Capítulo 1 - Alguém dentro do porão!

2869 Words
Sejam bem vindos! Esse livro contém Mpreg, híbridos, conteúdo sensível e muito mais. O sistema é simples, os homens são divididos em concebedores ou não. Os concebedores podem gerar filhos assim como mulheres e são considerados motivo de vergonha para a sociedade da época, por isso casamentos arranjados eram sempre utilizados para obter lucro com acordos entre famílias ricas que tinham o infortúnio de ter um concebedor entre eles. Sim, o livro é gay. Se você não gosta, não lê. Beijos e tenham uma boa leitura! Armin POV – Meu bem, me prometa que você irá cuidar de seus irmãos quando eu me for... Via mamãe segurar a mão esquerda de Arzhel que parecia ser feito de pedra, pois apenas assentiu e abaixou sua cabeça sem nem mesmo dizer uma única palavra. Vendo o rosto pálido de mamãe e como ela se encontrava em sua cama que parecia grande demais (levando em consideração de que papai quase nunca dormia em casa) meu coração se apertava cada vez mais sem saber o que fazer. Estávamos de mãos atadas vendo ela adoecer e murchar aos poucos, temendo que a qualquer momento poderíamos receber uma notícia r**m. E ao ter ela trazendo seus olhos cor de mel cansados em minha direção eu quis desabar alí mesmo. Eu não era tão forte como Arzhel, eu queria abraçá-la e dizer que tudo ia ficar bem, mas sabia que isso não seria possível. Sabia bem que ela já não estava mais conseguindo ser feliz aqui, e que há tempos que ela sofre padecendo pouco a pouco. – Armin, se aproxime, meu doce... Ela me chama com sua voz quebradiça e eu engulo a seco secando minhas lágrimas e passando-as em meu conjunto rosa claro no qual ela tanto gostava de me ver vestido. Pensei que - ao menos assim - poderia fazê-la um pouco feliz, mesmo que em uma situação tão difícil. Sorrindo fraco reparando nisto, ela me puxa para um abraço na mesma intensidade e eu solucei não aguentando de tanta dor em meu peito. Eu não estava apenas chorando por vê-la naquela situação, e sim por antecipação do que eu já sabia que viria a seguir. Apenas não conseguia expressar em voz alta, mas sabia bem que não tinha como escapar disso. – Seja feliz, doce. Ame, seja amado, viva intensamente... Ela parou tossindo forte e isso pareceu drenar pouco a pouco seu vigor que já era pouco, e foi se tornando cada vez mais nulo. – Mãe... Murmurei e ela puxou algo do travesseiro ligeiramente enquanto Arzhel não aparentava estar nos observando e escondeu na palma de minhas mãos. Seus olhos me pediam descrição e eu assim o fiz, pois sabia que se ela não contara para ninguém sobre aquilo, era porque era necessário segredo absoluto. – Saiam daqui. Sua mãe precisa repousar sem essa ladainha de vocês! Papai entrou no quarto com os médicos de minha mãe e nos expulsou sem nem mesmo nos dar a chance de nos despedir. Ele já havia proibido meu irmão mais novo de entrar, o que fez Arzhel ferver em raiva, mas nos expulsar realmente foi algo muito c***l de sua parte. Vendo o papel ainda em minhas mãos eu o escondo em um dos bolsinhos de minha bermuda e vejo que meu irmão mais novo, Aric, nos esperava do lado de fora do quarto sem seu costumeiro sorriso arteiro. – Min, a mamãe vai ficar bem, não é? Ele perguntou com a voz levemente embargada e eu vou até ele me aconchegando em seus braços sem dizer ao menos uma palavra. Sinto, logo após isso, os braços grandes de Arzhel nos rodearem. Os soluços agudos de Aric logo se fizeram presentes, e eu apenas deixei minhas lágrimas silenciosas caírem fechando meus olhos. [...] – Meus pêsames a sua família, Sr. Black. Vejo o Sr. Goldberg, dono das indústrias Goldberg, apertar a mão de meu pai que não parecia muito comovido com a morte de mamãe. Eu já esperava isso vindo dele. Ele nunca demonstrou, mas ele não gostava nem um pouco da mamãe. Tanto eu quanto meus irmãos sabíamos que nós, incluindo nossa mãe, éramos meras aquisições que ele fez. Mas isso, aos olhos de todos, nunca foi e nem é uma possibilidade. Todos enxergam a família Black como um modelo de perfeição nunca antes