voz masculina mas ao mesmo tempo inofensiva. Tudo milimetricamente feito para me deixar doido. Mas eu não podia simplesmente andar com Vikram para lá e para cá achando que tudo ficaria bem. Muitas pessoas já tinham nos visto na escola juntos, inclusive Victor. Talvez ele tenha sido o pior deles, já que se uma palavra escapasse de seus lábios em direção a papai eu estaria morto. E por isso eu precisava poupar a minha imagem e a do híbrido, pois se qualquer coisa fosse dita, ambos teríamos álibis coerentes com nossa situação. – Eu prometo que volto mais tarde com alguma coisa bem gostosa para você, okay? Tentei convencê-lo a todo custo a ficar alí e ele afirmou meio cabisbaixo não parecendo muito convencido. Eu sabia que ele se sentia muito solitário naquele lugar, mas eu realmente não podia arriscar nossas vidas daquela maneira. Por hoje todos os riscos já foram suficientes. – Fique bem quietinho e não deixe ninguém te ver aqui! O alertei vendo ele afirmar mais uma vez e me abraçar novamente e eu o afastei ainda não muito confortável com essas demonstrações de afeto exacerbadas. Esse garoto definitivamente não é daqui, ou pelo menos não tem boas maneiras, já que ele deveria saber que não se deve sair abraçando pessoas assim. Principalmente homens como eu os quais precisamos manter nossa castidade a qualquer custo. – Me prometa que não vai deixar ninguém te ver. Prometa! Estendi meu dedinho e vi ele sorrir bobinho por ver que eu repeti sua prática infantil. Ele juntou seu dedinho com o meu e depois nossos polegares. – Vikram promete! Me sinto um pouco mais aliviado, então deixo ele lá me lembrando de que depois precisava trocar seus curativos. Apenas de pensar sobre isso meu sangue ferve novamente. Goldberg não sabe com quem está se metendo. E muito provavelmente eu também não sei onde me meti. Aquele problema não era só uma via de mão dupla como também era uma autoestrada gigantesca. Subindo as escadas e fechando a porta atrás de mim eu me viro para seguir meu caminho, mas acabo dando de cara em Aric com seu uniforme de hipismo e ele pende a cabeça para o lado semicerrando seus olhos e sorriu. Senti minhas costas gelarem e meu espírito ir dar uma volta sem mim. Se você tem um segredo e não quer que ele seja descoberto, a pessoa para qual você vai confiar esse segredo não deve ser Aric Black. E eu - coincidentemente - acabei de sair do local onde meu maior segredo está escondido e dei de cara com o maior fofoqueiro das galáxias. Sorte? Pode se assim dizer. – Irmãozinho, posso saber o que você fazia no porão? Ele diz desconfiado naquele seu tom de voz sugestivo batendo com suas botas de couro até mim e eu balanço a cabeça como se nada tivesse feito olhando para aquele baixinho ruivo. O danado podia ser fofoqueiro, mas era bonito, viu? Ele se parece bastante com a mamãe, principalmente seu sorriso, e isso é uma das coisas que mais doem pois sei que nunca mais poderei ver o sorriso dela. Mas Deus foi bom comigo me presenteando com um irmão com um sorriso idêntico ao de mamãe. Cabelos ruivos, sorriso brilhante, baixa estatura, corpo empinado e de curvas sinuosas. Ele deixava qualquer um com inveja de sua aparência. – Fui apenas buscar algo... só isso. Menti e já ia saindo para tentar despistá-lo, mas ele se colocou em minha frente rindo levado e semicerrando seus olhos. – Então por quê eu não vejo nada em suas mãos? Ele perguntou em um tom ardiloso e eu teria ficado sem palavras para respondê-lo se já não estivesse mais do que acostumado com o interrogatório de Aric. – Não achei o que procurava. Respondi simplista vendo ele suspender uma de suas sobrancelhas. – Mais alguma coisa Sr. Aric?! Perguntei áspero e ele ergueu as mãos rendido entre risos pseudo-inocentes. Assim que consegui me livrar daquele chato eu respirei aliviado por ter conseguido a façanha de despistar ele. Desde bem pequeno ele tem esse "talento" de não deixar nenhum detalhe passar por seus olhos, por isso que mamãe sempre incentivou ele a ser o que ele mais queria. Detetive. Bom, já posso esperar muitos problemas vindos dele no futuro, mas agora tudo o que eu precisava era de um bom banho e um enorme prato de comida. [...] Sentados na mesa todos estávamos calados esperando papai chegar para começarmos a comer, já que éramos proibidos de o fazer sem ele. Olhei para Arzhel, meu irmão mais velho, e vi que ele ainda estava com a roupa que havia saído de manhã para a faculdade. Realmente algo estranho, já que a primeira coisa que ele fazia ao chegar era tomar banho e colocar uma roupa mais casual. Não mencionei sua aparência, mas Arzhel era taciturno, rosto sisudo, cabelos castanho claros e olhos escuros. Parecia muito com o nosso pai, e talvez isso o fizesse ser tão amargo. Ele odiava ser comparado com o papai. – Arzzie... está tudo bem? Perguntei usando um tom de voz baixo e ele levantou o rosto sorrindo forçado achando que eu não iria notar. Como se eu não o conhecesse suficientemente bem para isso. – Oh sim, estou apenas um pouco cansado e...