Capítulo 17 - Anjinho mau

2636 Words
Armin POV Vikram, após que saímos da presença de Victor, deixou seus ombros caírem assim como suas orelhas. Interpretei aquilo como uma certa tristeza. Não podia afirmar nada por não saber da história, mas aparentemente ele não gostava de estar brigado com o irmão. Na verdade, quem gosta? Mas ele (em especial) estava aparentando estar bem murchinho. Então eu, me aproximando mais um pouco e tocando em seu braço com a ponta de meu indicador, eu tentei ajudar: – Se não quiser me mostrar a casa não precisa. Abanei com as duas mãos quando obtive sua atenção. - Em breve eu vou morar aqui mesmo. Tentei tranquilizar ele dando de ombros com um sorriso torto. Não deixava de ser verdade, afinal. Mas pelo visto o que era para ter feito ele rir só o deixou pior, já que seus olhos se tornaram afiados e as orelhas tombaram para trás em protesto. – Você não precisa se casar com ele. Ele se virou para mim completamente e, nesse ponto, já estávamos do lado de fora no jardim. A festa estava bem bonita e nós havíamos acabado de chegar, mas ninguém estava com clima para festas. No fim, não sabia o quanto andamos para acabar aqui, mas eu não me importava muito contanto que ele se alegrasse novamente. Ficaria extremamente contente em passar a noite inteirinha nesse jardim pegando sereno na cabeça, se em troca eu pudesse ver um sorriso sincero de Vikram novamente. Na verdade, eu queria era o antigo Vikram de volta. Ele saberia o que me dizer para me animar em um momento tão confuso quanto este. Pode até ser que de alguma maneira o antigo "ele" ainda esteja em minha frente, mas por que eu sentia que ele não era mais o mesmo comigo? Ele passou a mão pelos cabelos escuros e penteados os bagunçando e coçando uma de suas orelhas hibridas que acentuavam sua beleza surreal. – Eu preciso, okay?! Desabafei vendo ele trazer seus olhos para mim confuso e eu respirei fundo antes de continuar. – E-Eu... Hesitei em dizer ao dar de cara com seus olhos azuis me encarando como duas galáxias abertas em minha frente. O nervoso de tê-lo alí esperando eu dizer alguma coisa e a vergonha por não conseguir dizer nada estavam me consumindo. – A festa m*l começou, eu nem mesmo cumprimentei meus sogros... eu... Tentei escapar daquela situação que eu mesmo construí alí dando as costas para ele, mas senti meu braço ser segurado. – Por quê você precisa casar com ele? Você quer isso? Indagou ele chamando minha atenção para os seus olhos novamente, então olhei para a mão que segurava meu braço me encolhendo até ele perceber que seu toque não era tão bem vindo. – Por quê você fica me perguntando coisas tão óbvias? Rebati irritado e angustiado por não saber do que estávamos mais nos referindo naquele momento. Se era sobre o casamento, se era sobre meus sentimentos por Victor ou por outra coisa que nem eu sabia o quê. – Como você quer que eu não pergunte se você não responde nenhuma pergunta?! Transtornado dele enfiou os dedos por seus cabelos quase arrancando suas próprias orelhas junto. Estafado daquilo eu me coloquei de frente para ele e puxei bastante fôlego para falar. – Sim! Eu quero muito me casar com Victor! Senti meus olhos arderem já querendo marejar e me desposicionar diante de Vikram que certamente percebeu que eu estava blefando. – Eu quero dormir com ele, ter todos os filhos que ele quiser e o seguir como um escravo para todos os cantos! Ralhei com os dentes cerrados vendo seu olhar sobre mim se atenuar. – Armin... Escutei ele tentar me acalmar em um tom baixo, mas eu recuei para que ele não encostasse em mim. – Você não faz a menor ideia do que é ser a única pessoa na família que não serve para nada! Apontei com os olhos cheios de lágrimas