Capítulo 9 - Beijo?!

2973 Words
Fechei a maleta com os remédios e coloquei na mesinha me levantando sem pensar duas vezes. Não é que eu esteja entrando em pânico por ter perdido minha pureza, mas eu estava quase em pânico. Olhei para os lados e para a porta daquela sala para ver se alguém além de nós tinha visto aquilo. Se qualquer um da minha família apenas sonhar que isso aconteceu, eu vou ficar de castigo para toda a eternidade. Mesmo que isso não tenha significado absolutamente nada para ambas as partes, eu não teria valor nenhum caso descobrissem isso. Na verdade, pelo simples fato de estar conversando com um homem nessa proximidade sozinho já era motivo suficiente para ser chamado de "assanhado". - Pode terminar de comer. Nos vemos amanhã! Disse rapidamente tentando evitar de olhar para ele após aquele pequeno acidente e ele me olhava sorrindo alheio ao fato e correu até mim me abraçando e me envolvendo com sua cauda me deixando impossibilitado de escapar. Afastei meu rosto para tentar ter o mínimo de contato possível com ele, mas parecia que ele estava fazendo isso de propósito. Como se ele fosse capaz disso, né Armin?! Minha consciência martelou e eu suspirei tentando não pensar m*l dele. - Até amanhã, Armin! Ele deixou um selar em uma de minhas bochechas me fazendo arregalar ainda mais meus olhos em um grito de susto e ele riu levado voltando para seu lanchinho. Tapei minha boca com medo de alguém ter ouvido minha interjeição. De certa forma, Vikram estava se mostrando mais espertinho do que eu imaginava e isso não era nada bom. Não sabia mais o que eu poderia fazer para contornar essa situação além de voltar a procurar mais informações sobre suas origens e sua família. Vikram não pode ficar aqui por mais tempo. [...] - Não interessa como você vai fazer, mas você tem que ir! Theo diz já me importunando antes mesmo dos passarinhos começarem a cantar. Mania feia essa que ele não perdia nunca. Ele já estava de uniforme e seu cabelo estava perfeitamente penteado como se apenas eu estivesse vivendo no meio dessa semana catastrófica. Cocei os olhos incrédulo de que aquele garoto já estava a me perturbar uma hora daquelas. - Theodore, você sabe bem que papai nunca me deixaria ir sozinho a um evento desses! Relembrei e ele cruzou os braços já fazendo cara de choro e eu suspirei revirando os olhos. Eu sabia que ele iria ficar chateado comigo para sempre se eu não fosse. Era a sua primeira apresentação importante e que realmente marcaria sua carreira. Talvez uma chance assim nunca mais surgisse para ele, e isso estava o deixando a ponto de combustão. Theo cantava ópera, e ele foi indicado pelo seu tutor para cantar em um dos eventos filantrópicos mais importantes do país, mas ele queria que eu fosse prestigiar ele já que nem seu pai e nem seu irmão iriam por conta de um outro compromisso. Aliás, seu irmão, Tyrone Silver - Rony para os mais chegados-, também tinha uma voz potente e seguia os passos do irmão mais velho sempre aprendendo com Theo e andando com ele por todos os lados para absorver mais conhecimento. - Por favor, Armin! Por mim! Ele implora com sua carinha de pidão e eu solto o ar preso em meus pulmões afirmando rendido e vendo ele sorrir largo. Eu sabia que certamente papai não deixaria, e Arzhel também não me ajudaria dizendo que eu não podia ir sem a companhia de um homem adulto, mas não custava nada tentar. - Vou ver o que eu posso fazer... Murmurei desanimado enquanto levantava de minha cama não prometendo nada e ele sorriu dando pulinhos de alegria. - Você é o melhor! Ele cantarolou alegre me fazendo rir. [...] - Papai, por favor... Tentei mais uma vez convencê-lo de que eu era mais frágil que meus irmãos mas podia me virar bem, afinal Theo estaria comigo. Tudo bem que Theo não é a maior referência de proteção do mundo, mas eu sabia que se as coisas apertassem ele nunca iria deixar ninguém me fazer m*l. Porém, papai negou rabugento novamente com aquela cara de desgosto que ele fazia quando algo não estava de seu acordo. - Você não vai sair sozinho com esse garoto! Bateu com o punho na mesa autoritário e vi as coisas sobre a mesma estremecerem. - Você agora está noivo, por isso só vai onde Victor for! Ditou ele com um tom