- Ele ia terminar sua frase quando a risada rouca pelos anos de fumante de meu pai o cortou pouco interessado. – Cansado de quê?! Sua pergunta exclamada nos fez ficar quietos diante da óbvia ditadura em que vivíamos. – Vocês reclamam de barriga cheia! Desdenhou ele rindo como se aquilo fosse a piada mais engraçada do mundo. – Eu sou o único que realmente se esforça aqui para manter os caprichos de vocês! Ele disse por fim apagando seu charuto em um cinzeiro que uma empregada carregava andando logo atrás de si. Olhei discretamente para Aric ao meu lado e vi ele revirar os olhos sentado de qualquer jeito na cadeira, então eu bati em suas pernas para ele se sentar direito. Antes eu do que o papai. – Todos sabemos que a maior parte do que possuímos vem da família da mamãe. Escutei ele murmurar com uma careta sem medo da morte e pelo visto papai quase escutou pois ergueu uma sobrancelha para ele. – Disse alguma coisa, Aric? Perguntou ele e Aric sorriu falso negando como um bom menino e eu abafei meu riso diante daquela situação quase cômica. Vi que Arzhel mantinha sua cabeça baixa sem falar muita coisa. Eu sinceramente tinha muita pena de Arzhel, pois sabia que papai colocava muita pressão nele por ser o mais velho. Ele simplesmente colocava o peso de tudo nas costas dele dizendo o tempo todo que ele tinha que ser o melhor dos melhores já que iria herdar a nossa empresa. E ele, que tinha o sonho de viver como um grande autor de poesias, teve que abandonar seu sonho. Ao menos papai deixou ele se formar em literatura inglesa enquanto mamãe ainda era viva, pois ela vivia dizendo que nós deveríamos fazer o que queríamos. Mas assim que mamãe adoeceu, ele matriculou Arzhel em uma faculdade de administração. Mesmo meu irmão sendo sempre muito calado, eu sabia que havia alguma coisa que ele sabia que eu e Aric não sabíamos. De qualquer maneira, não podíamos perguntar nem se quiséssemos, já que ele quase não aparece em casa por ser muito ocupado. – Victor me contou que encontrou com você na escola hoje. Papai disse dando uma garfada em seu bife e eu engoli a comida com dificuldade ao escutar aquele nome acidentalmente me lembrando de que tinha deixado Vikram sozinho no porão. Nada respondi, deixei que ele falasse do quão feliz ele estava por ver que eu e o filho dos Goldberg estávamos nos dando bem e toda aquela baboseira que eu sabia que ele não sentia nada daquilo. O único interesse que ele tinha sobre esse assunto era a aquisição que ele faria com a união das famílias. – Boa noite, papai. Boa noite, irmãozão. Boa noite, Ricky-Ricky. Disse dando um beijo na bochecha de cada um me despedindo - e fazendo questão de chamar Aric por aquele apelido que ele odiava - e indo para o meu quarto sentindo que minha mente ia explodir a qualquer momento. Eu estava pensando em tantas coisas ao mesmo tempo que eu até me esqueci de que eu ainda nem tinha tirado o meu uniforme. Ri pegando meu pijama e indo em direção ao banheiro. [...] Assim que eu percebi que as luzes da casa estavam sendo desligadas pelos empregados, eu coloquei a cabeça para fora do quarto e, em passos leves, fui até uma das cozinhas abrindo a geladeira e procurando por alguma coisa que Vikram pudesse gostar. Procurei bastante até encontrar um pote cheio de bolinhos de arroz recheados com algo provavelmente doce. Logo supus, que por ele gostar de coisas calóricas, ele certamente iria gostar disso. Peguei uma garrafa de leite e também um kit de primeiros socorros e me esquivei pelo hall vendo que os seguranças estavam distraídos. Com o coração quase saltando pela boca eu fiz o máximo de esforço possível para segurar tudo em meus braços e andar discretamente sem fazer barulho algum. Desci as escadas rapidamente