– Armin! Onde você estava?! Como ousa deixar seu noivo sozinho desse jeito?!
Escuto a voz tempestuosa de meu pai e logo em seguida um puxão de orelha me desequilibra pela dor.
Gemi desesperado pelo alívio de minha orelha esquerda.
E um turbilhão de pensamentos veio em minha mente confusa.
Deixar meu noivo sozinho? Ele havia me deixado ir!
– Co-Como assim?! E-Ele...Ele...
Tentei explicar, mas ele me interrompeu soltando minha orelha com uma expressão raivosa e apontando seu dedo em meu rosto.
– Não me teste, Armin! Ele mesmo me disse que assim que vocês saíram da sala você fugiu!
Papai rosna e eu percebo que Victor que estava de pé atrás de seu pai com um sorrisinho no canto de sua boca.
Perplexo eu engoli à seco aquela afronta, ajeitei minhas roupas e meu cabelo evitando de olhar para o "meu noivo" apenas seguindo meu pai.
Me curvei em desculpas para meu pai tentando amenizar sua raiva, mas ele me empurrou para frente da família Goldberg que não me olhavam com expressões boas também, mas logo disfarçaram.
– Desculpe-se com eles!
Me curvo mais uma vez e escuto a risada polida do Sr. Goldberg em falsidade.
Ele abanou uma de suas mãos como se aquilo não importasse.
– Jovens... tão intensos, não é mesmo?!
Ele desdenhou e eu respirei fundo esperando aquilo acabar com lágrimas mais uma vez penduradas em meus olhos.
[...]
Quando finalmente todos foram embora, pude ir para o meu quarto sentindo aquela sensação vazia de não ter nada mais pelo que lutar.
É uma sensação horrível de não ter um propósito, não ter um motivo. Isso apenas me deixava mais e mais angustiado.
Me jogo em minha cama suspirando cansado esperando que aquela sensação se esvaisse junto com meu cansaço, mas algo entre os lençóis estava me deixando desconfortável.
Me levantei com as sobrancelhas franzidas não entendendo como aquele dia não queria que eu ficasse em paz por um segundo sequer.
Depois de muito remexer, acabo encontrando o papel que minha mãe havia me dado. O qual eu havia esquecido a existência me deixando com um peso enorme na consciência.
Abri e a vontade de chorar me invadiu sem nem mesmo eu ter lido a primeira frase.
Querido, Armin
Eu sei que você está triste por eu ter ido embora, mas preciso que você se recomponha e lute por si mesmo.
Seu pai quer fazer a mesma coisa que meus pais fizeram comigo. Ele quer te usar como um simples objeto de negócios.
Não deixe que isso aconteça. Nunca.
Saiba que mamãe te ama muito e que eu vou cuidar de você onde quer que esteja
De sua mãe.
Foi quase que impossível não chorar com aquela carta.
Era como se meu mundo finalmente tivesse desabado.
Como se a ficha de que ela tinha ido embora finalmente tivesse caído.
Ela era meu porto seguro, tudo o que eu tinha e agora se foi.
Enxugo minhas lágrimas e tento pôr minha mente no lugar.
Agora eu possuía tantas coisas na cabeça.
Esse casamento certamente era algo que ainda iria me dar muitas dores de cabeça, e também tem meus estudos que ainda não acabaram. Sem contar que agora tinha um híbrido esquisito em nosso porão e eu nem mesmo sabia o que fazer com ele!
Tentei me deitar e descansar um pouco mesmo com a mente em um turbilhão de pensamentos.
Também tentei ler para ver se o sono vinha ou manter meus olhos fechados, mas nada funcionava.
Minha mente estava um caos, meu coração em frangalhos e por isso sabia que não iria conseguir descansar.
E sabendo que não conseguiria dormir esta noite - pelo menos não sozinho - calcei minhas pantufas e fui para o quarto de Aric onde ele estava praticando violino.
A melodia triste dizia tudo o que ele estava sentindo por si só.
Aricksen, ou Aric como o chamávamos, é um garoto cheio de vida, dois anos mais novo que eu mas parecia ser meu irmão mais velho.
Ele pratica todos os esportes possíveis e impossíveis, toca vários instrumentos e ainda por cima quer aprender novos idiomas.
Vive dizendo que se temos um cérebro pensante e um corpo que funciona, devemos explorar nossos limites ao máximo.
Então para que ele estivesse tocando algo tão triste, significa que por dentro ele estava quebrado.
Aric era o único que preenchia essa casa com alegria e música além de mamãe. Ele possuía o dom de manter todos alegres e trazer vivacidade ao ambiente, mas sua sensibilidade era perigosa quando se tratava se sentimentos.
Frágil como vidro.
Ao finalmente perceber que eu o observava tocando com pesar entre algumas lágrimas, ele parou de tocar e sorriu tristonho enxugando as mesmas.
– Não consegue dormir, não é?
Ele perguntou em um tom baixo e bem diferente do que ele normalmente utilizava e eu assenti me sentando em sua cama e ele suspirou se aproximando e me abraçando.