de voz pouco agradável e eu tentei falar mais alguma coisa mas ele berrou mandando eu sair de seu escritório e parar de o importunar. Mesmo sabendo que meu pai já era um homem turrão e inflexível, eu sempre esperava um pouco mais vindo dele. Automaticamente, sempre me decepcionava com ele. Isso era tão injusto! Tudo agora se tratava de Victor! Não é como se eu já não fosse tratado de maneira segregativa apenas por ser um concebedor mas agora eu também sou rebaixado do cargo de "filho frágil" para "noivo do genro abastado". Descendo as escadas indo em direção a sala de estar eu bufava sem parar mais do que frustrado. Theo não me perdoaria se eu não for, então o que me restava é encarar o leão de frente. [...] - Preciso conversar com você! Disse entrando no meio daquela rodinha de garotas que ficavam paparicando Victor sem nem mesmo conhecê-lo, pois se soubessem como ele é baixo e covarde, nem mesmo se aproximariam dele. Aparentando estar levemente surpreso por me ver, ele ajeitou alguns livros dentro de sua pasta colocando-a dentro do armário e sorriu cruzando os braços com uma sobrancelha erguida. O pior de tudo era que eu nem mesmo poderia dizer que aquele cara era feio. Seu rosto e corpo eram perfeitos como de um modelo, mas sua personalidade era podre. - Sou todo ouvidos. Respondeu ele sucinto gesticulando com as duas mãos em uma falsa gentileza, então eu olhei para as garotas que ainda nos olhavam e - principalmente - falavam de mim entre dentes. - Podemos ir para um lugar mais reservado? Perguntei após me concentrar bastante em ser no mínimo agradável com ele em público. Eu não podia, e não queria, arrumar confusão com ninguém. Vi que ele olhou para exatamente onde eu olhava parecendo finalmente reparar que tínhamos platéia, então ele trouxe seu olhar capcioso para mim. - Por quê? Estava gostando tanto da companhia delas... Zombou ele transpassando a alça de sua pasta em seu ombro e fechando o armário. Então antes que ele pudesse negar ou fazer qualquer gracinha eu puxei pela alça da pasta para quase no fim do corredor. Ele não pareceu tão contente com isso, mas se manteve curioso para saber sobre o que eu iria falar. - Arrume-se, hoje você irá comigo a um lugar e nada de dizer que não! Exclamei pouco me importando para suas vontades. Eu fiquei noivo dele contra as minhas vontades, então ele no mínimo tem que me retribuir de alguma forma. Ele suspendeu as duas sobrancelhas e cruzou os braços na frente de seu peito fazendo o blazer xadrez que compunha o uniforme de frio da escola apertar seus braços robustos. - Está me cortejando, Sr. Black? Seu tom de voz era baixo e cuidadoso, como se ele finalmente tivesse entendido que nem todos precisam ficar sabendo de nossa vida privada. - Não seja i*****l, Goldberg! Ralhei áspero e emendei: - Eu preciso de um favor e sinto que você me deve algumas coisas... Ergui meus olhos com raiva para ele, e de alguma maneira eu vi que ele entendeu sobre o que eu estava falando. Entendeu que, mesmo de maneira velada, eu falava sobre o que ele fez com Vikram. - Esteja na porta de minha casa às sete! Finalizei as informações e dei as costas sabendo - de alguma maneira - que ele estaria lá. Respirei fundo lembrando-me de que aquilo era única e exclusivamente para Theodore. Se não fosse por ele, eu nunca me rebaixaria tanto assim ao nível de ter que depender de Victor. Sem contar que ele que teria que ser meu acompanhante e diante disso eu preferia a morte. Mas isso já não seria tão r**m, pois eu já tinha uma carta na manga preparada para isso. Ou melhor, eu já tinha uma idéia na cabeça preparada para isso. Ri entrando na sala e encarando Vikram que sorria para mim com sua touquinha azul de pompom na cabeça. [...] - Vocês são muito caretas, isso sim. O moreno franziu o nariz irritadiço e eu apenas cortava o peixe para Vikram conseguir comer sem eu ter que me preocupar com as espinhas do mesmo. - Não fale como se nós detestássemos a sua... raça, apenas não sabemos como lidar com isso ainda! Escolhi palavras vendo que o segundo felino da mesa me olhou com suas pupilas diminuindo. - Primeiramente, é espécie. Depois, vocês nem escondem a cara de nojo! Apontou para mim e para Theo com desdém voltando a ler a matéria