e entrei naquela sala onde havia deixado o híbrido e liguei a luz. – Vikram! Eu trouxe docinhos! Chamei por ele e logo em seguida vi suas orelhas brotarem de trás de um móvel e logo em seguida vi seus olhos curiosos me procurando pela sala até me achar perto da porta. – Armin voltou mesmo! Ele exclamou com seu rosto se iluminando por ter me visto. Saltando de trás do móvel que estava escondido, vejo que ele estava de pijama o qual ele provavelmente achou por aí, já que eu não sabia onde ele tomava banho e pegava suas roupas. Vi que o rabinho dele ficava por cima quase fazendo seu short sair e arregalei os olhos sabendo que aquilo cairia a qualquer momento se eu não o ajudasse. Mesmo depois de tanto tempo com suas anomalias ele não aprendeu nada? Ou será que ele adquiriu isso há pouco tempo? Balancei minha cabeça dispersando meus pensamentos e depositei tudo o que carregava sobre uma mesinha que tinha por ali. Abrindo o kit de primeiros socorros pegando uma tesourinha para gazes e esparadrapos eu chamei Vikram com um gesto. – Vem cá! Ele olhou para o objeto em minhas mãos receoso, mas me obedeceu. Então o virei fazendo um pequeno talho em seu short e passei sua cauda pelo mesmo enquanto ele tentava espiar o que eu estava fazendo curioso. – Pronto! Terminei e ele sorriu abanando seu rabinho me fazendo rir. Aquilo era realmente muito interessante de se observar. Obviamente eu ainda não estava acostumado com essa realidade, mas Vikram conseguia fazer qualquer um se sentir simpatizado com ele. Ele cheirou o pote dos bolinhos curioso para saber o que era e eu abri o pote empurrando para ele que não hesitou em pegar um e provar. Vi seus olhos se arregalarem e suas pupilas aumentarem consideravelmente me deixando paralisado por causa de sua beleza mais uma vez. De fato era uma visão diferenciada. Abri a garrafa de leite para ele que cheirou e abriu um sorriso largo parecendo reconhecer no mesmo segundo do que se tratava o líquido na garrafa. – Leite! Ele pegou a garrafa com as duas mãos e deu uma boa golada no leite. Sorri pequeno pelo palpite assertivo. Por ter algumas características de gato, eu supus que ele gostava de leite. E pelo visto supus certo. Enquanto ele comia eu refiz o curativo de sua cauda escutando ele cantarolar uma canção de ninar me fazendo ficar mais uma vez embasbacado. A voz dele era muito bonita, de um tom diferenciado, e isso me fez parar um pouco o que eu estava fazendo apenas para escutar. Eu definitivamente não estava esperando isso de alguém como ele. Se Theo souber que ele canta assim, ele certamente vai ficar enciumado não gostando nada de que eu esteja desfrutando dos agudos de outra pessoa. E pelo visto Vikram percebeu que eu parei para prestar atenção pois vi suas orelhas humanas se tornarem vermelhas e sua voz diminuir pouco a pouco acanhada. Sorri levemente levando minhas mãos agora para sua orelha ferida e escutei ele resmungar pelo desconforto. Ele se virou para mim para que eu pudesse ficar numa posição boa para passar o remédio. Sua cabeça estava inclinada de maneira que sua testa estava em meu peito. Me afastei um pouco desconfortável pela proximidade e tentei continuar o serviço. Em minha defesa, eu nunca estive tão perto assim de um homem estranho em toda a minha vida, já qus fui criado para ser puro e virgem até que eu fosse vendido pelo melhor lance que oferecessem. Senti meu rosto esquentar e me sentei em meus tornozelos tentando fazer isso sem chegar muito perto dele mas era meio impossível, já que suas orelhas felinas ficavam exatamente sobre sua cabeça. – Abaixa um pouco a cabeça. Pedi vendo que ele subia o rosto várias vezes querendo ver o que eu estava fazendo e ele conseguiu se manter quieto por alguns segundos e eu pude terminar o curativo. – Terminei. Concluí baixinho, mas achando ter visto mais algum machucado perto de sua testa eu me aproximei tentando enxergar para ver se precisava ou não de um curativo ou se precisava apenas de remédio. Mas, após ouvir meu murmúrio ele levantou a cabeça, resultando em um pequeno selinho acidental. Me afastei rapidamente como se tivesse levado uma descarga elétrica, mas vi que ele me encarava confuso sem entender o que podia ter acontecido de tão r**m e eu senti todo o sangue ir para o meu rosto me fazendo corar violentamente. Oh não...
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD