Capítulo 11 - Carta

2778 Words
Cantando todas as sílabas e palavras com total expressividade, Theodore cativava a todos com sua voz impactante e envolvente. Olhei de soslaio para Vikram que tinha seus olhos brilhando e sorri vendo que ele estava espantado com a voz de Theo. Na verdade, não havia ninguém alí que não estivesse impactado com a potência vocal de Theodore Silver sobre o palco. Assim que a última música acaba todos aplaudem de pé enquanto Theo secava suas lágrimas que rolaram durante sua performance. Sorrio orgulhoso de seu desempenho e escuto um resmungo de Vikram: - Acabou? Já? Disse o moreno fazendo um enorme bico descontente e eu sorri pequeno por perceber que ele tinha realmente gostado da voz do Theo. - Se você quiser, Theo vai adorar cantar todos os dias para você! Tentei ser mais agradável a fim de ver até onde ele estava chateado comigo, então ele sorriu suavemente mostrando seu adorável sorriso de coelho. - Vai mesmo?! Ele respondeu, mas de longe, onde ele quase nunca ficava. Em uma situação como essa ele teria me dado um abraço surpresa supondo do pouco que conhecia dele. Ao longe, pude ver que Victor me encarava com os olhos fulminantes. Entendi de pronto que ele não estava apenas com raiva de mim por ter usado ele somente como uma ponte para fora de casa, mas também estava com raiva de Vikram. De alguma maneira ele pensava que Vikram deveria ser uma ameaça ao nosso casamento de alguma forma, quando na verdade ele não tinha absolutamente nada a ver com o motivo de eu não querer me casar com o Goldberg. Eu simplesmente não queria me casar com ele porque não o amo e porque sou jovem demais para me casar. Mas percebi que, para Victor, a presença do híbrido significava ameaça, e isso ele não estava aparentando gostar muito. Somente comecei a temer o que ele poderia fazer quando ele começou a se aproximar, contudo eu fui mais rápido puxando o pulso de Vikram saindo pela porta de emergência, e no meio do caminho comecei sentir uma resistência em nossos passos. Contudo, quando fui me virar para ver o que tinha ocorrido, percebi que Vikram estava sendo segurado por Victor pela manga de seu paletó. - Vocês se acham muito espertinhos, não é mesmo?! Ele diz com seus olhos transbordando raiva e seu nariz torcido de nojo. Era evidente do que ele estava falando e eu não me importava com o que ele pensava ou deixava de pensar, e sim com o que ele faria com o inocente dessa história que, nesse caso, era Vikram. Puxei o híbrido para que Victor não o alcançasse mais e vi que o Goldberg riu sem crer que eu ainda sob pressão defenderia o felino. - Não culpe ele de um assunto que é apenas nosso, Victor. Dessa vez eu usei um tom de pedido, me submetendo para que ele apenas nos deixasse ir sem mais transtornos. Vi ele balançar a cabeça como se eu fosse o único i****a daquela história toda. - Como você não consegue ver um palmo a sua frente, seu e******o?! Ralhou ele agora vindo em minha direção falando acima de meu rosto quase cuspindo no mesmo. - Você que não enxerga a realidade aqui! Gritei sobrecarregado por ter ele me pressionando daquela maneira e por saber que qualquer coisa que ele fizesse contra mim eu não conseguiria me defender. E ainda tinha Vikram, que eu precisava manter escondido dos olhos de todos e impedir que Victor machucasse ele. Talvez percebendo que ser agressivo comigo apenas iria me deixar mais e mais nervoso, Victor respirou fundo e tentou tocar em meu rosto mas eu esquivei. - Meu príncipe, veja, eu quero apenas o seu bem... Ele explicou em um tom calmo e eu franzi meu cenho sentindo meus ombros enrrijecerem. - Meu bem? Você machucou o Vikram! Exclamei indignado apontando com meu indicador para o seu rosto vendo ele fechar sua expressão antes - falsamente - compreensiva. - Como isso pode ser para o meu bem?! Eu já sentia minha garganta queimar por perceber que eu não iria ganhar essa briga e nem mesmo sair dessa cilada facilmente. - Armin, meu amor, não dificulte as coisas para mim. Vi ele mais uma vez usar de seu tom polido, mas dessa vez com seu maxilar cerrado e com uma mão pegando em meu braço na altura do bíceps apertando com força. Gemi de dor tentando rapidamente retirar sua mão para que cessasse o aperto, mas ele parecia ter uma força mil vezes superior a minha. - Chega! Um rosnar alto reverberou pelo corredor vazio e quando senti meu braço ser solto eu esperava ver alguém como Kai ou meu irmão mais velho me defendendo, ou até mesmo Theo, mas nunca quem realmente se pôs entre mim e Victor com extremada ousadia. - Seu problema é comigo, Victor. A voz grossa de Vikram fora ouvida e meus olhos se arregalaram automaticamente. Vikram estava em minha frente com as orelhas enfezadas que certamente fizeram o chapéu deslizar de sua cabeça, seu corpo estava tenso e sua cauda balançava lentamente de um lado para o outro pronto para o ataque. O que exatamente estava acontecendo aqui? Desde quando Vikram possui tanta coragem assim? E como assim o problema é com ele? Eles nem mesmo se conhecem! Vi Victor rir ao que o felino sibilava o afastando de mim mais e mais, então eu quis puxar o moreno para mais perto de mim, mas ele não permitiu. - Não há nada que você possa fazer, Vicky. Debochado, o mais alto mostrou um sorriso largo mostrando seus dentes tão bem alinhados que eu diria que nenhum ser humano os tem neste mesmo formato. - Armin é meu noivo, e eu já te disse para não se meter nisso! Goldberg tentou passar por Vikram que o chutou para longe sem hesitar e nem fazer muita força. Parecia que o híbrido já estava acostumado com aquela sua força descomunal que eu nunca havia percebido que ele tinha. Senti meu corpo tremer ao perceber que estava lidando com alguém mais perigoso do que eu pensava que era esse tempo todo. Eu estava paralisado alí sem saber o que fazer, e foi nessa hora que Vikram se virou para mim me fazendo ver algo totalmente diferente em seu olhar. Algo que eu nunca tinha visto nele. - Sai daqui! Agora! Ele gritou já correndo em direção ao Goldberg caído e eu não tive nenhuma opção além de obedecer. Vi Victor começar a se erguer e pude jurar que tive um vislumbre de seus olhos alternando a cor para o vermelho por um segundo, mas nessa altura do campeonato eu já não sabia mais diferenciar o real do imaginário. Narradora POV - Eu vou fazer com você o que eu já deveria ter feito a muito tempo... Ralhou o mais novo avançando com os braços em direção ao pescoço de Vikram que ia cravar os dentes nele, porém se lembrou de que havia prometido a si mesmo que não iria se rebaixar ao nível de Victor. Então ele apenas o empurrou mais uma vez encarando ele nos olhos sem medo nenhum. Vikram estava cansado. Ele queria apenas paz. Era tudo o que ele queria, ou melhor, tudo o que ele precisava. - Deixe Armin em paz, Vic! Você não precisa disso... Quase implorando, o híbrido ergueu as mãos em sinal de paz e o mais alto riu e logo em seguida socou a parede com raiva abrindo algumas feridas em sua própria mão. Não. Victor Goldberg não desistiria tão facilmente. Fazia parte do que ele era. Fazia parte do que ele precisava ser. - Preciso! Eu sou o herdeiro dos Goldberg! Em um grito gutural Victor se mostrou transtornado, mas o mais velho apenas queria que aquilo acabasse. Que aquela guerra toda tivesse um fim. - Chega, Victor! Você vai acabar...