Capítulo 6

1677 Words
Harmony Ela passou os primeiros dias depois de pedir demissão procurando emprego. Voltou para casa naquele mesmo dia, atualizou o currículo e mergulhou na internet em busca de uma nova vaga. Enviou currículos para tudo o que aparecia: de assistente jurídica a recepcionista, secretária, assistente pessoal e até cargos em digitação. Aceitaria qualquer coisa — meio período, período integral, temporário — o que fosse. Tinha sido assistente jurídica na Blackwell Industries por pouco mais de quatro anos, mas agora aceitaria qualquer oportunidade. O Natal estava próximo, e ela não queria ficar desempregada até o ano novo. Dependia apenas de si mesma para se sustentar. Tinha algumas economias, mas não o suficiente para durar mais de dois meses. Conseguiu marcar uma entrevista que parecia ser a mais importante da semana — com a Owens Construction, uma empresa grande e muito próspera. Sabia que era a rival direta da Blackwell Industries, que tentava entrar no setor de construção civil. Era improvável que algum dia visse o ex naquele prédio, o que já era um alívio. A vaga era para o cargo de secretária do senhor Garrett Owens, e ela se preparou com cuidado. Pesquisou sobre a empresa para responder bem às perguntas, embora estivesse um pouco preocupada — nunca tinha sido uma assistente pessoal de fato. A posição para a qual se candidatara era de secretária do diretor-executivo, mas, ao ler a descrição, percebeu que incluía algumas tarefas de assistente pessoal também. Ainda assim, se conseguisse o emprego, estaria de volta ao mercado antes do Natal. Durante a semana anterior, não tivera muita sorte em outras entrevistas e não entendia o porquê. Era boa no que fazia, mas não recebia retorno. Quando ligava para perguntar o motivo, ouviu sempre a mesma resposta educada: “Desculpe, senhorita, havia candidatos com qualificações melhores.” Ela não discutia, mas sabia que suas opções estavam se esgotando. Entrou no prédio da Owens Construction para a entrevista e ficou surpresa ao ver o próprio senhor Owens conduzindo o processo. Mas deixou passar. Provavelmente ele queria avaliar pessoalmente todos os candidatos — não apenas pelas qualificações, mas também para ver quem se encaixava melhor em seu padrão. Ela foi completamente honesta com ele sobre o motivo de ter deixado a empresa dos Blackwell, e ele pareceu se divertir com isso, gostou de sua sinceridade. Embora não a tenha pressionado para contar qual era o motivo pessoal. Era possível que ele conhecesse Damien ou a tivesse visto nas colunas sociais com ele. Ela vinha namorando Damien nos últimos três anos e a maioria das pessoas da cidade sabia que seu nome estava associado ao dele. No entanto, justo ontem, ela viu Damien e Chloe nas páginas sociais; Chloe estava pendurada nele, e havia uma pergunta sobre ela ser sua nova namorada, e onde estava Harmony. Ela sinceramente não se importava em ver seu nome ligado a nenhum dos dois, e preferia muito mais que ele simplesmente anunciasse o término entre eles e dissesse oficialmente que estava com Chloe. Mesmo assim, ela havia recebido uma ligação nada agradável do pai de Damien, Gregory Blackwell, sobre o fato de que ela tinha dado um t**a em seu filho e o ameaçado de prejudicar sua reputação. Ele perguntou o que estava acontecendo — parecia não saber que eles tinham terminado. Ele acreditava que ela e Damien estavam bem e então disse: “Meu filho planejava pedir você em casamento no Natal. Eu aprovei o anel e tudo mais.” Ele parecia decepcionado. Ela perguntou o que Damien havia dito a ele, curiosa para saber qual era a versão da história. “Que viu você o traindo com outro homem em uma boate, na festa de Natal da empresa, nada menos que isso”, rosnou Gregory. “Oh, foi mesmo? E ele por acaso contou que está me traindo com a Chloe? Que eu mesma o vi transando com ela? Ou ele esqueceu de mencionar essa parte?” Houve um longo silêncio. “Esqueceu dessa parte”, ele finalmente respondeu. “É esse o vídeo que você tem?” “É, alguém do clube me mandou. Achou que eu pudesse não lembrar do que ele fez”, murmurou ela. “Não vou permitir que ele preste queixa. Vejo isso como uma simples briga de relacionamento”, ele resmungou. “Gostaria de receber uma cópia do vídeo, por favor, para confrontá-lo. O clube enviou uma conta de muitos milhares de dólares em taxas de limpeza, e seu anel de noivado custou uma boa quantia. Você pode me mandar o vídeo?” “Quando eu receber um documento afirmando que nenhuma acusação será feita, eu o entregarei. Precisa estar claramente especificado qual é o assunto, senhor Blackwell.” Ela o tratou formalmente — sempre lhe fora permitido chamá-lo de Gregory no escritório, e de Greg na propriedade dos Blackwell, ou sempre que ela e Damien jantavam com a família. Ele saberia o motivo da mudança de tom, e sabia que ela sabia fazer