EPISÓDIO 4

1259 Words
Eu não tenho ideia do que estou fazendo, mais é a única coisa que me vem a mente, eu olho para a Ana e para Alexandre, e desço do carro, Assim que o carro encosta na calçada. Só me agarrei na imagem de ela tentando sair dos braços dele, e a cara dele de medo. Era a única coisa que me dava coragem, e eu não podia deixar de ficar visualizando aquela imagem o tempo todo em minha mente. - Não ! Minha resposta é não. Eu sou a mãe dela, e não vou aceitar que mude a minha posição. Se acha que um laço mágico de sangue, te torna o responsável por ela, vá em frente ! Cuide dela sozinho, quero ver se consegue. Sinto um nó na minha garganta, mais é a minha única esperança ! Se eu estiver errada eu vou estar perdendo meu bebê para sempre. Mais tenho que apelar para algum sentimento que ele possa ter. Eu ando devagar e vou me afastando do carro. Rezando para que ele me siga, e decida deixar ela comigo. - Eu já passei por muitas coisas, já enfrentei terroristas decididos a me m***r a qualquer preço Já invadi o campo inimigo, para salvar um amigo. Já passei horas desenvolvendo estratégias para nações em guerra. Descobrindo maneiras de abalar o inimigo para enfraquecer e depois destruir . Mais nada disso conseguia me fazer sentir medo. Sentia apenas a adrenalina de sobreviver e vencer. Mais nunca medo ! Eu nunca senti o que estou sentindo agora. Olhar para os olhos da minha filha, gritando como se estivesse com muita dor, chamando por aquela mulher. - Fique aqui. Eu disse ao motorista. Ana chorava cada vez mais alto, e eu não tinha a menor ideia do que fazer . Olhei pela janela e não via Diana. Havia desaparecido. Talvez tenha entrado no shopping em frente ou tomado um táxi. Mais não acho que é o tipo de coisa que uma mãe faria. Pelo menos eu pensava que as mães eram assim. Diana não era a mãe da Ana, mais eu era o pai, e precisava fazer alguma coisa. E o que eu senti naquele momento é algo que eu nunca senti na vida ! Uma sensação de impotência. Eu não sabia como acalmar um bebê. Ninguém nunca me acalentou quando eu chorei, ou cantou canções de ninar para mim. Ou ficou me segurado até eu parar de chorar, talvez eu nunca, nem tenha chorado. A minha intenção era contratar uma babá, mais vendo Ana, se contorcendo, tentando escapar. Me colocou pela primeira vez em uma situação que eu não podia controlar. E quando vi Diana, encostada naquela parede chorando como se a vida dela fosse acabar. Eu achei que tinha encontrado a solução perfeita. Mais ela foi embora, sem olhar para trás ! Queria mais, e eu não sei, mais o que. A muito tempo eu não sinto emoções, fiz isso para me proteger enquanto eu crescia, e quando não precisava mais da p******o de ninguém , era muito tarde, para descongelar meu coração, ele já estava morto para sempre, pelo menos eu pensava isso até hoje. A minha vida se resumia a experiências físicas, com álcool desde a adolescência, mulheres e outros estimulantes mais tarde. Isso era o suficiente, para me proporcionar a sensação, que o órgão congelado poderia me dar. Era ótimo para mim, não tinha nada que me impedisse, não tinha nada que poderia ser usado contra mim. O que me fazia sempre acompanhar um raciocínio, nada pode me parar ! E só existe uma meta. A lógica, sempre vence. E depois de um dia difícil ou de uma missão concluída, sempre existia, uma bebida, ou uma mulher , que fizesse acalmar a escuridão dentro de mim. A euforia durava apenas alguns minutos, mais era melhor do que a escuridão sem fim em que eu vivia. E naquele momento não sentia o vazio, e não estava gostando desse sentimento. Em um impulso eu tiro Ana da cadeirinha. E ela chora ainda mais alto, se debatendo no meu colo. Naquele momento eu senti ! Queria nunca que esse dia tivesse chegado, mais eu senti, medo! É um sentimento tão atordoante que quase me derruba. E o pior é olhar para ela, e ver que ela esta sentindo muito mais que eu. Ela tem pavor de mim, talvez eu tenha mais dela, do que ela de mim, mais ela é pequena demais para compreender isso. - Mama, mama. Ela parece que tenta falar alguma coisa em meio aos soluços . Mais é uma língua que eu nunca tinha ouvido falar, e olha que eu conheço todas as nacionalidades. Eu teria fugido, e teria deixado ela ali. Mais me vem as palavras da única pessoa capaz de me ajudar a pensar com clareza, talvez o único amigo que eu tenho na vida ! Saidy. - Precisa ir busca- lá, Alexandre. Ela é sua responsabilidade. Você tem recursos que pode dar uma vida à ela de muita fartura. Ela é seu sangue, sua família ! E jamais abandonamos a família ! - Já tenho uma família, sem precisar de sangue. Eu me feria a família de Saidy. A quem sempre jurei lealdade eterna. Acho que foi o mais perto que eu cheguei até hoje de ter algum sentimento por alguém - Somos sua família por escolha. Mais ela é sua família de sangue, seria um erro não admitir, uma coisa tão forte. - Não ! O erro foi eu ter vindo para cá. - Fugir, é sua especialidade, Alexandre. O tom de Saidy era muito sério. - Mais não pode mudar o fato, que é seu dever dar o melhor a ela. Não pode mudar o que é, e o que precisa fazer fugindo . Não dessa vez ! E realmente Saidy tinha razão. Eu vivia correndo, mais não de alguém ou de alguma coisa. Nada era capaz de me colocar medo. Mais também não estava correndo por alguém ou por alguma coisa. Eu tinha fome da sensação do perigo. Era como se eu buscasse o tempo todo tudo que foi negado a mim, enquanto eu vivia apenas para sobreviver. Talvez isso, mais do que os comentário do Saidy me fez vir. Ou talvez observar as mudanças em Saidy depois que se casou e teve filhos. Eu nunca me liguei a ninguém, exceto a Saidy que sempre foi como um irmão para mim. Tinha 28 anos, quando conheci Saidy, foi a primeira experiência que eu tive de me importar com alguém. Mais ainda não era fácil, Podia jurar lealdade dependendo do tamanho do cheque. Mesmo agora que troquei a atividade de mercenário implacável por empresário implacável. Aquilo continuava verdadeiro. Minha lealdade poderia ser comprada e uma vez vendida , defenderia a quem precisasse ser leal, até a morte se necessário. E depois do trabalho concluído rompia laços, com a mesma facilidade que foi criado. De novo Saidy era uma exceção. Um trabalho que tinha dado como encerrado, Se tornou uma missão de resgate para salvar a vida do sheik, quando todos já haviam desistido de resgata- lo . Isso se transformou. em um laço inabalável. Ana acabou de comprou minha lealdade pelo laço de sangue. Um cheque que jamais poderia ser descontado, e nunca sumiria. E eu vou lutar para defender e proteger ela, com a minha própria vida se necessário . Não importa o preço eu a defenderia. Lutaria e morreria por ela, ou passaria o tempo que fosse necessário procurando pelas ruas, a mulher que ela chama de mãe.
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