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SAGRADO E PROFANO

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Blurb

Sienna veio da Austrália com a Bíblia na mão e o coração cheio de fé. Mas no morro do Rio, o mandamento é outro — aqui, quem manda é o Coroa. Ele é o dono do morro, comanda o tráfico, as armas e carrega um olhar que queima mais que o inferno. Ela é a missionária em um ano sabático, armada de um português torto, que ousou invadir seu território. Entre tiros, orações e noites de pecado, um amor proibido nasce nas chamas da favela.

Ela veio salvar almas.

Ele vai corromper a dela.

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PRÓLOGO
​SIENNA ​O sol da manhã em Gold Coast entra pela janela da cozinha como um convite irrecusável para a vida. É um daqueles dias em que o céu é tão azul que parece de mentira, e o cheiro de sal no ar se mistura com o aroma doce das panquecas que a mamãe fez. ​Estou sentada à mesa, sentindo o calor do verão australiano mesmo antes das oito da manhã, tentando ignorar a nuvem de tensão pairando sobre o açúcar mascavo e o xarope de bordo. ​— Mais uma, querida? — pergunta a mamãe, segurando a espátula como se fosse uma arma. ​Seus olhos, da mesma cor do mar que eu tanto amo, estão cheios de uma preocupação que eu já conheço de cor. ​— Tá ótimo, mãe. Já tô satisfeita. Tá uma delícia, como sempre. — Dou minha risada mais fácil, tentando aliviar o clima. ​Do outro lado da mesa, o papai está escondido atrás do jornal. Eu sei que ele não está lendo de verdade. Ele só está se escondendo. ​A mamãe suspira, aquele suspiro longo e profundo que significa “minha filha está arruinando a vida e eu não posso fazer nada para impedir”. Ela se senta, colocando as mãos sobre a toalha de mesa azul-clara. ​— Sienna, querida, nós precisamos falar sério sobre aquele assunto. ​Eu já sabia que isso ia acontecer. ​É o nosso café da manhã de domingo, tradição sagrada na família Hope. Panquecas, frutas, suco de laranja fresco e, ultimamente, a Grande Discussão Sobre o Futuro de Sienna. ​Eu me preparo mentalmente, endireitando a postura na cadeira. Se tem uma coisa que aprendi com meus dezoito anos nesse planeta é que, quando você é descrita como “boa demais para esse mundo” desde que se entende por gente, as pessoas esperam que você tome decisões… bem, boas. Do tipo seguro. Do tipo entediante. ​— Eu estou falando sério, mãe — digo, pegando um pedaço de panqueca com os dedos e mergulhando no mel. — É a coisa mais séria que eu já pensei na minha vida. ​— Faculdade é sério, Sienna. Psicologia é uma carreira linda, estável. Você tem uma vaga garantida, suas notas são maravilhosas… — a voz dela quase quebra. ​Eu olho para ela, sentindo aquele aperto no peito que sempre dá quando sei que estou decepcionando as pessoas que mais amo. Mas o chamado é mais forte do que eu. ​— Eu sei, mãe. E um dia eu vou, juro. Mas agora? Agora não é a hora. — Inspiro fundo, soltando o ar dramaticamente. ​É o meu momento. Minha fala ensaiada no banheiro. ​— Eu não quero estudar mentes, quero curar corações. ​Falou e disse, Sienna. ​A frase soa exatamente como eu queria: doce, profunda e levemente dramática. O tipo de coisa que você lê em um cartão de aniversário espiritual. ​O efeito é instantâneo. A mamãe fecha os olhos, como se estivesse com dor física. Do outro lado do jornal, ouço um ruído abafado. Aposto que o papai acabou de puxar um fio de cabelo. É o hobby novo dele, aparentemente. ​O jornal desce lentamente. Lá está ele, meu pai, com seu rosto sério e seu coração mole. ​— Curar corações, Sienna? — ele repete, a voz cansada. — E como exatamente você planeja fazer isso? ​— É isso que eu tô tentando explicar! — digo, minhas mãos gesticulando animadamente, quase derrubando meu copo de suco (sim, sou um desastre). — A igreja está organizando essa expedição missionária. Seis meses a um ano no Brasil. Vamos ajudar em comunidades carentes, ensinar inglês, brincar com crianças, ajudar a construir um centro comunitário… ​— No Brasil? — minha mãe interrompe, os olhos arregalados. — Sienna, isso é do outro lado do mundo! É um país… grande. Com problemas. Muitos problemas e pessoas que sambam o dia inteiro de biquínis. ​— Exatamente! — eu digo, como se ela tivesse acabado de dar o argumento perfeito. — Eles precisam de ajuda. E eu preciso… bem, eu preciso de algo real. Algo que não seja só livros, salas de aula e provas. Quero fazer a diferença, de verdade. Quero sentir que estou vivendo, não só seguindo um roteiro. ​— O roteiro é bom, filha! — a