que fora dada ontem em seu caderno. - E você diz isso como se não vivesse torcendo seu nariz para os 100% humanos! Theo se defendeu e Nikita, agora carinhosamente apelidado por mim de Nick, olhou para ele entediado. - Se vocês não conseguem conviver com híbridos simples como eu e Vikram... Ele murmurou com medo de que alguém nos escutasse e passou a mão por suas sobrancelhas expressivas. - ...como vocês poderão conviver com híbridos selvagens ou híbridos de outras espécies? Ele comentou tranquilamente como se nós soubéssemos do que ele estava falando. Embasbacados, eu e Theo nos entreolhamos. - Você está falando sério? Tem mais de vocês aqui?! Theo foi o primeiro a perguntar completamente surpreso olhando para Nick que bufou dando uma mordida em sua maçã. - Sim. Olha alí... tá vendo ele? Ele apontou para um garoto alto de cabelos avermelhados cobertos parcialmente por um chapéu. Eu já vi ele algumas vezes por aqui, e sempre que o via, via ele com um chapéu diferente. - Sim, é o Joseph do segundo ano ele é meu colega mas por que você...- Theodore ia questionar sobre o motivo de Nick estar mencionando o garoto, mas o moreno foi mais rápido chamando Joseph que veio até a nossa mesa. - Mostra para ele, Joe. Nikita disse gesticulando com a mão direita como uma orelha em sua cabeça e Joseph entendeu de primeira sobre o que falávamos ao olhar para ele e em seguida para Vikram. Era meio esquisito aquilo, era como se um sentisse o cheiro do outro ou soubessem de alguma forma se reconhecer. Ele tirou o chapéu brevemente mostrando as orelhas vermelhas e pontudas de raposa e corou rindo brevemente por ver que nós estávamos encarando ele como bobos. - Orelhas bonitas! Vikram expressou de boca cheia e Joseph agradeceu várias vezes pelo elogio rindo e voltando para o seu grupinho. Theo ainda parecia meio chocado e eu ri nem conseguindo me surpreender com mais nada. Vi Nikita dar de ombros se entitulando como o vencedor da discussão, e suspirei cansado. Essa semana parecia que não iria terminar nunca mais. Tomara que essa noite passe bem rápido para que eu nem sinta que tive que ficar no mesmo recinto que Victor Goldberg sem ser dentro da escola. - Mudando de assunto... eu já resolvi o assunto de hoje a noite. Comentei calmamente e Theo sorriu surpreso se ajeitando na cadeira e empurrando seus óculos de descanso que escorregavam em seu nariz. - Mas com quem você vai? Impossível seu pai ter deixado você ir sozinho! Ele diz torcendo os lábios brincando com os talheres como uma criança. - Eu vou com Victor... Confessei baixinho meio cabisbaixo por ter que me sujeitar a isso, e escutei Vikram engasgar ao escutar aquele nome e Theo suspendeu as sobrancelhas. - ...e com Vikram! Completei sorrindo minimamente ainda um pouco constrangido pelo que houve ontem no porão, mas precisando de Vikram para concretizar meu plano. Escutei a gargalhada alta de Theo e vi Vikram piscar seus olhos arregalados em minha direção, enquanto isso, Nick apenas escutava tudo calado certamente nos julgando. - E como você chegou nessa maravilhosa e sensata decisão, gênio?! Ele disse debochado e eu semicerrei os olhos suspirando e cruzando minhas mãos em frente ao meu rosto. - Eu sabia que meu pai só deixaria eu ir se fosse com aquele imundo... Resmunguei chateado por lembrar de como papai havia me tratado. - ...e também sabia que ele tentaria algo comigo se eu fosse sozinho com ele. Senti calafrios me atingirem só de pensar em uma coisa como essa acontecendo. - Então eu apenas juntei lé com cré! Concluí simplista escutando aquela risada exagerada novamente vinda de Theodore. - E como você pretende fazer isso? Ele perguntou pouco crente no que eu havia planejado, e eu sorri largo olhando para Vikram que ainda não tinha se pronunciado apenas olhando para suas mãos em seu colo. - Apenas observe. [...] - Primeiro: Theo vai te dar um bom banho. Numerei em meus dedos para que ele pudesse entender. - Segundo: cortar um pouco esse seu cabelo enorme. Explicava calmamente para Vikram para que ele não ficasse nervoso ou algo do tipo, pois não planejávamos jogar ele na água quente ou coisa assim. Eu ainda não conseguia me aproximar muito dele pelo ocorrido ontem e sei que tanto Theo quanto Nick repararam