atingido e, para manter essa posição, papai faria qualquer coisa. – Obrigado, Sr. Goldberg. Papai agradeceu brevemente, porém logo desviou o assunto. – E quanto aos negócios dos quais discutimos anteriormente, não se preocupe que... Abandonei a conversa lentamente ao ver que aquilo já havia começado a virar uma reunião de empresários, e não duas pessoas que prezavam pela vida de minha mãe e estavam ali para prestar suas condolências. Andei até o jazigo da família Black recém fechado e vi que algumas pessoas ainda se despediam de minha mãe e me senti aliviado ao ver Theodore, meu melhor amigo vindo ao longe e, sem se importar com que os outros iam dizer, ele me abraçou soluçando alto como uma criança. – Theteo, se acalme... eu sou o filho aqui, lembra? Disse baixinho tentando trazer o Theo sorridente de volta, mas eu vi que isso seria um tanto impossível agora. Ele provavelmente se sentia como eu pois fomos criados juntos, e como sua mãe também havia partido cedo, minha mãe cuidava dele como um filho todas as vezes que ele ficava em nossa casa. Ele estava grudado em mim como um carrapato e eu sentia meus olhos arderem mais uma vez com a vontade de chorar me invadindo novamente. Não podia acreditar que agora estaria sozinho no mundo sem ter minha melhor amiga por perto. Sei que ela está bem melhor agora sem ter que sofrer do jeito que ela sofria, mas ainda sim não deixava de ser dolorido. Mas antes que eu pudesse chorar novamente, senti um braço me puxar e me desgrudar de Theo com rispidez. – Ficou doido foi, Armin?! Arzhel sussurra com os olhos arregalados e pude ver em suas olheiras profundas e seus olhos vermelhos que ele nem mesmo cochilou esta noite. – Como você abraça um homem no meio de todos aqui?! Quer que o papai te dê uma surra no enterro de nossa mãe?! Completou ele exasperado e vi que Theo o encarava ainda choroso. Mesmo um pouco assustado por sua brusquidão, assenti dando razão a ele olhando para onde meu pai estava, vendo que havia se juntado mais um jovem na conversa deles que nos encarava sem nenhuma reserva. O Sr.Goldberg gesticulava e batia no ombro do jovem e logo em seguida ele e meu pai apertam as mãos rindo de algo certamente fútil. Afinal, a partir do momento em que você está rindo de algo no enterro da própria esposa, isso automaticamente se transtorna em algo fútil. – Quem é aquele? Perguntei quase que em um sussurro curiosa por nunca ter visto aquele garoto e Theo, que havia se acalmado um pouco, fungou e me respondeu: – O filho mais velho do Sr. Goldberg. Victor Goldberg. Esse nome não me é estranho, mas por qual motivo eu nunca havia o visto antes? E se ele nunca viera aqui, por quê agora? – Jovem mestre, está na hora do almoço. Um de nossos empregados anuncia e se curva indo embora. Respirei fundo mais uma vez lançando o olhar para onde meu pai e o Sr. Goldberg estavam, vendo que agora o tal Victor me olhava sem nenhuma reserva. Quando ia desviar meu olhar, vi ele acenar com a cabeça me cumprimentando silencioso. Então apenas respondi ao cumprimento puxando Theo para entrar em casa. [...] – Espero não estar sendo muito inconveniente, me juntando a vocês. Disse o Sr. Goldberg em uma condolência fingida. Sim, você está. Eu e meus irmãos, incluindo Theo, dizíamos com nossas expressões encarando a família Goldberg, composta por três membros, sentada conosco em nossa mesa. Acabamos de nos despedir de mamãe e meu pai já estava rindo e compartilhando a mesa com pessoas estranhas. Típico de sua parte. Nem sei porque ainda me surpreendo com esses seus gestos. – Onde está a educação de vocês?! Levantem-se e cumprimentem nossos convidados! Meu pai manda e assim o fazemos. Nos levantamos vagarosamente, nos curvamos e eu deixei uma lágrima cair em um prato vazio que repousava em minha frente. Era torturante ter que fingir que a morte de mamãe não significava nada para mim quando na verdade era o total oposto. – Esses são meus dois filhos, o amigo deles, e esse é meu filho do meio, um concebedor, do qual eu havia lhe falado. Papai nos apresentou, apontando para Arzhel, Aric, Theo e eu respectivamente. "Um concebedor" Odiava quando se referiam a mim daquela maneira desumana, como se apenas por ter nascido diferente dos meus irmãos isso me fizesse uma aberração da natureza, quando isso era mais do que normal em todo mundo. Mas não para a tradicional família Black que não aceita filhos homens com úteros. Papai possuía um sorriso amarelo no rosto, o qual normalmente precedia algo r**m. – Muito belo, de fato! Elogiou o Goldberg mais velho me fazendo ficar com um gosto amargo em minha boca sem entender muito bem quando que eu virei o tópico da conversa. Olhei para Arzhel que parecia saber de algo e pedi uma explicação com os olhos mas ele nem mesmo moveu um dedo. Olho para Theo que parecia estar tão perdido quanto eu, e Aric que estava abatido ainda não acreditando que perdemos nossa mãe e meu pai estava tratando de negócios menos de uma hora depois. Tinha pena de meu irmão caçula, ele era muito apegado em mamãe ainda e eu sabia que por causa disso ele seria o que mais iria sofrer na hora de se despedir. Ao olhar para frente meus olhos se chocam com os olhos castanhos profundos de Victor que bebericava com sutileza sua taça de vinho. Ele era um homem pomposo e bonito, posso assim dizer. Seu cabelo loiro estava bem penteado, seu terno de corte inglês e o anel em seu dedinho diziam muita coisa sobre ele. Aos poucos eu comecei a entender o que aquilo significava. Ri incrédulo. Era óbvio. Papai nunca abriria nossa residência para o velório de minha mãe. Tinha que ter um motivo. Ele nunca abria nossa casa para pessoas visitarem mamãe nem quando ela era viva, que dirá agora que ela se foi. Isso me cheirava a algum negócio ou contrato que envolvia dinheiro e interesses. E todas as minhas teorias foram comprovadas quando o prato principal foi servido. – Espero que meu Victor e Armin possam se dar muito bem! Sra. Goldberg diz com um sorriso obviamente forçado criando um clima terrível naquela mesa que já se encontrava em desarmonia. Como assim se dar muito bem?! – Onde está, Victor? Mostre o que você comprou para seu noivo! Após isto eu vi o loiro tirar uma aliança de noivado de seu bolso e eu me levantei abruptamente. Isso era além do inacreditável. Era um ato de tirania e covardia o que papai estava fazendo comigo e com meus irmãos. No momento em que estávamos mais sensíveis e vulneráveis ele me joga essa bomba esperando que eu simplesmente aceitasse por estar frágil. Isso apenas me mostrava que ele não nos amava. Não me amava. Nem mesmo amava mamãe. Ele apenas ama o dinheiro e mais nada. Minhas lágrimas desciam por meus olhos e eu encarei meu pai que parecia querer me fulminar vivo. – Nem pense nisso, Armin! Sente-se! Ele gritou e eu me sentei novamente não escondendo meu choro, e vi Victor dar a volta e ficar ao meu lado puxando sem nenhuma delicadeza minha mão esquerda e colocar o anel. Os adultos puxaram as palmas não dando voz ao nosso sofrimento e Arzhel também o fez de cabeça baixa, mas Theo e Aric se retiraram da mesa sem nem mesmo olhar para trás. Tentei fazer o mesmo, mas fui barrado por aquela grande barreira que era aquele homem loiro. Vi uma sombra de sorriso em seu rosto bem esculpido e logo em seguida ele se vira para meu pai. – Pai, posso levá-lo para conversar? Pai? Isso é sério?! Segundos atrás eu nem sabia que estava prestes a ficar noivo e agora esse cara - que supostamente é meu noivo - já está chamando o meu pai assim! Eu nem mesmo fui comunicado com antecedência, nem mesmo me perguntaram se era isso mesmo que eu queria ou se era esse o homem que eu queria para mim. Justo no pior dia da minha vida eles decidem fazer isso! Nem ao menos pensaram em mim, nos meus sentimentos. Não lembraram de que eu também sou humano. – Fique a vontade, filho! A partir de agora vocês precisam se dar muito bem. Meu pai responde rindo e brindando com o Sr. Goldberg que partilhava do mesmo sorriso vencedor. Dois magnatas podres. Que ambos apodreçam cada vez mais no veneno que são suas fortunas imundas! Quase que me