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962 Words
Ph narrando Três anos se passaram desde a partida de Julia. Dois anos atrás tentei contato com ela, Malu conseguiu localizá-la, enviamos mensagens contando toda a verdade, mas nunca mais tivemos notícias. Eu respeitei a decisão dela: não queria falar comigo, não queria me ver nunca mais. Eu havia destruído completamente seu coração e suas expectativas de felicidade ao meu lado. Ela implorou para que eu fosse embora com ela, e eu não fui. A culpa era toda minha. — Tá pensativo — Rodrigo entrou na sala, quebrando meus pensamentos. — E você não parece muito feliz — respondi, observando-o. — O exame da Malu deu negativo — disse. — Agora a médica pediu para eu fazer os meus exames. — E você vai? — perguntei. — Vou sim — ele respondeu. — Quero ver o que está acontecendo. Meu medo é não poder ter filhos. — Será? — questionei. — Não sei. O Bn uma vez esmagou meus testículos com os pés quando criança — ele disse, com aquele sorriso irônico. — Nem me lembra — virei o rosto, lembrando do grito insano que ele deu na época. — Bom — disse ele, resignado — vou até o posto. Qualquer coisa me avisa. — Ok — respondi. — Ah — disse ele, pegando uma sacolinha. — Sua entrega. Mandou direto do Alemão, jura que não foi roubado. — Duvido — ri. — Malu até hoje me cobra as alianças roubadas da joalheria — ele falou. — Precisa comprar uma — respondi. — E você mandou roubar a que vai dar para a Rosa — ele comentou. — É — confirmei. — Ainda não está certo que quer assumir ela como fiel? — perguntou. — Estou — respondi. — Preciso seguir minha vida. — O baile vai ser top — disse ele, guardando a arma e a chave da moto antes de sair. Fiquei ali, sozinho na poltrona, olhando para o teto, depois abri a caixinha da aliança que daria a Julia e suspirei. — Essa aliança era para você, Julia — murmurei. Rosa não era r**m; pelo contrário, era fechamento para mim. Aprendi a gostar dela. Ela me apoiava, se preocupava comigo, e nunca reclamou de viver no morro. Ela entendia meu silêncio quando mencionavam Julia, e isso era suficiente. Estávamos juntos há dois anos, e ela já havia provado ser de confiança. Saí para fora do morro e vi um caminhão chegando pelo lado do mato — nossas entregas vindas direto do Morro do Alemão. Bn estava mandando muito bem comandando tudo por lá. Agora, pelo menos, tudo estava em família: Rocinha conosco, Alemão com Bn, Complexo da Maré e Santa Marta nas mãos de Perigo. Mas todo mundo achava que Santa Marta estava com a polícia e a Maré com Saul, que na verdade era sub do Perigo. Vida que segue. Vamos ver até onde Perigo levaria essa história. — Tio — Joana falou, de mãos dadas com Rosa. — Enquanto eu não trouxe ela, ela não parava de incomodar na ONG — disse Rosa, me dando um beijo, que correspondi. — Você me leva para passear? — perguntou Joana. — Vamos sim — respondi. — Pode deixar, Rosa, diz à Malu que levo ela depois. — Preciso voltar — disse Rosa. — Estou ajudando Malu a preparar a festa das crianças. — Depois conversamos — falei, e ela assentiu sorrindo. — Até mais, sua chata! — Rosa disse para Joana, que pulou e bateu as mãos de alegria. — O que você quer, minha Perigosinha? — perguntei a Joana. — Quero ver meu pai — disse baixinho. — Não pode deixar sua mãe descobrir — me abaixei até ela. — Lembra do nosso segredo? — Ele me disse que ia me dar um presente — ela falou. — Final de semana eu te levo, ok? Foi o que combinamos — garanti. — E se eu te disser que é sábado, você acredita? — piscou e sorriu. — É quarta-feira, dona Joana — resmunguei, e ela bateu os pés, resmungando, antes de comer um sorvete no caminho para a creche. Mandei uma mensagem para Malu avisando que a coloquei lá, e ela me agradeceu. (…) Bn encostou a moto na frente da boca, e Rodrigo subia também. — E aí — falei para Bn. — Fiquei sabendo que vai assumir a Rosa no baile sábado — ele sorriu. — Vou ficar sozinho. — Você não foi convidado porque não queremos ninguém drogando ninguém — ri. — Cala a boca, c*****o! — ele falou. — Minha presença é VIP, não precisa de convite. Já separei as coisinhas boas para Malu. — Malu o c*****o — Rodrigo desceu da moto. — Fica longe da minha mulher. Rimos todos. — Agora — disse Bn — pede para ela se sabe algo da Marisa. — O que foi, mano? — Rodrigo perguntou. — Tá com saudade da X9? — Não, não — respondeu Bn, acendendo um baseado. — É papo de quando eu ver ela quero cobrar. Sabe a raiva que tenho dessa mulher depois de tudo que fez. — Precisa ficar calmo — Rodrigo comentou. — Ela nem deve estar no Brasil — falei. — Deve estar em algum lugar do mundo, junto daquele filho da p**a do Kaio. — Esse é outro — Bn concordou. — Duvido que ele apareça algum dia — Rodrigo falou. — E aí, gostou da aliança? — Bn perguntou. — Roubei no mesmo lugar que peguei a da Malu e a do Rodrigo. — Dono do Complexo do Alemão roubando joalheria — dei um peteleco nele. — Toma jeito, c*****o. — Sorte da Rosa que a Julia foi embora. Só assim para ela virar primeira dama do sub — Bn riu, e eu apenas o encarei.
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