- Antes que o moreno pudesse terminar sua sentença e até mesmo chegar perto de convencer o Goldberg em sua frente, a porta foi aberta por um mais novo que procurava pelo irmão mais do que confuso. - Vocês estão brigando? Mais uma vez?! O moreno foi até a cena percebendo que os dois mais velhos se mantiveram mais calados após sua entrada no local. - Victor, pelo amor de Deus enterre de uma vez isso! Danny disse segurando em um dos braços do irmão mais velho tentando conter a raiva dele ou pelo menos o ajudar a levantar, mas o mesmo se debateu segurando Vikram pela gola do paletó. Sua expressão era raivosa, sua boca espumava e seus olhos brilhavam em um vermelho vivo. A cena que aterrorizava o pobre Danny que temia em intervir apenas deixava Vikram com mais e mais pena do mais novo. - Eu terei tudo, Vikram. Garantiu o mais alto com um sorriso forçado. - A empresa, o status, o Armin... Numerou ele se sentindo cada vez mais frustrado por perceber que o híbrido não aparentava estar nem um pouco assustado. Muito pelo contrário, naquele momento, Victor tremia sabendo bem do que o moreno seria capaz de fazer caso ele realmente quisesse revidar. - ...e no final você só terá a opção de morrer de fome sozinho! Recitou sem pensar muito em suas palavras e nas consequências das mesmas. A raiva estava o deixando mais do que cego. Estava o enlouquecendo aos poucos. - Coisa que você já deveria ter feito. Cuspiu no rosto firme do híbrido que, por fim, limpou a ofensa calado com submissão e recebeu um olhar meio culpado vindo de Danny que cedeu seu lenço de bolso para ele. - Volte para o buraco de onde você saiu e... Hesitou Danny depois de ver Victor sair como um raio. - ...por favor irmão, não saia mais. Suplicou o moreno saindo atrás de seu outro irmão. [...] Armin queria mais do que uma simples explicação para tudo aquilo que ele presenciara no teatro. Ele queria respostas. Tudo parecia que precisava de uma explicação, inclusive o híbrido. - O que foi aquilo, Vikram?! Armin perguntou para o híbrido que sorriu fingindo que nada tinha acontecido. Era o melhor a se fazer, certo? Certo. - Como vocês se conhecem?! Insistiu ele indignado por ver que o felino não iria dar nenhuma resposta e que ele teria que ficar com mais um milhão de perguntas acumuladas em sua mente já lotada delas. - Esqueça homem mau! Respondeu o moreno sorrindo meigo e simplista fingido novamente para Armin, este que apenas queria as infelizes respostas que procurava. O único problema é que Vikram nunca mais voltaria com seus pensamentos no passado. Nem mesmo sabia como fazer isso sem sentir aquela dor dilacerante e desgraçada. Ele estava vivo, bem e, principalmente, inteiro. Então era a única coisa que importava. [...] Armin POV O jeito que Victor ficou na frente de Vikram não saía de minha mente nem mesmo comigo deitado em minha cama pronto para dormir. O híbrido não me deixou ficar muito tempo com ele no porão o que era minimamente esquisito já que ele sempre me pedia para ficar mais um pouco, mas dessa vez ele praticamente me expulsou de lá sem pensar duas vezes com a desculpa de que ficou muito cansado e nem me abraçou. Não que eu faça questão disso, muito pelo contrário, eu até prefiro que ele pare com essa prática invasiva e muito libertina. Mas eu ficava pensando o tempo inteiro se ele se afastou porque eu o tratei daquela forma mais cedo ou se foi pela maneira que ele lidou com Victor hoje no teatro. Eu não queria ficar pensando muito nisso para não entrar em um circuito de perguntas maior ainda, mas a maneira como ele falou com Victor... Era tão íntimo. Se eu não soubesse que Vikram é alguém sozinho e que Goldberg só possuí os pais e o irmão de família, eu até poderia começar a criar algumas teorias novas. Mas como? Vikram era totalmente diferente dele, então parentesco com toda certeza estava fora de cogitação. Mas e se eles eram amigos? E se eles eram amantes?! Santo Deus! Abanei minha cabeça dispersando meus pensamentos com medo de onde minha mente libertina iria parar. E acabo sentindo algo estranho sob minhas cobertas e acho a carta que mamãe havia deixado para mim e sorri amargamente. - Tudo ficou tão difícil sem a senhora, mamãe... Murmurei olhando com cuidado para as letras na carta e até mesmo cocei meus olhos já que, por um momento, achei que aquela letra estava um