isso, mas nenhum dos dois me perguntou nada. Isso era ainda melhor, pois se eu fingisse que nada aconteceu para sempre, então nada terá acontecido. - Depois vamos colocar uma das roupas dele em você já que vocês tem corpos parecidos. Comentei mais uma vez vendo ele me encarar encolhido na poltrona verde musgo de Theo. Estávamos na casa do meu amigo e Vikram estava meio assustado com tudo o que estava acontecendo, ou melhor, com tudo o que estávamos fazendo. Mas ele em hora nenhuma se negou a nos ajudar. - Tudo bem para você? Finalmente perguntei e ele afirmou sorrindo vacilante. Parece que eu não sou o único distante aqui. Então deixei ele nas mãos confiáveis de Theo que, desde mais novo, estava acostumado a fazer esse tipo de trabalho pois seu irmão sempre foi muito dependente dele por eles não terem o pai muito presente. - Vamos, rapazinho, dê tchau para seu amiguinho loiro alí! Theo apontou para mim e vi o híbrido se virar me dando um tchauzinho, então apenas retribuí o ato suspirando nervoso. [...] Depois de eu escolher a roupa e entregar para Theodore, esperei mais um pouco escutando as risadas de Vikram algumas de meu amigo, então também sorri apenas de imaginar o que aqueles dois faziam. Era meio estranho sentir que nossa amizade (minha e do Theo) agora tinha uma pessoa intrusa no meio. Sei que Theo não é muito ciumento e também não exige minha atenção o tempo todo, mas sabia que em algum momento ele iria se sentir incomodado. Respirei fundo abanando minha cabeça. Talvez você só esteja com caraminholas demais nessa sua cabeça... - Eu não sou de ficar reparando muito não, sabe? Theo saiu do banheiro ajeitando sua roupa após tirar o avental que usava. Ele possuía um sorriso orgulhoso no rosto que me fez ficar curioso. - Mas esse aí dá um caldo hein... Escutei ele elogiar Vikram e ri não entendendo muito do que ele estava falando até ver o híbrido sair do banheiro. Eu não sei como, mas Vikram conseguia ficar mais bonito a cada segundo que se passava e isso era assustador. Ele era, sem nenhuma dúvida, a pessoa mais bonita que eu já tive o prazer de conhecer. Seus cabelos estavam bem penteados e seu corpo esculpido pela roupa um tanto justa em seu corpo - que merecia um terno um pouquinho maior - e eu arregalei meus olhos espantado. Ele parecia bem mais magro no uniforme escolar, mas agora ele parecia musculoso e alto. Também posso dizer que ele parecia muito mais masculino. Eu não sei... estava confuso. - Misericórdia, Theodore. Exclamei sem palavras e Theo também encarava o híbrido orgulhoso pelo seu trabalho. - Agora sim você parece com um competidor para Victor Goldberg! Theo depositou dois tapinhas no ombro de Vikram que aparentou saber do que ele falava por sorrir pequeno e elevar seus olhos incrivelmente azuis para mim. - Competidor? Theo, pelo amor de Deus. Ri me sentando e coçando minha nuca um pouco desconfortável agora que conseguia ver totalmente os olhos do híbrido já não cobertos mais por sua franja escura. - Pelo quê ele vai competir com Victor? Esqueceu que o Goldberg quase matou ele?! Perguntei exasperado vendo Theo revirar os olhos e Vikram franzir o cenho. - Vikram só vai para me manter afastado dele. Não misture as coisas. Completei áspero não gostando muito de falar dessa maneira, mas sabia que não podia dar mais corda para essa situação. - Não seja rude, Armin! O menino só quer ajudar! Theo defendeu Vikram que possuía suas orelhas abaixadas e suas pupilas gigantescas como um gatinho abandonado. - Ele ajudará bastante ficando quieto e ao meu lado. E apenas isso! Apontei me sentindo m*l por estar fazendo aquilo, mas antes que eu pudesse me arrepender eu escuto uma interjeição baixa como um leve ronronar vinda de Vikram. - Vikram bem. O felino respondeu deixando tapinhas no peito de Theo assim como o meu amigo havia feito em seu ombro e eu pisquei atônito. - Armin apenas bravo com Vikram por causa de beijo. Não preocupa. Ele tentou tranquilizar Theo em sua limitação, mas assim que eu ouvi ele comentar sobre o beijo eu arregalei meus olhos ao mesmo tempo que meu amigo. - Beijo?! Theo parecia assustado e eu mais ainda não crendo que Vikram se lembrava do ocorrido.
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