A Monstrinha Da Lombardi Concept. - Parte 2

1528 Words
Liz Não era como se eu estivesse particularmente interessada em participar ativamente de qualquer evento social da empresa, ainda que o tio Victor fosse muito generoso em suas confraternizações. Ele sempre faz questão da participação de todos os funcionários; não poupa gastos e transforma cada evento em uma superprodução. Mesmo assim, eu preferia me manter às margens de qualquer coisa que pudesse ligar minha figura a todo o glamour que o nome Lombardi representava, eu simplesmente não havia nascido para isso. Gostava da tranquilidade que o anonimato me trazia e era grata por minha mãe ter optado por me registrar apenas com o sobrenome Rodríguez, herança do papai. A verdade é que por muito tempo eu pude viver assim, sob a simplicidade e humildade dos cuidados que meu pai, Dante Rodríguez, e minha mãe, Júlia Lombardi, poderiam me oferecer. Quando, por uma tragédia, os dois foram levados de mim, eu não poderia imaginar que a minha vida tomaria um rumo tão diferente. Flashback On -Aquela coisinha é a filha da Júlia? - o homem alto e com a careca lustrosa fala. Ele tinha uma voz um pouco aguda e usava roupas bem alinhadas e caras. - Sim, senhor Lombardi. É sua sobrinha neta.- o advogado, doutor Francisco, anuncia em sua voz tranquila. - O senhor pretende ficar com ela? - Claro que não! - ele grita. As lágrimas simplesmente escorriam pelo meu rosto. Eu sentia como se o chão estivesse se abrindo em uma cratera sobre a outra: primeiro levando a vida dos meus pais e agora me deixando definitivamente sozinha. -Na minha vida não há espaço para uma criança. - ele me olhava como se estivesse à frente de um extraterrestre. - Quantos anos ela tem? Seis? O que ela come? - ele sacode as mãos em desespero. - Sete..- doutor Francisco sorri pra mim e dá a volta na mesa para tentar acalmar o titio. - Acredito que, como toda criança normal, ela come a mesma coisa que os demais seres humanos. - ele o acompanha até a poltrona mais próxima. - Sei que Júlia não manteve contato com sua família depois que seu irmão rejeitou o casamento dela com o Dante , porém, você é tudo o que ela tem. Não existe ninguém mais, Victor. - Lurdes ! - ele grita. - Lurdes ! Uma senhora de aparência amistosa entra na sala. Ela tinha cabelos mesclados em dourado e grisalho, sua pele era clara e ela vestia um vestido azul claro que ia até os pés. -Eu não quero ficar sozinha..- corro e me lanço nos braços dela. Ela tinha um cheirinho de vó, era lavanda e jasmim. - Meu anjo, você não vai ficar.- os braços dela se fecham ao meu redor. - Ótimo. Ótimo.. - pude ouvir tio Victor bater palmas bem atrás de mim. - Lurdinha vai cuidar. Flashback off E foi assim. Tio Victor assinou os papéis e naquela mesma tarde Lurdes e eu nos mudamos para uma bela casinha com jardim e cercas de madeira branca em um bairro no subúrbio de Nova York. Tio Victor costumava aparecer uma vez por semana, sempre aos domingos; ele trazia mais brinquedos do que eu conseguia brincar e sempre falava que eu era uma Lombardi e deveria me portar com toda a classe e dignidade que o nome exigia. Acho que, depois de um tempo, ele percebeu que eu não tinha nem a beleza e nem a classe de um Lombardi, então ele parou de tentar me fazer usar as belas roupas de grife que ele trazia. Tudo ficou ainda mais claro quando um rapaz, Fred Helton, descobriu a que família eu pertencia. As coisas tomaram um rumo amargo e quase trágico. -Com licença? - a voz rouca e baixa soou me arrancando de minhas memórias. - Ah.. - me afastei assustada com a presença ao meu lado. - Desculpa. - apertei minha bolsa, pulei da banqueta e sai apressada para fora do Clends. - O quê!? Ei! Eu conseguia ouvir a voz bem atrás de mim, mas me forcei a andar ainda mais rápido. Provavelmente era algum rapaz querendo saber se a Cristina ainda estava casada com o Matheus, ou pior, um daqueles caras irritantes que costumam perguntar o motivo para uma garota tão… tão feiosa estar em um lugar como aquele. Só que eu não queria estar ali. Eu sabia quem eu era e como eu era, as pessoas agiam ao meu redor como se eu não tivesse dinheiro para comprar um espelho. -Por favor..- A voz acompanhou o toque quente e firme em meu braço, eu congelei. -Não me machuque.. - mordi meu lábio inferior. Só agora eu havia me dado conta de o quão longe tinha chegado em minha ânsia de fugir. Estávamos a, pelo menos, cinquenta metros da entrada do bar. Longe o suficiente para escapar da visão direta dos que aguardavam na entrada e muito além da visão da segurança. - O quê? - a mão dele não soltou o meu braço. -Machucar? Eu não vou machucar você. Só queria conversar um pouco. - a mão dele deslizou pelo meu pulso até alcançar meus dedos. - Não precisa ter medo. Pode olhar pra mim, senhorita Liz? Por favor. - os dedos dele acariciaram os meus. - Ah.. Eu.. Eu..Como sabe meu nome? - viro-me um pouco menos assustada. - Ah.. - suspiro de forma menos digna do que eu gostaria. - Se-se-senhor Sebastian. - ele pisca de um jeito engraçado. Ele era de longe um dos homens mais charmosos que eu "conhecia "; seus cabelos eram de um tom claro de castanho com mechas grisalhas que pareciam ser feitas em um salão de beleza, os olhos verdes realçavam o sorriso sacana que ele sempre tinha no rosto de barba por fazer. E não vou mencionar o quanto seu terno ficava bem alinhado em seu corpo, porque isso não seria elegante. - Oras, a senhorita também me conhece? Não tínhamos um contato direto, e, mesmo trabalhando na mesma empresa, nunca trocamos uma só palavra, mas todos os seus projetos passavam pelo departamento de finanças e seria impossível revisar todo processo sem saber quem era a mente por trás do trabalho. - E claro. O senhor é o gerente de marketing esportivo da Lombardi. - sorrio. Eu me sentia segura perto de um homem como ele. Ele era charmoso demais e rico o suficiente para buscar qualquer tipo de vantagem em cima de mim. - Quer falar sobre o imposto de renda? - Ah? - A declaração de imposto de renda. O senhor me contratou para gerenciar suas contas. - Isso..Eu.. - ele me fitava de uma forma desconfiada. - O senhor Steve indicou o meu trabalho. .. - uma risada engraçada escapa sem que eu consiga impedir. - AR Contábil. - afasto minha mão da dele apenas para voltar a estendê-la em uma saudação cortês. - Satisfação. - aperto a mão dele.- Eliza Aurora Rodríguez. Meus amigos me chamam de Liz. - Ah.. Isso. - ele me encara. - Eu falei com a sua secretária, Érica. Pedi que enviasse alguns comprovantes para juntar ao lançamento das contas. - Eu.. - ele cruza os braços. - Ela não me deu nenhum recado. - Oh.. Eu disse que era urgente.- bato as botinhas no chão, ele me encara. - As suas contas caíram em exigência por causa daquele problema com seu antigo contador. Eu avisei ao senhor. - A mim? - ele parece assustado. - Sim.. - me aproximo. Puxo meu celular e busco o email, ou melhor, os 10 email que enviei nos últimos seis dias, desde o dia que assumiu a conta dele. - O senhor vê? - a ponto para ele. - Eu não vi..- ele sacode a cabeça. - Eu estive completamente envolvido na nova campanha.. É um projeto muito importante para mim. - ele leva as mãos aos cabelos grisalhos. - Eu sei.. - Sabe? - Sim. Eu fiz o orçamento com base nos storyboards que o senhor e a senhorita Milla apresentaram ao senhor Victor. Fez um excelente trabalho, se me permite dizer. - falo com sinceridade. - Obrigado. - Gostei particularmente das aquarelas usadas no esboço. O senhor contratou um artista para fazer? - Eu fiz. - Sério.. Aahh..- levo as mãos ao rosto em espanto. - Ficou tão bonito. - Você achou? - um sorriso jovial se desenhou em sua face. - Sim.. - dou alguns pulinhos de animação. - É como um conto de fadas.. - Obrigado. - Então, ah.. O senhor quer me passar os dados para resolver a declaração de imposto? - sorrio. - Acho …é. Claro. - ele se aproxima. - Ótimo. - eu dou um passo para traz. - Espero os documentos amanhã. Pode enviar para minha sala na Lombardi, o senhor Soares me autorizou a receber clientes que sejam funcionários da empresa. - faço sinal para um táxi que acaba de deixar um passageiro na porta do bar. - Até amanhã. - Mas.. - ele acompanha meus passos até o táxi que acaba de parar. - Ah.. - Boa noite, senhor Sebastian. - entro no carro. - Brooklyn. - indico ao taxista e o carro sai.
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