6

902 Words
Serpente Tava tranquilo na boca, cuidando dos corres pro baile que tava chegando. Quanto mais perto da data, mais coisa pra resolver. Conferia uns carregamentos que tinham acabado de chegar, e até o momento, tava tudo nos conformes. O Vitinho, um dos meus homens de confiança, tava sempre de olho na movimentação e mandava recado quando alguma coisa rolava, qualquer parada diferente. Eu sabia que podia contar com ele e o resto da equipe, mas tinha coisa que era melhor eu mesmo conferir. No mundo em que a gente vive, qualquer erro bobo pode custar caro, então eu mantinha a cabeça sempre ligada. Foi então que o Ramos bateu na porta. Ramos: Chefe, a sobrinha da Dona Sandra tá aqui. Posso deixar ela entrar? Serpente: Pode. Achei meio estranho. Não era comum receber visita desse jeito, ainda mais da Dona Sandra. Mas logo vi a razão. Minutos depois, a mina entra, e, na moral? Congelei. Era uma ruiva com os olhos claros, a pele clarinha. A beleza dela era algo de tirar o fôlego. Nunca tinha visto alguém assim, parecia uma pintura, dessas que você vê e fica preso, sem saber o que dizer. Mesmo sabendo que era melhor manter o foco, fiquei ali olhando, e os pensamentos começaram a correr soltos. A mina tinha uma beleza que dava pra ver que não passava despercebida em lugar nenhum. O primeiro pensamento que me veio foi: eu tinha que pegar essa mina. Jerrane: Oi, tudo bem? Me chamo Jerrane, sou sobrinha da Dona Sandra. Serpente: E aí, beleza? Jerrane: Tranquila. Serpente: E o que te trouxe até o Jacaré? Jerrane: Então, saí de um relacionamento complicado. Descobri que tava sendo traída, então decidi vir pra cá, minha tia sempre disse que eu podia contar com ela. O cara que fez isso com ela devia ser um babaca. Como um cara tem coragem de trair uma mina dessas? Ele devia ter algum problema na cabeça. Mas, na real, isso pouco me importava. Ela tava aqui agora, e eu já sabia o que queria fazer. Serpente: s*******m mesmo, mas vida que segue. E o que você faz da vida? Jerrane: Sou psicóloga, mas tô parada agora. Tenho umas coisas pra resolver antes de voltar pro trabalho. Olhei pra ela com mais atenção, e com uma mina dessas ao lado, já sabia o que queria. Com a beleza dela, ia chover homem tentando chegar, mas eu não tava nem aí. Eu era o primeiro, e isso pra mim bastava. Relacionamento sério? Nem a p*u. Eu só queria aproveitar o que ela tinha de melhor. Essa mina, eu queria como uma das minhas fixas. Nada além disso. Serpente: Quando voltar, pode trampar aqui no posto. O que não falta é maluco precisando de uma consulta. Jerrane: Quem sabe um dia… Serpente: E quantos anos você tem? Jerrane: 23. Ela tinha 23, a postura madura, um jeito que dava pra ver que era de presença. A mina era fora do comum, e isso só me deixou com mais vontade de ser o primeiro a chegar junto. Serpente: Olha, aqui na favela a gente tem umas regras. Primeira: é surda, muda e cega. Segunda: não espalha fofoca. E terceira: não mexe no que não é seu. Seguindo isso, vai viver bem aqui no Jacaré. Jerrane: Pode ficar tranquilo, já morei na Penha, tô ligada nas coisas. Serpente: Então já sabe que aqui não é muito diferente. Amanhã rola um pagodinho aqui no morro, se quiser colar, é minha convidada. Jerrane: Sem querer ofender, mas prefiro um livro. Ela era diferente mesmo, isso eu respeitava. Deixava ela ainda mais interessante, e eu gostava de desafio. Serpente: Curte ler então? Jerrane: Sempre. Melhor do que um pagode. Serpente: E o que você lê? Jerrane: Crime, mistério. Já leu alguma coisa do Léo Lopes? Serpente: Leio o que dá, mas sempre pulo nos livros de crime, os melhores. A gente ficou ali trocando ideia. O papo fluía, e o jeito dela, mais quieto, só me deixava mais interessado. Ela tava ali falando de livros, de como preferia esse tipo de coisa a uma festa. Pra mim, isso não era problema. Já sabia o que queria com ela, e nada ia mudar minha ideia. Jerrane: Então você é o Serpente, o tal do Jacaré, né? Serpente: É o que dizem. Jerrane: Ouvi uns boatos sobre você. Serpente: Boato é boato. Aqui dentro, só quem conhece sabe. Jerrane: E quem tá dentro? Serpente: Ninguém tá seguro, Jerrane. É um jogo onde confiança vale ouro. Quando ela se despediu, eu já sabia que a Jerrane tinha vindo pra ficar um tempo. Era uma mina que, apesar de tudo, tinha um jeito que me atraía e que ia ser minha, sem essa de sentimento ou nada sério. Ela era bonita demais pra deixar passar. Então, na minha cabeça, tava decidido: eu ia atrás. Serpente: (pensando) p***a, eu quero muito pegar essa mina. Não quero relacionamento sério, mas a gente pode se divertir muito juntos. Ela tá aqui, e eu sou o primeiro. Não vou deixar que isso me escape. Depois que ela saiu, voltei aos corres do baile. Esse ia ser o maior da história do Jacaré, e eu tava no comando. Ninguém ia me derrubar, e a presença da Jerrane só deixava tudo mais interessante. Na moral, ela era só mais uma diversão na lista. E eu já tava ansioso pro que vinha pela frente.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD