ESTER NARRANDO
— Vai embora – eu falo empurrando a porta enquanto ele tentava abrir – Vai embora, Bruno.
— Você me deixe entrar Ester, eu vou entrar, você não vai se ver livre de mim.
— Eu não quero mais nada com você. – eu falo nervosa e ele coloca toda sua força para entrar no apartamento e ele consegue empurrar a porta e eu saio correndo – vai embora!
— Chega Ester – ele me alcança e me segura pela mão.
— Você está me machucando, Bruno.
— Você está maluca? Está maluca em não me atender e nem responder as minhas mensagens.
— Eu já disse que eu não quero mais nada com você – eu olho para ele firme.
— Por mensagem? Você diz que não quer mais nada comigo por mensagem? – ele solta uma gargalhada – quem te proporciona a sua vida de bonequinha, sou eu. Todos os seus luxos, carros, apartamento, tudo.
— Eu não quero mais nada.
— Você prefere voltar para aquela boate imunda? Ter diversos clientes em uma noite? – ele pergunta – ser tratada que nem lixo?
— Você me trata que nem lixo – eu olho para ele – a diferença é que lá, eu não vou ter você na minha vida – eu tento me soltar mas ele me segura forte – você está me machucando Bruno, você está me machucando – eu repito.
— Você não sabe o que está falando – ele me joga – você não irá arrumar mais nenhum cliente nessa cidade se você não ficar comigo, todo mundo sabe – ele bate no peito – que você é minha mulher.
— Eu não sou sua propriedade! – eu grito desesperada – você não manda em mim, eu não sou nada sua, me deixa em paz!
— É isso mesmo? – ele fala enquanto eu me arrumo no sofá – você vai se arrepender por cada palavra que você me disse.
— Eu estou cansada de você Bruno, estou cansada de você me maltratar, dinheiro nenhum, nada que você me der, vai ser suficiente para aguentar tudo que eu aguento.
— Depois de dois anos você vem com essa história esfarrapada, Ester? Depois de dois anos?
— Eu cansei, eu cansei. Você acha que eu sou a sua prisioneira e eu não sou, eu não sou sua prisioneira. Eu quero a minha liberdade.
— Você não sabe o que você quer, você fica montando fantasias na sua cabeça, o seu lugar é ao meu lado – ele fala.
— Eu não concordo com as coisas que você faz.
— Quem está colocando essas coisas na sua cabeça? Ludmila? – ele pergunta – aquela sua amiga ou Marcia a que mora com você?
— Ninguém está colocando nada na minha cabeça, não coloque as minhas amigas no meio, não faça nada contra elas.
— Eu não sou o monstro que você pensa que eu sou – ele fala e eu pego em meu braço – se eu te machuquei a culpa é sua.
— Minha culpa? A culpa sempre é minha – eu olho para ele – eu já disse que eu não sou obrigada a ficar com você, então – eu suspiro – me deixe em paz, me deixa em Paz Bruno.
— O que eu faço? – ele fala se abaixando e ficando na minha frente, ele encara em meus olhos e eu encaro ele – Me diz, Ester?
Eu fico com medo de abrir a minha boca, ele me encara com um olhar diferente, Bruno esta inquieto e eu fico com medo dele fazer algo contra mim.
— Você sabe o que você faz e eu não concordo – eu olho para ele – por favor vai embora, eu não quero mais ficar com você. – Ele se levanta e me encara.
— Você vai se arrepender por isso, Ester – ele fala se virando.
— Pode ter certeza de que não – eu respondo para ele.
— Você vai e vai voltar que nem uma c****a implorando por mim – ele apenas sai andando.
Quando sinto a porta se fechar com a batida forte, eu fico calma jogando o meu corpo todo no sofá.
Eu me envolvi com Bruno a dois anos, eu conheci ele na boate onde eu trabalhava fazendo programa, a gente se envolveu a primeira noite e depois ele virou meu cliente fixo e me propôs ficar apenas com ele, no começo tudo era muito bom, joias, apartamento, carros e todos os luxos, só que com o tempo ele começou a se achar que era meu dono, eu não conseguia fazer nada, o tempo todo ele estava controlando os meus passos, era um caos. E depois, Ludmila acabou me contando sobre os seus negócios, tráfico de droga eu sempre soube que ele mexia, mas com tráfico de pessoas e crianças era algo que me deixou muito assustada, o que me fez decidir na mesma hora que eu não queria mais me envolver com ele, uma decisão que fez Bruno surtar e até mesmo me ameaçar.
— O que aconteceu com a porta? – Marcia minha amiga de infância que veio embora junto comigo para Las Vegas e mora comigo pergunta.
— Bruno.
— Ele fez aquilo? Ele te machucou?
— Não – eu respiro fundo – ele apenas me ameaçou.
— E esses machucados em seus braços?
— Não é nada.
— Eu tenho pessoas que pode dar um jeito nele.
— Pedir ajuda para os seus clientes? Esquece Marcia, quero - ficar mais envolvida com esse tipo de gente não.
— E o que você quer dizer com isso?
— Vou arrumar dinheiro e ir embora – ela me olha assustada
— Ir embora para onde?
— Para qualquer lugar, longe daqui. Aqui eu não quero mais ficar, Bruno é maluco e até mesmo pode me matar.
— E você vai desistir de tudo isso?
— Tudo isso quem proporciona é ele, vai procurando algum lugar para ficar, porque logo vamos estar no olho da rua – ela me encara e eu me levanto – essa é a realidade.
— Você sabe que não tenho para onde ir, ainda mais – ela respira.
— Ainda mais o que?
— Agora que meus clientes diminuíram.
— Eu entendo Marcia a sua preocupação, eu amo você de paixão, você é minha melhor amiga e sabe tudo que eu passo nas mãos de Bruno, eu preciso arrumar um bom dinheiro para ir embora.
— E se você vender as suas coisas?
— Que coisas?
— Carro, esse apartamento, ele não te deu?
— Está tudo no nome dele – eu falo passando a mão pelo rosto – eu não tenho nada e ele vai me tirar daqui.