– Essa casa parece mais fria sem ela.
Sussurrei cansado e ele concordou.
Não demorou muito para que nós dois estivéssemos chorando novamente em dor. Estava sendo difícil, e isso era impossível de negar, mas eu sabia que - se nos mantivermos juntos - poderíamos vencer isso.
No final de tudo, depois de tanto sofrer nesse dia de caos, acabamos por adormecer alí.
Como o silêncio após a tempestade.
[...]
– Armin! Acorda!
Bocejo abrindo os meus olhos e estranhando que estava tudo escuro mostrando que ainda era noite, e ao acender o abajur vejo as orelhinhas e a cabeleireira n***a ao meu lado quase me matando de susto.
– Vamos brincar!
Ele diz puxando minha mão e eu começo a me desesperar olhando para o lado para ver se Aric ainda estava dormindo.
O que ele estava fazendo aqui?!
Ou melhor
Como ele havia chegado até aqui?
Céus! Se alguém tiver visto ele saindo do porão e vindo em direção aos quartos eu vou ser decapitado muito em breve sem piedade e nem direito de me defender!
Empurro ele para fora do quarto de Aric depois de apagar a luz novamente.
E olhando para os dois lados do corredor me certificando de que ninguém iria nos flagrar juntos eu me virei para ele que me observava aparentemente curioso pelo que eu fazia.
– Como você me achou?!
Sussurrei exasperado sem saber como agir diante daquela situação, já que a esta hora existem dezenas de guardas no hall da mansão onde existe a escada para o porão.
– Vikram saiu pela janelinha! Cheirar, cheirar e cheirar até encontrar Armin cheiroso!
Ele respondeu sorrindo e mostrando seus olhos sorridentes e sua cauda abanava de um lado para o outro lentamente e eu passei minhas mãos por meus cabelos sem saber o que fazer com aquela criatura.
Agora era somente torcer para que ninguém tenha visto ele saindo e vindo para cá.
Porém, de repente, escutamos um barulho vindo do início do corredor, e eu não tive nenhuma outra opção além de empurrá-lo até meu quarto em um reflexo mais do que instintivo.
Se eu iria morrer, queria morrer com dignidade, e não por causa de alguém que eu nem conheço taxado como o garoto libertino.
Fiz um sinal de silêncio para ele que assentiu me encarando com um sorrisinho como se estivesse se divertindo e eu acendi as luzes me sentando em minha cama.
Isso só poderia ser uma piada de m*l gosto do destino.
Por quê isso tinha que acontecer logo hoje? Eu não poderia achar Vikram em qualquer outro dia da minha vida?
Tinha certeza que se fosse em um dia normal eu poderia tratar isso com mais frieza e conseguiria resolver com mais calma.
Sem contar que ainda está de madrugada, o horário que a ronda dos empregados e guardas é mais intensa do que durante o dia.
Se haviam chances de sermos pegos, essas chances eram triplicadas por ser madrugada.
– Vikram, acho que você vai precisar dormir aqui hoje e...-
Minhas palavras faltaram quando vi ele todo enroladinho sobre minha cama como um gatinho abandonado.
Obviamente eu quis entrar em pânico ao ver isso, já que ele estava praticamente imundo e, mesmo que esquisito, ele não deixava de ser um homem desconhecido.
– Vikram gostou daqui!
Escutei ele dizer bem baixinho provavelmente quase caindo no sono. Eu até ia expulsar ele da minha cama dizendo que era errado um homem estranho dormir na cama de um garoto (que no meu caso) pode conceber desse jeito, mas fiquei com pena.
Ele devia estar tão cansado de dormir lá embaixo naquele lugar sujo e desconfortável...
Droga, e agora? Não tinha como negar isso para ele.
Aos poucos vi ele adormecer e pude analisar ele com cuidado, e cada detalhe do mesmo.
Ele parecia bem mais musculoso e másculo agora que eu estava olhando de perto e com uma iluminação melhor.
Se não fosse alguem em ima situação como a dele eu diria que ele tem porte de magnata.
E, mesmo apreensivo em baixar a guarda, tranquei a porta de meu quarto (me certificando de que ninguém descubra sobre isso) e me deitei ao seu lado com cuidado para não o despertar e não encostar nele.
Fechei meus olhos aos poucos e torci para que quando eu acordasse isso não fosse nada mais do que um sonho.
[...]
Me movo respirando fundo pelo sono confortável em que estava, por ser um dia de muito frio, o calor que me envolvia me deixou inebriado apenas querendo permanecer alí.
Mas fui convidado a abrir os olhos ao escutar um ronronar próximo ao meu ouvido. E ao fazer isso percebi que Vikram dormia abraçado a mim me fazendo arregalar os olhos já hiperventilando.
Bem, na verdade eu estava abraçado nele e seu r**o enrolado em minha perna.
Assim que me dei conta da situação dei um salto para fora da cama horrorizado com a situação, mas ele acordou assustado e logo em seguida sorriu descabelado se esticando todo e coçando seus olhos.
– Bom dia, Armin!