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862 Words
Capítulo 5 Malu narrando Dois anos se passaram. Joana estava sentada na sala, segurando a foto do Miguel como fazia todas as manhãs, beijando a imagem com carinho. — O papai — ela sussurra sorrindo para a foto. Rodrigo e eu sempre fizemos questão de manter Miguel presente em nossa casa. Ele era pai de Joana, mesmo que não estivesse fisicamente ali. Estar presente no coração dela era o mínimo que poderíamos fazer. — O resultado sai que horas? — Rodrigo perguntou, descendo as escadas. — Eu ainda nem fiz o exame — respondi, com uma ponta de nervosismo. — Então faz logo! — ele insistiu. — Faz de farmácia! — Vou fazer de sangue, assim temos certeza — expliquei. — Vamos — ele falou, determinado. — Você disse que não iria comigo — chamei sua atenção. — Mas agora vou. Quero ameaçar todo mundo e ter esse resultado em minutos — ele respondeu com aquele sorriso convencido. — Rodrigo… — tentei adverti-lo. — Eu vou falar com meu papai — Joana interrompeu, apontando para a foto. — Falando onde? — ele perguntou. — Na foto! — ela riu. Troquei um olhar com Rodrigo, que apenas deu de ombros. — Então vamos — ele disse. — Quero saber logo se você está grávida ou não. — Vai lá fumar tua maconha, ficar de boa, e deixa que eu faço o exame — falei, com um sorriso. — Você já fica na expectativa de negativo. — Mas atrasou… — ele reclamou. — Que nem da última vez — suspirei. — Vamos ter fé — ele disse, segurando minha mão. Em dois anos, já tivemos quatro falsos alertas de gravidez. Cada vez que o resultado dava negativo, a frustração crescia. Queríamos muito um segundo filho. Um menino seria perfeito para completar o casal, mas se viesse uma menina, seria igualmente bem-vinda. Não usamos contraceptivos, seguimos tabelas e tratamentos… e nada. Era frustrante. Fiz o exame de sangue e, sob insistência de Rodrigo, o resultado sairia em meia hora. — Calma — falei, tentando acalmá-lo. — Estou calmo — respondeu ele, tentando não demonstrar ansiedade. — Se der negativo, tudo bem. — Não vamos desistir, não é? — perguntei, sorrindo. — Não — ele respondeu firme. Esses dois anos foram incríveis. Tudo parecia leve, calmo, feliz. Rodrigo e eu vivemos muitas aventuras, risadas, bailes, maluquices. Lembrávamos até do nosso meme pelados na moto. Era a vida que eu sempre sonhei: simples, leve, sem obrigação, apenas vivendo. O morro estava tranquilo também. Tanto aqui quanto na Rocinha, sem grandes conflitos ou problemas com a polícia. Os negócios fluíam e a paz reinava. O rádio de Rodrigo tocou. — Rd, preciso de você aqui em cima — a voz de Ph soou. — Merda — Rodrigo resmungou. — Vai lá, eu levo o resultado — falei. — Vai, vai. Ele me deu um beijo rápido e subiu. Ph estava seguindo a vida dele agora. Estava firme com Rosa, cada um em sua casa, e ainda não havia assumido totalmente, mas parecia feliz. Pouco falava de Julia e parecia ter encontrado algum amor pela vida novamente. Julia… nunca mais consegui encontrá-la, nem aquela amiga dela. Cada um seguiu a vida à sua maneira. Levamos as feridas do passado no coração, curando-as com amor e cuidado. Eu sabia que Julia estava bem, feliz, abençoada. — Maria Luiza — minha ginecologista chamou. — Flávia — respondi, sorrindo. — Soube que você veio fazer mais um exame. Peguei o resultado. Podemos conversar? Seu marido está aqui? — perguntou ela, com um tom sério. — Não, ele saiu — respondi. — Então vem — disse, chamando-me para entrar no consultório. Seu tom preocupado me deu um frio na barriga. — Está tudo bem? — perguntei. — Deu negativo de novo — disse ela, com delicadeza. — Sei que vocês estão tentando há algum tempo. Fizemos vários exames e não há problema com você. Tem uma filha linda e saudável de três anos. Mas preciso que seu marido faça exames também. — Ele não vai fazer — falei, conhecendo-o bem. — Se ele fizer, podemos administrar um tratamento. Quem sabe você consiga engravidar. Mas se ele não fizer, vai ser só desgaste emocional para vocês dois. Assenti, com um sorriso fraco. — Sinto muito pelo resultado — disse Flávia, entregando-me o exame fechado. — Obrigada, irei falar com ele — respondi. Saí do consultório preocupada em encontrá-lo. Entrei na boca e lá estava Rodrigo, sentado, contando dinheiro enquanto soltava vapor do cigarro. — A médica me chamou para conversar — falei. — Deu negativo de novo. — Ah — respondeu ele, levantando-se e me abraçando. — Eu queria tanto esse bebê — falei, sorrindo. — Está tudo bem — ele disse. — Quem sabe a gente para de tentar por um tempo e não ficamos tão ansiosos. — Ela sugeriu que você fizesse exames também — falei. — Claro que faço — ele disse firme. — Todos que forem necessários. Sorrindo, beijei-o. — É por isso que eu te amo — disse. Nosso beijo selou tudo. Mesmo com os desafios, continuávamos juntos, fortes, e prontos para enfrentar qualquer obstáculo que viesse pela frente.
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