Benjamim Narrando
Depois da conversa com o Jacaré, a cabeça ficou um turbilhão. As palavras dele, o jeito como falava, a situação toda, eu fiquei com isso na minha mente o tempo todo. Não sabia direito o que havia acontecido, mas a sensação de alívio misturada com um peso estranho ficou comigo o resto da noite. Quando finalmente voltei para casa, todos ainda estavam dormindo. Não acordei ninguém de imediato, precisei de um tempo para digerir tudo, mas sabia que tinha que conversar com meus pais.
Encontrei meu pai na cozinha, tomando café, como de costume. Ele me olhou de cima a baixo, parecia que havia lido meu rosto e percebido que algo estava diferente. Era impossível não perceber, eu estava com os pensamentos a mil, tentando alinhar tudo na minha cabeça.
— Então, filho, o que decidiu? — Ele perguntou, sabendo que depois de tudo o que aconteceu, minha decisão não era simples.
Respirei fundo e me sentei na mesa. Precisei de um minuto para organizar as palavras.
— Eu decidi dar um voto de confiança ao Jacaré. Eu sei que é arriscado, mas a verdade é que ele tentou explicar o que aconteceu, e no final, eu vi que ele se preocupa de alguma forma. Não vai mudar tudo, nem eu vou voltar a confiar em tudo o que ele fez, mas agora, ele é parte de algo que me fez repensar minhas certezas.
Meus pais me olharam em silêncio por um momento, mas não disseram nada. Eu sabia que estavam esperando por algo mais, mas essa era a decisão que eu tinha tomado. Não queria mais estar afastado daquele jeito, sem saber como seguir. Tinha feito uma escolha, uma escolha que eu sentia que ia me ajudar a sair desse vácuo que a vida parecia ter me deixado.
Depois de alguns segundos, minha mãe entrou na cozinha, ouviu a conversa, e ela só deu um suspiro. Então, meu pai finalmente falou:
— Tá certo. Se você achou que era o melhor, eu respeito. Mas, com isso, a gente volta a morar na casa na cidade. Bem mais perto do morro onde o Jacaré mora, mas... espero que você esteja pronto para lidar com as consequências de dar esse voto de confiança.
Eles arrumaram as coisas rapidamente. Não era o que eu esperava, mas era um começo. Fazia muito tempo que não tínhamos um lar de verdade, e por mais que as coisas não estivessem 100%, eu sentia que esse passo era necessário.
Enquanto fazíamos as malas e colocávamos tudo no carro, uma sensação de resolução tomou conta de mim. A decisão estava tomada, e embora tivesse dúvidas, eu sabia que havia algo em mim que dizia que era o certo. Nos despedimos de minha tia, que me deu um sorriso cansado, mas compreensivo, e saímos rumo ao futuro incerto. Eu sabia que o caminho que estava à frente não seria fácil, mas era o que precisava ser feito.
Enquanto o carro se afastava, olhei pela última vez para aquela casa, o lugar que tínhamos vivido por um bom tempo, e me perguntava o que o futuro realmente reservava para todos nós. Mas uma coisa era certa, pelo menos agora estávamos voltando a tentar reconstruir algo — e isso, por mais assustador que fosse, era uma possibilidade nova.
Chegamos na casa nova, um lugar mais tranquilo do que o que deixamos para trás, mas ainda assim, o cheiro de mudança no ar era forte. Logo, meus pais começaram a arrumar as coisas, colocando móveis no lugar e ajeitando tudo para que a casa tivesse mais cara de lar. Eu, por outro lado, só queria cair na cama. Os últimos dias foram pesados, e eu precisava de descanso. Depois de colocar minha mochila no canto e ouvir os sons familiares de minha mãe e pai conversando, fui direto para o meu quarto. Fechei a porta, sentei na cama, joguei as malas para o lado e logo me deixei afundar no colchão.
Tirei minha roupa e fui tomar um banho quente. O jato da água parecia lavar, ao mesmo tempo, a tensão do corpo e da cabeça. A água escorrendo pela minha pele me acalmou um pouco, mas dentro de mim, tudo estava agitado. Eu estava realmente exausto de tanta coisa que havia acontecido nos últimos tempos, de tantas coisas não resolvidas.
Quando terminei, me vesti com uma roupa mais confortável, sem muita preocupação, e voltei para o quarto. Eu sabia que precisava colocar a cabeça no lugar, então peguei meu celular, como era de costume, para dar uma olhada nas redes sociais. Era o tipo de distração que, para mim, sempre funcionava. Mas, naquela tarde, meus dedos começaram a deslizar pela tela de forma diferente. Entre uma coisa e outra, acabei me encontrando no perfil de Jacaré.
Eu não sabia o que exatamente me fazia ir até lá. O cara sempre foi tão distante, tão cheio de problemas, mas ao ver aquelas fotos, um algo estranho surgiu dentro de mim. Jacaré aparecia, às vezes em fotos com os amigos, em outras sozinho, com aquele olhar firme, intenso. E, claro, ele era inegavelmente bonito. A forma como o corpo dele estava, todo malhado e forte, foi algo que não passei despercebido. Eu não tinha pensado nisso antes, mas agora que estava vendo aquelas fotos, tudo parecia mais nítido. Não conseguia evitar de focar naquelas imagens dele, o rosto e os músculos em evidência, aquele jeito todo imponente.
Senti um calor inesperado subir pelas minhas pernas, uma sensação estranha e desconfortável me tomou de surpresa. Era só olhar mais um pouco, só mais um clique... mas, não! Eu sabia que não podia continuar. Mordendo a ponta do lábio, deixei o celular de lado de repente, tentando afastar essa sensação que se instalou em meu peito e entre as pernas. Por algum motivo, aquilo me estava fazendo sentir algo muito confuso. Minha mente dizia uma coisa, meu corpo respondia com outra reação totalmente diferente.
Me sentei na cama, tentando me acalmar e focar em algo mais. Não podia deixar minha cabeça vagar para aquilo, não podia deixar que ele tivesse esse poder sobre mim. Não tinha sentido. Jacaré não era alguém com quem eu deveria estar pensando dessa forma... mas, mesmo assim, o calor persistia, a tensão não ia embora. Eu respirei fundo, tentando colocar as coisas nos seus devidos lugares, enquanto o corpo ainda queimava de algo que eu não sabia explicar.
Fiquei lá, olhando para o teto, a mente explodindo de pensamentos conflitantes. Eu sentia como se tudo estivesse fora de controle, sem entender nada do que realmente estava acontecendo comigo.