o próprio trabalho. Ele também era advogado, então entenderia que essa era a maneira dela de se resguardar para o futuro. “Vou providenciar isso e mandar para você amanhã.” Ele suspirou pesadamente, e a linha foi encerrada. Os papéis chegaram por mensageiro no dia seguinte, já com a assinatura dele, e ela lhe enviou uma cópia do vídeo depois de lê-los e assiná-los, mantendo uma das duas vias e enviando a outra de volta por correio expresso. Sua entrevista havia sido no meio do dia, e ela voltou para casa e relaxou na banheira. Ainda tinha mais três entrevistas naquela semana e depois nada até o novo ano. Continuava se candidatando a qualquer vaga que aparecesse, caso não conseguisse esse emprego. Ela recebeu uma ligação da mulher do departamento de Recursos Humanos naquela noite, enquanto preparava o jantar. “Senhorita Preston, meu nome é Deidre Owens, e gostaria de informá-la que o senhor Garrett Owens decidiu lhe oferecer o cargo de secretária dele.” “Oh,” ela deixou escapar, um pouco surpresa. “Obrigada. Quando vocês querem que eu comece?” “Ele gostaria que você viesse amanhã para a orientação. Está bom para você?” “Sim, claro que está.” ela sorriu. “A que horas?” “Ele chega entre nove e dez todas as manhãs, então venha às oito. Amanhã discutiremos seu horário de trabalho exato. A agenda dele pode ser um pouco caótica, e às vezes ele vai querer que você fique no escritório após o expediente — o que significa que nesses dias você poderá chegar mais tarde. Geralmente não há horas extras. Só será preciso ajustar sua rotina para se adequar à dele, diariamente ou semanalmente.” “Certo, posso fazer isso.” “Sua família ficará bem com isso?” perguntou Deidre. “Solteira no momento, então não é um problema.” Harmony sorriu. “Excelente, vejo você às oito. Apenas diga na recepção que veio me procurar, e eles a encaminharão para cima.” A linha foi encerrada. Ela sorriu para si mesma — algo bom finalmente havia surgido do desastre que era sua vida. Estava conseguindo um novo começo em uma nova empresa, deixando para trás a vida com a qual um dia sonhara, e agora poderia, pensou, seguir em frente. Talvez, só talvez, tivesse um bom Natal afinal. Embora, na semana passada, tivesse ficado olhando para o presente de Damien sob a árvore antes de desembrulhá-lo e devolvê-lo à loja, recebendo o dinheiro de volta. O Natal seria um novo recomeço para ela. Faltava apenas uma semana agora, e sua vida estava começando de novo. Poderia fazer novos amigos, começar tudo outra vez. Não era como se nunca tivesse feito isso antes. Já havia sentido a dor de perder pessoas que amava — perdera os pais anos atrás e, de alguma forma, conseguira seguir em frente. Ela havia sobrevivido e continuava vivendo. Olhou para a própria mão, para o pedaço do dedo que faltava — fora decepado naquele acidente de carro que tirou a vida de seus pais; cortado até a articulação, uma lembrança permanente daquele dia h******l. Ela havia sobrevivido à tragédia porque sabia que eles não iriam querer vê-la triste para sempre; que sua mãe e seu pai iriam querer que ela seguisse em frente, vivesse sua vida ao máximo e fosse feliz — que um dia tivesse uma família própria. Ela olhou para os presentes que ainda estavam sob a árvore. Eram exatamente os presentes que havia comprado para eles naquele ano, e que nunca chegaram a abrir. Ela não tivera coragem de jogá-los fora. Eram as últimas coisas que comprara para seus pais. Por isso, todos os anos, ela os colocava sob a árvore, como se eles fossem estar lá na manhã de Natal para abri-los. Ela se deitou naquela noite decidida a seguir em frente. Coisas melhores a esperavam na Owens Construction, e ela simplesmente sentia isso. Sua vida só poderia melhorar com aquela mudança completa; ela não era mais uma assistente jurídica, agora seria apenas uma secretária e assistente pessoal. Passou a mão sobre o estômago, que doía e se contorcia, e virou-se na cama tentando encontrar uma posição mais confortável e aliviar a dor. Esperava não precisar correr para o banheiro a noite toda — ou no dia seguinte —, mas era exatamente o que seu corpo indicava: pontadas agudas no abdômen inferior, sinal de que logo estaria presa no banheiro. Rezou para que não fosse o caso, pois isso a deixaria abatida e cansada, e seu primeiro dia seria extremamente constrangedor. Queria causar uma boa impressão em Deidre, do RH, e no próprio senhor Owens. Por isso, precisava de uma boa noite de sono, para parecer saudável e feliz em seu novo emprego. “Nada disso”, disse ao próprio estômago. “Acalme-se e se comporte. Precisamos desse trabalho.” Suspirou e fechou os olhos, tentando deixar o sono tomá-la. Bocejou quando as dores finalmente começaram a diminuir até desaparecerem, e o sono enfim a venceu — ela estava realmente exausta.
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