Capítulo 10

1281 Words
Benjamin Narrando Depois da discussão com meu pai, fui dar uma volta e acabei voltando só no outro dia. Mas calma, eu não bebi nem fiz estripulias. Eu sei que estou operado e com pontos ainda, mas falta só dois dias para retirar os pontos. Entrei no quarto do hotel achando que meus pais estariam dormindo, mas, para minha surpresa, estavam arrumando as malas. — Pra onde vocês estão indo? — perguntei, vendo minha mãe se assustar. — Hoje à noite vamos para nossa casa, a que compramos aqui na cidade — meu pai respondeu. — Ah, eu tinha esquecido dessa nova aquisição — falei em tom sarcástico, e vi minha mãe ficar com as bochechas vermelhas, algo que só acontece quando ela está brava. — Já cansei de tudo isso, Benjamim! Senta aqui agora — ela falou com a voz mais alta e autoritária. — Se acalme, Clara — meu pai se assustou. Fiquei com um pouco de medo da minha mãe e me sentei, enquanto ela me observava com aquele olhar que parecia devorar a alma. — Já estou cansada de todo esse mimimi de vocês dois. As coisas já foram resolvidas: o tal do jacaré já pediu desculpas, você e seu pai já conversaram o suficiente, e você até saiu para esfriar a cabeça. Eu respeitei o espaço de vocês, mas agora chega. Se não querem que eu vá embora e deixe vocês se resolverem sozinhos, porque já estou exausta disso tudo — ela suspirou, como se tivesse tirado um peso das costas. — Fique calma, Clara. Já está tudo resolvido entre nós, não é, Benjamim? — meu pai falou, e me olhou com os olhos arregalados. — Sim, papai — respondi. — Ótimo. Então, para ter certeza, hoje iremos até a favela onde o jacaré mora e você irá pedir desculpas a ele, Benjamim — ela disse, e eu imediatamente neguei. — Isso é demais para mim, mamãe. — Ou vamos até lá, ou não tem nada resolvido. — Tá bom, mamãe. Eu peço desculpas para o homem que tentou me matar — falei, claramente sarcástico, e ela atirou um sapato em mim. Ajudei eles a arrumar as malas restantes e fui tomar um banho para tirar o cansaço do corpo. No almoço, decidimos sair para comer de frente para a praia. Pedi um acarajé, que estava uma delícia, e depois um suco natural de laranja. Aproveitei que o médico já tinha liberado para eu comer de tudo. — O que acha de entrarmos na água, meu bem? — meu pai perguntou, chamando minha mãe. — Vamos sim, filho. Você se importa de ficar sozinho na mesa? — ela perguntou e eu neguei. — Pode ir, mamãe. Se divirta. Eles foram para o mar e eu fiquei observando de longe, rindo de como estavam felizes. Percebi que estava sendo duro demais com meu pai por ele ter comprado uma casa em frente à praia. Pedi mais um suco de laranja e o garçom me trouxe, ficando me olhando por um momento antes de dar uma "picadinha" pra mim, o que me fez rir. Fui até a beira do mar e molhei apenas meus pés na água para me refrescar, já que o dia estava super quente. Quando meus pais saíram do mar e vieram em minha direção, fizemos o pagamento da refeição e voltamos para o apartamento de frente para a praia. — Vamos tomar nosso último banho aqui no hotel e depois partiremos para nossa casa nova — disse meu pai, todo feliz. Antes dele entrar no banheiro, puxei ele pelo braço e o abracei. — Me perdoa, papai, por tudo o que falei e por ter brigado contigo só porque você comprou uma casa aqui na cidade — falei, e ele negou enquanto minha mãe chorava. — Está perdoado, meu filho, e saiba que te amo muito — ele me deu um beijo na testa e entrou no banheiro. — Não sabe como isso me alegra, meu filho — minha mãe me abraçou. Todos nós tomamos banho e nos preparamos para ir para a nova casa. Queria ajudar a carregar as malas, mas meus pais não deixaram, então desci e fiquei esperando no carro. Eles terminaram de carregar as malas, e meu pai dirigiu por alguns minutos até chegar em frente a uma casa enorme, moderna e toda branca por fora. — Que lugar incrível! — exclamei, descendo do carro. Meu pai nos puxou pelas mãos e nos levou para dentro da casa. Ao entrar, fiquei boquiaberto com o luxo do lugar. Tudo em porcelanato e mármore dos mais caros. As malas foram levadas para o meu quarto, e eu me joguei na minha nova cama, que era muito melhor que a antiga. — Meu filho, não se esqueça que temos que ir até a casa do jacaré — minha mãe falou ao passar na frente do meu quarto, me fazendo revirar os olhos. Tomei um banho, escolhi uma roupa simples e, depois de pronto, passei um body splash para deixar um perfume leve na pele. Peguei minha bolsa com meus pertences e desci até a sala. — Já estou pronto — disse. — Ótimo, então vamos — minha mãe falou. Saímos de casa e entramos no carro. Meu pai dirigiu até a favela onde o jacaré morava, e na entrada tivemos que parar até ele liberar nossa entrada. Subimos a favela toda até o final e, de longe, vi o jacaré parado na porta de sua casa. Meu pai parou o carro, desceram, e eu fiquei dentro até me dar vontade de sair. O jacaré veio me provocar, e eu já coloquei ele no lugar. Entrei na casa dele, que até era bonita e luxuosa, considerando que ficava na favela. Fui para o sofá e me sentei. — Não acredito que estou aqui — falei para meus pais. — Se comporte, por favor — meu pai pediu. Depois de ser obrigado a pedir desculpas, senti vontade de ir ao banheiro. O jacaré me levou até lá, e senti que ele me olhava enquanto subíamos as escadas. Entrei no banheiro e bati a porta na cara dele, fazendo ele reclamar. Respondi de volta, e depois de fazer minhas necessidades, fui sair do banheiro, mas ele estava na porta, impedindo minha saída. Tentei passar, mas ele me bloqueou, dizendo coisas inapropriadas para mim. Tentei correr, mas minha barriga doeu. — Vamos embora daqui — chamei meus pais para irmos embora. — Mas já quer ir embora? — meu pai perguntou, enquanto o jacaré chamou-nos para jantar. Meus pais aceitaram jantar com ele, e eu fiquei extremamente irritado por ter que passar mais tempo naquela casa do ogro. Jantamos e, para minha surpresa, vi como ele sabe cuidar de uma criança, apesar de ser tão e******o. Descobri até o nome verdadeiro dele. Ele não gostou muito de ser revelado, mas eu adorei. Quando meus pais decidiram ir embora, eu fiquei aliviado. — Tchau, princesinha — me despedi da pequena, e depois da dona Amélia. Saí sem me despedir do ogro, e quando entramos no carro, começamos a ouvir barulho de tiros. Meu coração disparou, e eu não conseguia nem me mover do lugar. — Vem, c*****o, vem para dentro! — o jacaré me chamava, mas eu estava em choque. Senti ele me puxando para dentro de um lugar que parecia um cofre. Ele nos deixou ali dentro, com apenas um rádio, e dona Amélia parecia tão tranquila. — Fiquem calmos, estamos seguros aqui — ela disse, e eu neguei. — Eu avisei que não era uma boa ideia virmos para esse lugar — falei, e meus pais choraram. As horas passaram, e ninguém veio nos tirar dali.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD