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980 Words
Jerrane Saí do hospital naquele dia com um aperto no coração, mas ainda assim querendo acreditar que o Barão estaria lá para me apoiar. Eu precisava de força, e esperava encontrar essa força ao lado dele, mesmo que tudo estivesse incerto. Peguei um táxi direto para casa, planejando contar sobre o diagnóstico, os próximos passos do tratamento, e talvez até buscar um pouco de conforto nos braços dele. Mas, ao abrir a porta do quarto, a última coisa que esperava ver era o Barão, na nossa cama, com outra mulher. Eles não perceberam minha presença até que deixei a porta bater com força. Senti o chão sumir debaixo dos meus pés. Meu coração congelou, e foi como se o ar tivesse me faltado. Jerrane: — Barão?! É isso que você faz enquanto eu tô no hospital?! Ele se levantou da cama devagar, a expressão mais irritada do que arrependida. A mulher ao lado dele puxou o lençol para se cobrir, com um ar de quem nem ligava para a situação. Cada segundo daquela cena me machucava mais. Barão: — Que que cê tá fazendo aqui, Jerrane? Achei que ainda tava no hospital. Jerrane: — Tava, mas fui liberada hoje. E vim direto pra casa, achando que cê ia tá preocupado… mas vejo que tava ocupado com… isso! Ele bufou, como se minha presença fosse apenas um incômodo. Barão: — Jerrane, você sempre soube como eu era. Sempre fui cheio de mulher. Cê sabia onde tava se metendo quando entrou nessa vida comigo. Minha indignação cresceu a cada palavra dele. Eu estava enfrentando o momento mais difícil da minha vida, e ele me traiu na hora em que eu mais precisava de apoio. Jerrane: — Eu tô passando pela fase mais difícil que eu já vivi, Barão. Achei que a gente tava junto nisso, que cê ia me apoiar… e é assim que cê age? Ele deu de ombros, sem um pingo de remorso. Barão: — A gente viveu coisas boas, Jerrane. Mas eu quero alguém que possa me dar uma família, alguém que me dê o que eu quero. E, agora, com essa situação… isso não é pra mim. Jerrane: — Tá me dizendo que tá me trocando porque eu talvez nunca possa te dar um filho? Depois de tudo que a gente viveu? Ele me olhou com frieza. Barão: — É isso. Eu não nasci pra cuidar de doente, Jerrane. Minha vida é outra. Cê não entende? Uma onda de raiva e dor tomou conta de mim. Eu olhei fundo nos olhos dele, com a maior firmeza que consegui reunir, lutando contra as lágrimas. Jerrane: — Quer saber, Barão? Quando eu recomeçar a minha vida com outra pessoa, e eu vou, eu não quero que você vá atrás de mim. Porque um dia, você vai perceber o que perdeu, e aí vai ser tarde demais. Ele estreitou os olhos e, num movimento rápido, me deu um tapa no rosto. A dor física foi nada perto da dor que ele estava me causando ali. Barão: — Vai mesmo? Quer recomeçar? Vai! Mas não no meu morro, não na minha casa! Aqui não tem lugar pra quem não me serve pra nada. Ele começou a pegar minhas roupas e a jogá-las pela porta afora. Cada peça no chão parecia rasgar o que restava da nossa história. A cada roupa jogada, era como se ele me arrancasse uma parte do coração. Barão: — Sai do meu morro, Jerrane! Aqui não é lugar pra você. Vai fazer sua vida em outro canto e esquece de mim. Com o rosto ardendo e o coração partido, juntei minhas coisas do chão, respirando fundo para não desabar na frente dele. Era humilhante, doloroso, mas naquele momento eu sabia que não tinha volta. Jerrane: — Eu vou sair, Barão. Mas lembra bem: um dia você vai se dar conta do que perdeu. Só espero que, até lá, eu já tenha esquecido quem você é. Ele não respondeu, apenas virou as costas e foi para o quarto, onde a outra mulher ainda esperava. Eu saí da casa com as lágrimas escorrendo pelo rosto, mas jurei para mim mesma que aquela seria a última vez que choraria por ele. --- Cheguei na rua com minhas coisas espalhadas e sem rumo. Foi só depois de alguns minutos, tentando me acalmar, que me lembrei da minha tia Sandra, que morava no Jacaré. Ela sempre dizia que eu podia contar com ela, e naquela hora, era a única pessoa em quem eu podia pensar. Peguei o celular com as mãos trêmulas e liguei para ela. Jerrane: — Tia Sandra, sou eu… eu preciso de ajuda. Posso ir praí? Ela não hesitou. Em poucos minutos, estava a caminho do Jacaré, sentindo o peso de tudo que tinha perdido, mas também uma pequena faísca de esperança. Talvez essa fosse minha chance de recomeçar, de me afastar de vez do Barão e enfrentar minha doença longe dele e de tudo que ele representava. Ao chegar na casa dela, fui recebida com um abraço apertado. Finalmente, me permiti desabar, contando tudo o que tinha acontecido. A traição, o diagnóstico, o tapa, o despejo… tudo. Ela me ouvia em silêncio, segurando minha mão com força. Sandra: — Filha, você vai passar por isso, mas vai ser forte. E agora você não tá sozinha. Aqui, cê tem um lar e todo apoio que precisar pra enfrentar essa doença e recomeçar. Deitei na cama improvisada que ela arrumou pra mim, e pela primeira vez, me senti acolhida de verdade. Sabia que o tratamento ia ser difícil, mas, ali, na casa da tia Sandra, prometi a mim mesma que iria lutar. Mesmo depois de toda a dor, de toda a humilhação, eu sobreviveria. E, um dia, quando tivesse reconstruído minha vida, olharia pra trás e não veria o rosto do Barão como uma ferida aberta, mas como uma lição superada.
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