pouco diferente da letra de mamãe. Talvez eu tenha estranhado apenas porque no dia li com os olhos muito embaçados de lágrimas, e agora estou lendo corretamente. Sem contar que mamãe já estava tão fraquinha... sua letra já não era mais como antes. Mas o que me deixou desconfiado de fato, foi quando eu levei o papel até meu rosto para tentar sentir seu cheiro de rosas frescas, mas ao invés disso senti o cheiro do perfume francês que papai havia trazido para Arzhel de sua viagem à França. Mamãe não usava perfume, e muito menos o de Arzhel. Ela sempre pedia para fazerem colônias de rosas de verdade para ela usar, e por isso ninguém possuía o mesmo cheiro que ela. E parando para observar atentamente, no verso do papel estavam as iniciais de Arzhel em marca d'água bem na pontinha quase que imperceptível para quem está muito abalado com uma perda recente. Ri incrédulo com o que eu estava vendo em minhas mãos. Te peguei no pulo, irmãozinho. [...] Mesmo me sentindo ainda em dúvida se devia fazer isso ou não, corri até o escritório de Arzhel no meio da madrugada. Sabia que talvez eu estivesse levantando suspeitas muito ridículas e incabíveis sobre meu irmão mais velho, o qual sempre se mostrou de perfeita índole, mas eu não podia deixar detalhes como estes passarem. E se minhas suspeitas fossem reais? Eu nem mesmo saberia como poderia olhar para o rosto de Arzzie após isso. Torcendo para que fosse mentira, revirei todas as gavetas até achar um pedaço de papel específico e meu coração errou uma batida ao ver que ele era quase idêntico ao que eu possuía. Mas...como? Abri a carta e percebi que a que mamãe havia me entregado era essa, e aquela que estava comigo era uma adulterada. Minhas pernas fraquejaram me fazendo cair sentado na cadeira atrás da escrivaninha. Arzhel realmente era capaz de fazer isso comigo? Com seu próprio irmão? E a pergunta mais importante: Por quê? Por qual motivo? No que isso o ajudaria, no que isso faria ele mais feliz? Tentando segurar qualquer pensamento prematuro em minha mente, começo a ler a carta. 31/09/1937 Oi, meu filho... Eu sei que a mamãe não tem sido muito presente durante toda a sua vida por causa de todos os nossos problemas, mas quero que primeiramente você saiba que eu te amo e amo seus irmãos mais do que tudo no mundo. Mas preciso que você faça algo por mim... Existe um bem muito precioso em nosso porão, cuide dele pois ele é Além de tudo, o final da carta foi rasgado na parte mais importante. Até verifiquei o verso e nas outras gavetas, procuro por pelas prateleiras, estantes e até mesmo pelo chão com as lágrimas penduradas em meus olhos. Aquela carta foi escrita meses antes da morte de mamãe. Ela já sabia que morreria? Por que ela não nos disse sobre sua doença? Qual foi o motivo que a levou a desistir da vida caso isso seja verdade? Existiam muitas coisas que estavam em branco em minha mente, eu precisava descobrir quem era Vikram, como ele veio parar aqui, como minha mãe sabia dele e não nos contou, o porquê de Arzhel ter trocado as cartas, o motivo de minha mãe ter escondido sobre sua doença e o mais importante: como tudo isso estava interligado. Exausto, me joguei no chão lendo e relendo aquele único pedacinho que não me dizia nada mais do que eu já sabia. - Mamãe... por favor, se você pode me escutar... A chamei com profunda dor por saber que nunca mais ouviria sua voz respondendo aos meus chamados. E parecia que doía mais ainda ao finalmente perceber que ela mesma havia se deixado adoecer dessa forma. - ...me ajude a achar o resto da carta e descobrir tudo! Supliquei com as mãos juntas na frente de meu rosto em uma prece quase amassando a única prova real de minhas teorias. - Eu prometo que cumprirei sua ordem, qualquer que seja ela! Disse pedindo de olhos fechados esperando esperançosamente que ela me escutasse.
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