arrastando, ele me puxa para fora da sala de jantar eu saio de perto dele vendo ele sorrir ladino e acender um charuto despretensioso. – Vai. Eu sei que você quer ir embora. Vai logo. Ele gesticula entediado e eu nem mesmo hesito em o fazer correndo para as escadas mais próximas e as descendo sabendo que por alí quase ninguém passava, então eu teria alguns segundos de paz pelo menos para chorar. [...] Correndo de meu destino premeditado, não acreditando naquilo que me propuseram, desço as escadas sem nem mesmo saber onde elas me levavam. Sabia que alí era o porão da casa, mas não sabia onde eu estava exatamente, já que ele é todo dividido em salas. Meus sapatos faziam um barulho gélido no mármore francês abaixo de meus pés que vez ou outra quase perdiam o compasso me fazendo cambalear. As lágrimas faziam meus olhos produzir imagens turvas e por isso, abri a primeira porta que vi em minha frente dando em um recinto escuro com muitos móveis em uma disposição esquisita. Como se alguém habitasse alí. Me desprendendo desse detalhe tão pequeno, me sento em um dos sofás de mogno forrados com um tecido muito confortável que eu não soube distinguir pela pseudo-escuridão do lugar. Desolado, me recosto fechando meus olhos que ardiam e ainda liberavam lágrimas que passeavam casualmente em meu rosto. Tudo estava tão confuso, eu estava com medo e perdido sem saber ao certo pelo que chorar. Mamãe se foi, papai definitivamente nos odeia, meus irmãos estão infelizes e agora eu tenho que casar com alguém que eu nunca vi em toda a minha vida. Se eu pudesse fechar meus olhos e apenas me transportar para outro mundo onde eu não tivesse que lidar com tudo isso... Respiro fundo tentando esconder meus soluços de mim mesmo, e quando não vi ser possível abri meus olhos gradualmente e ao me deparar com um par de olhos assustadoramente azuis eu dei um berro assustado me levantando de súbito. – Q-Quem é você? Minha voz soou trêmula e tudo a minha volta pareceu paralisar ao ver aquele sorriso como se eu fosse sua única salvação. – Vikram! Você mamãe de Vikram?! Ele responde e logo em seguida me pergunta abrindo um sorriso maior ainda e eu n**o veemente vendo seu sorriso murchar. Sinto meu coração apertar ao ver isso mas não tive tempo de desfazer pois ele sumiu nas sombras daquele lugar. Apressado eu corri até as pequenas janelas que haviam no lugar abrindo-as deixando a luz entrar. Com o ambiente iluminado procurei pelo garoto e o achei sobre uma escrivaninha velha sentado como se o mundo fosse uma salada de frutas e arregalei os olhos com a cena. Ele possuía orelhas e um r**o de gato, ambos negros como seu cabelo. Não, não, não... você não entendeu. Ele é um ser humano que possui orelhas e uma cauda de gato. Comecei a tossir descontrolado ao que eu percebi que não era uma fantasia, pois se mexiam involuntariamente com vida. Ele me olhava curioso tombando vez ou outra sua cabeça para aparentemente entender o que eu estava fazendo. Mas tudo o que eu conseguia era observá-lo com avidez por explicações. Seu corpo era esguio mas ao mesmo tempo másculo, ele tinha lábios desenhados e olhos finos. Suas bochechas quase que cobertas pelo seu cabelinho escuro eram rosadas assim como suas outras extremidades. Ele estava vestido como um menino de colégio interno de meninos e vi que haviam muitas peças de roupas aleatórias pelo chão que provavelmente eram dele. Tantas informações estavam quase deixando minha mente fora de controle, de maneira que até mesmo cheguei a me perguntar se aquilo já não era uma alucinação de minha mente exausta. – O que é você? Como...quando... Perguntei mas não consegui completar minhas sentenças sentindo minha cabeça doer pelo acúmulo de coisas e ele cruzou as pernas e riu fazendo seus olhinhos se apertarem. – Vick já disse. Eu Vikram! Ele disse separando sílabas e, com um salto, ele veio até mim passando seu r**o em meus braços enquanto me analisava me deixando em pânico sem saber o que era aquilo. Isso era real? Ele era real?
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