e eu nem estava mais preocupado com a maquiagem que borraria. Seus olhos portavam uma culpa que eu não sabia identificar se era porque ele não queria me ver assim ou se era por minhas palavras. – Eu nasci defeituoso! Nem totalmente um homem e nem perto de ser uma mulher! Cuspi minhas palavras. – Meu único direito na família Black é de casar com um cara mais rico que eu para enriquecer mais a família! Eu nem sabia mais se conseguiria parar de falar a aquela altura, já que isso estava sendo como uma válvula de escape de tudo o que eu vivi nesses últimos dias, semanas, meses, anos... – E eu tenho que dar graças a Deus... Comentei já em um soluço começando a chorar sem conseguir enxergar Vikram por causa de minhas lágrimas. – Já que meu último amigo igual a mim teve que se casar com um cara com quase o quádruplo da idade dele! Enquanto dizia aquilo, me lembrava exatamente do dia em que foram buscar meu colega de classe na escola para assinar os papéis do casamento. Ele nunca mais voltou para a escola. Hoje ele deve ser pai de 5 filhos e um dono de casa em tempo integral apenas com 18 anos. – Victor é bonito, jovem e rico. Tudo o que eu preciso. Pontuei as características boas de meu noivo em meus dedos tentando apenas me convencer daquela mentira descarada, já que Vikram certamente sabia que aquilo era mentira. – Então sim, eu quero e vou me casar com ele! Finalizei em um fiapo de voz caindo sentado na borda da fonte que havia naquele jardim frondoso chorando como uma criança. De certa forma, aquele choro também era de alívio, já que finalmente estava colocando meus sentimentos para fora. Escutei um suspirar do híbrido sobreposto a música da festa e logo senti meus ombros serem cobertos pelo paletó preto que ele vestia outrora. – Vikram, não. Tentei me expressar baixinho enquanto ele ajeitava bem para que eu ficasse bem aquecido apenas me fazendo chorar mais. Nem mesmo ficar com raiva dele eu conseguia. E em meio a lágrimas eu consegui ver ele sorrindo mostrando seus dentinhos retos e de caninos afiados aquecendo meu coração dolorido de tanta surra que ele vem recebendo. – Você pode ser o que você quiser. Ele afastou meus cabelos de meus olhos e eu abaixei meu rosto desesperançoso enquanto secava meu rosto. – Eu sei como se sente, mas você não pode dizer que não serve para nada. Escutei a voz dele grave em um tom sério e comedido dizer aquilo como se ele tivesse ficado chateado por minha auto depreciação. – Mas é verdade. Funguei sem esperança sentindo o cheiro de Vikram me rodear por causa daquele paletó. – Não, não é. Rebateu ele mais uma vez sério e aparentando estar irritado com aquilo. – Então me diz para o que eu sirvo se você tem tanta certeza! Tentei pressioná-lo para que ele ficasse encurralado e desistisse daquele papinho motivacional e apenas me deixasse em paz. Mas meu rosto foi virado com brusquidão para ele que segurava o mesmo pelo queixo me deixando paralizado. Ele me fez ficar com meus olhos presos em suas pupilas dilatadas em níveis absurdos e inumanos. – Serve para me manter vivo. Eu estava prestes a me manifestar sobre aquela sua frase dita com convicção e certeza quando fomos interrompidos fazendo as orelhas de gato de Vikram se remexerem como doidas. – Irmãozão! Escuto a voz de Aric me procurando e eu arregalo os olhos para o híbrido que entende o recado e corre para dentro da mansão de volta e eu fingi estar apenas observando a lua. Assim que ele me encontra ele faz uma cara feia esbaforido aparentando ter andado bastante. – Onde estava?! Estava procurando por você e... Ele dizia afobado mas deixou sua frase morrer ao descer os olhos para meus ombros e ver o paletó que me rodeava. Sentindo a morte se aproximar de meu corpo, engoli a seco já que havia me esquecido completamente de devolver para Vikram no meio da correria. – Quem te deu isso, hein?! Safadinho! Ele riu fazendo sua maquiagem parecer mais macabra ainda e eu rio sem graça. – Meu noivo Victor que me deu. Alguma coisa contra?! Me coloquei de pé fazendo a cara que ele mesmo havia denominado como "assustadora" e vi ele recuar rindo nervoso. – N-Nada não, Arzhel está te chamando! Gritou ele já correndo para longe de mim finalmente me deixando respirar fundo aliviado. [...] Como uma pessoa normal e longe de ser adivinho, tentei imaginar milhões de possibilidades do que Arzhel queria falar comigo enquanto eu andava festa a dentro. A festa estava bonita, não sabia exatamente o que eles estavam festejando, mas as pessoas estavam se divertindo e rindo atoa. Muitas pessoas estavam fantasiadas de coisas genéricas como anjo, animais, fantasma e coisas do tipo. Raras excessões de pessoas que escolheram fantasias mais complexas e outras que preferiram vir sem fantasia. Mas, de todo, a maioria estava se divertindo despreocupadamente. Digo a maioria porque sei que eu, Vikram e Niki estávamos obviamente aqui por pura obrigação. Eu, por causa de meu noivado; Vikram, por minha causa; E Nikita, por causa de Vikram. Acho que o único de nosso grupinho que estava se divertindo mesmo era Theo que bebia um copo de ponche atrás do outro. Claro que aquilo havia me deixado alerta, já que ele nunca foi muito fã de suco, e por isso me fez supor que aquele ponche estava batizado. Balancei minha cabeça espantando meus pensamentos quando avistei meu irmão vestido de príncipe sentado em uma das mesas principais junto com o irmão mais novo de Victor. Eu sorri pequeno vendo o quão lindo ele estava ficando com o passar do tempo, e pelo visto não era só eu que via isso, já que várias garotas - e garotos - olhavam para ele e murmuravam coisas baixinho umas para as outras. – Arzzie! Me chamou? Exclamei fingindo uma felicidade falsa enquanto me aproximava mais dele. Senti os olhos do irmão mais novo de Victor me flagrarem, mas o ignorei. Arzhel me olhou e sorriu brevemente afirmando, porém diminuiu drasticamente ao que viu paletó de Vikram dobrado em meus braços. Senti um leve frio na barriga torcendo muito para que ele não insistisse muito em perguntar de quem era aquela peça. – Eu realmente espero que isso seja de seu noivo, por isso eu nem vou perguntar nada. Se levantando depois de acenar cordialmente para as pessoas que o acompanhavam naquela mesa, ele me advertiu e eu o segui sentindo que todos estavam querendo me matar do coração hoje. Em um canto um pouco mais afastado das pessoas, Arzhel respirou fundo passando a mão por sua franja apenas arrancando mais suspiros das garotas que nos observavam e colocou uma de suas mãos em meu ombro. – Eu sei que não é um dos melhores lugares para se discutir isso mas... Começando sua fala meio incerto, ele acariciou meu ombro com o polegar. – A partir de amanhã cedo vou mandar trancarem o porão, okay? Meu sangue gelou. Trancar o porão? Mas isso significa que Vikram não vai conseguir sair e nem eu vou conseguir entrar! – Eu já avisei ao Aric e ele concordou que aquela coisa velha não pode ficar aberta o tempo inteiro Eu não sabia mais como estavam as expressões em meu rosto, mas torcia para que elas não transparecessem meu desespero. – Sem contar que algumas empregadas disseram que existem ratos enormes lá embaixo. Ele fez uma careta exagerado e eu sabia que ele estava mentindo pelo simples fato de que a única coisa enorme que existe lá é um gato. Ou um quase gato. – Então vou chamar uma equipe de desratização também. Pontuou ele ainda apoiado em mentiras. – E é imprescindível que o local fique fechado para que isso aconteça. Ele gesticulou para mim certamente crendo que eu não fazia a menor ideia da existência do híbrido, quando na verdade ele que não fazia a menor ideia do que estava acontecendo. – Eu sei que você nem mesmo entra lá, porém aviso apenas por desencargo de consciência. Ele sorriu terno e eu não tive outra opção além de afirmar o dando razão. Coisa que no momento ele não tinha. – A chave ficará com o papai e com um dos seguranças para quem quiser entrar. Explicando aquilo como se (se eu não soubesse de tudo) aquilo não fosse nem um pouco suspeito de sua parte. – Mas serão contabilizadas as vezes e passadas em relatório para mim. Terminou de explicar firme enquanto negava a bebida que o garçom oferecia e eu ri internamente. Se ele soubesse que eu já sabia que ele havia descoberto toda a história, ele não seria tão óbvio. Ele provavelmente foi no porão como na carta de mamãe dizia para eu fazer e não achou Vikram, e por isso agora quer contabilizar quem entra e quem sai de lá até pegar o híbrido. Mas ele não contava com o fato de que Vikram não estava mais naquele porão e, se dependesse de mim, não voltaria mais. [...] Corria por entre os corredores da mansão Goldberg em busca de Vikram, mas cada corredor ou escada que eu subia parecia um labirinto cada vez mais interminável. Eu precisava avisar a ele sobre a nova ordem de Arzhel, pois se ele se aventurasse em entrar no porão sozinho, ele seria capturado e eu não poderia mais ajudá-lo. – Vikram? Onde você está? Murmurei a cada porta que eu passava, sabendo que ele me escutaria claramente por suas orelhas sensíveis. Talvez esse era a única vantagem em ter um amigo híbrido. Depois de muito procurar e ficar deslumbrado com cada detalhe daquela casa, eu encontro uma porta que possuía um cadeado, mas o mesmo aparentava estar arrombado. Eu tentei (juro) me manter longe daquele lugar e abafar minha curiosidade, mas utilizei do pretexto de encontrar o híbrido para entrar naquele cômodo. Então assim que eu adentrei no local, eu vi um quarto típico de um jovem. Possuía uma vitrola, rádio, uma cama grande, livros e uma escrivaninha. Todos em um tom escuro de madeira e todo o quarto tinha uma decoração meio náutica. No meio disso tudo, Vikram estava assentado no meio da cama com um livro em mãos e esfregando carinhosamente uma página vi uma lágrima cair de seus olhos. Suas orelhas se mexeram em minha direção me fazendo entender que ele já tinha percebido minha presença. – Vikram? Chamei e ele pareceu se assustar mesmo assim, e fechando o livro de súbito ele o colocou na estante no meio daqueles muitos outros. Ele se destacava por ser vermelho e menor que os outros, porém mais grosso. – O que houve? Perguntei um tanto quanto receoso vendo ele olhar para outra direção secando os olhos com sua cauda. Vikram POV – Nada. Apenas lembranças ruins. Respondi com um sorriso forçado olhando ao redor e me lembrando de cada segundo infernal que eu passei aqui após a morte de minha mãe. Ah sim, aquela que chamam de Sra. Goldberg é apenas mãe de Daniel, vulgo o melhor filho de CEO Vince Goldberg. Era uma longa história e tudo nela me fazia querer vomitar de nervoso, então eu preferia apenas me manter quieto sobre aquilo. – Ah, então não pense muito sobre isso, uh?! A voz um tanto engraçada e doce de Armin fez meus olhos se chocarem contra os dele e eu sorrio satisfeito com a ideia que eu formei em minha mente. Seria muito r**m eu roubar o noivo de meu irmão? Me perguntei. Sorri me aproximando dele que corou e se encolheu levemente. Não se ele foi seu primeiro. Escutei um anjinho do mau sussurrar em meu ouvido.
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