voz do meu pai sobe um tom. — O roteiro te dá um diploma, um emprego, um futuro! ​— Eu vou ter um futuro, papai! Só que vai ser um futuro que eu construí, não um que vocês planejaram pra mim. — Minha voz é mais suave agora. Eu os amo tanto. É por isso que é tão difícil. — Olha, é só um ano sabático. Um. Só um ano. Não é para sempre. E eu vou voltar cheia de histórias, mais madura, e aí sim, quem sabe, a faculdade. ​— Conhecer o mundo, filha, não é o mesmo que sobreviver nele. — minha mãe fala, repetindo a frase que ela deve ter ensaiado na frente do espelho. ​Ela diz isso com uma gravidade que quase me faz rir, mas eu me contenho. É a sua fala dramática. ​— Eu vou sobreviver, mãe. Vou ter uma equipe, um líder de missão, a igreja lá… vai ser seguro. E eu não sou uma criança. ​Eles se olham. É aquele olhar de casal que se comunica sem palavras. O olhar que diz “nossa filha é uma idealista lunática e nós falhamos como pais”. Eu os observo, meu coração batendo forte. ​Eu já me inscrevi. Eu já fui aceita. Eles ainda não sabem disso. Essa parte da conversa eu vou guardar para a sobremesa. ​Para mudar de assunto — uma tática clássica da Sienna Hope — pego meu celular sobre a mesa. ​— Olha, eu já estou até me preparando. — Abro o aplicativo de tradução. — Estou aprendendo português. É uma língua linda, parece uma música. ​Eles ficam em silêncio, me observando. Eu digito rapidamente e leio a primeira frase que aparece na tela, tentando imitar a entonação que ouvi no YouTube. ​— “Oi, eu sou de igreja." — ​Minha mãe pisca. Meu pai franze a testa. ​— O que isso quer dizer? — ele pergunta. ​— Quer dizer “Hello, I am from the church”! — explico, animada. — Para me apresentar. Para as pessoas saberem que sou uma missionária, uma pessoa legal, confiável e claro, inteligente. ​— Aham — minha mãe resmunga, levando sua xícara de chá aos lábios. ​Rolo a tela, procurando por frases mais úteis. Ah, essa é boa. Uma que vai mostrar a eles a profundidade do meu compromisso humanitário. Leio em voz alta, com o coração transbordando de boas intenções, demonstrando meus conhecimentos linguísticos: ​— “Eu quero fazer amor... com o próximo.” ​O silêncio que se segue é absoluto, pesado, quebrado apenas pelo som distante de uma gaivota lá fora. A xícara de chá da minha mãe para no ar. Os olhos do meu pai estão do tamanho das panquecas. Ele parece ter engasgado com o próprio ar. ​— O… o que você acabou de dizer, Sienna? — minha mãe sussurra, pálida. ​— “I want to do good for others.” — traduzo, orgulhosa. — É lindo, né? Tipo, eu quero fazer o bem, espalhar amor, você sabe… amor ao próximo. É basicamente o lema da missão. ​Meu pai se levanta tão rápido que a cadeira quase cai para trás. ​— FILHA! — ele grita, a voz estridente. — Você NÃO pode dizer isso! NUNCA! ​Eu pisco, confusa. ​— Por que não? É sobre caridade! ​— Não, Sienna! — minha mãe enterra o rosto nas mãos. Suas orelhas estão vermelhas. — “Fazer amor”… quer dizer… outra coisa. ​— Outra coisa? Que outra coisa? ​— É… é… — meu pai parece estar tendo um derrame. Ele se vira e encara a parede, os ombros tensos. ​Fico olhando para eles, e então, de repente, a ficha cai. A memória de uma aula de educação s****l, a piada de um colega brasileiro de escola… “fazer amor”. Oh. Oh, não. Um ruído escapa da minha boca. Um pequeno “oh” de puro horror. E então, não consigo evitar. Um riso começa a borbulhar na minha garganta, um riso de constrangimento, de absurdo, de puro caos linguístico. ​— Oh, meu Deus! — grito entre risadas, segurando a barriga. — Não! O tradutor… o tradutor me traiu! ​Meus pais me olham. A princípio, ainda estão chocados. Mas então, o canto da boca da minha mãe começa a tremer. Meu pai, ainda de costas, solta um som que é meio grunhido, meio risada abafada. A tensão se quebra. ​— Você… você vai ser comida viva no Brasil, Sienna Hope — ele diz, balançando a cabeça, mas há um brilho nos seus olhos agora. O brilho da rendição. ​— Vou ter cuidado com o tradutor, papai. Prometo — digo, ainda rindo, enxugando uma lágrima do canto do olho. ​O mar não responde lá fora, mas uma gaivota pousa no parapeito perto de mim, tombando a cabeça como se dissesse: “Você vai precisar, garota. Você vai precisar”. ​E eu só consigo rir, o coração cheio de uma fé cega, um otimismo inabalável e a leve e aterradora suspeita de que minha vida está prestes a virar de cabeça para baixo. LANÇAMENTO 01/02 ADICIONE NA BIBLIOTECA COMENTE VOTE NO BILHETE LUNAR INSTA: @crisfer_autora

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