Angeline Müller (Angel)
A semana passou voando. Nem acredito que já é final de semana. As aulas na faculdade estão indo bem — e, surpreendentemente, eu e Luana estamos cada vez mais próximas. Acredito que até posso chamá-la de amiga. Ela é engraçada, alto astral, daquele tipo que ilumina qualquer lugar com uma piada i****a e um sorriso sincero. Hoje vamos ao shopping. Não que eu conheça muitos lugares por aqui, mas sair com ela vai ser bom.
Ainda estou deitada, enrolada no cobertor como se o mundo lá fora não existisse. Pego o celular e tento ligar para a minha mãe. Chama algumas vezes, mas cai na caixa postal. Provavelmente ainda está dormindo ou ocupada com o Thalles. Me viro na cama... e volto a dormir sem culpa.
Acordo com o sol já invadindo o quarto e um susto me faz olhar o relógio.
Quase dez da manhã.
A notificação do w******p brilha na tela. É da Luana.
Luana:
Ei, Angel! Esqueceu da nossa voltinha no shopping?
Se topar, me manda teu endereço que passo aí.
Beijos 😘
Droga. Tinha esquecido completamente.
Eu:
Oi, Lu!
Claro que não esqueci. Nosso passeio está de pé!
Beijos 💕
Tiro print do meu endereço no GPS e envio pra ela. Depois vou direto fazer minha higiene e preparar um café reforçado — do jeito que a Luana fala, essa ida ao shopping vai parecer uma maratona.
Já é quase duas da tarde quando volto pro quarto e começo a escolher o que vestir. Opto por um vestido confortável e fresco, tênis branco nos pés e um r**o de cavalo bem alto. Simples, mas arrumadinha. Do jeitinho que gosto.
Pego o celular e aviso que já estou pronta. A resposta vem em segundos:
Luana:
Tô chegando, gata! 🔥
Enquanto espero, decido tentar falar com o Igor. A saudade dele aperta às vezes, e o silêncio entre nós tem machucado mais do que eu esperava. Ligo.
Ligação on
— Angel?
— Igor... oi. Tudo bem?
— Que surpresa boa. Não esperava sua ligação.
— Estava com saudade. Espero não estar te atrapalhando...
— Você nunca atrapalha, linda. Eu... também tô com saudade. De ouvir tua voz, de te beijar.
— Eu também. Tô contando os dias pra te ver.
— Eu tô louco pra isso acontecer. Me desculpa de novo por tudo...
— Tá tudo bem, Igor. A gente tá lidando do jeito que dá.
— Eu sei. Mas às vezes fico com medo... de te perder pra essa cidade.
— Não precisa. Eu continuo sendo sua.
— Isso me acalma.
— Depois a gente se fala, tá? Tô saindo agora.
— Tá bom, linda. Te amo.
— Também te amo.
Ligação off
Mal desligo, escuto a buzina lá fora. Pego minha bolsinha e saio.
— Oi, Angel! — Luana grita da janela, com um sorriso enorme.
— Oi! Pronta pra gastar o que não temos?
— Sempre.
No caminho até o shopping, falamos sobre tudo e nada. É fácil rir com a Luana. E ela é direta — muito direta.
— Angel, posso te perguntar uma coisa?
— Claro.
— Você tem namorado?
— Tenho. E você?
— Sim. O Tom. Gato, ciumento e meio pancada, mas eu gosto dele.
— Faz muito tempo que vocês estão juntos?
— Vai fazer um ano, acho. E você e o Igor?
— A gente se conhece desde criança. As famílias são amigas. Crescemos juntos... e quando viramos adolescentes, ele me pediu em namoro.
— Awnn, amor de infância. Que fofo. E agora estão tentando o namoro à distância?
— Exatamente.
— Isso exige coragem, viu?
— É... exige.
— Chegamos! — ela anuncia, já procurando vaga pra estacionar.
Entramos no shopping e ela já está com os olhos brilhando.
— Pra onde vamos primeiro? — pergunto.
— Loja de lingerie, claro! Quero surpreender o Tom hoje à noite.
— Lingerie?
— Isso mesmo. E você devia escolher uma também. Pro Igor.
— Luana, não precisa...
— Angel... não me diga que você e o Igor ainda não... né?
— Shhh... fala baixo!
Ela arregala os olhos, surpresa.
— Sério?
— A gente prometeu esperar o casamento.
— Gente! Achei que isso só existia nos livros!
— Pode rir. Mas foi uma escolha nossa.
— Tudo bem, mas você vai aceitar esse presente. — ela diz, me entregando uma peça vermelha e rendada. — Guarda. Um dia você vai me agradecer.
Dou risada e aceito, com o rosto queimando.
Passamos a tarde toda andando, conversando, experimentando roupas, comendo besteira e rindo como se fôssemos velhas amigas. Quando voltamos pra casa, estou morta.
Segunda-feira
Mais uma semana começa. Me arrasto até o banheiro e tomo um banho gelado pra acordar de verdade. Me visto com uma calça jeans, blusa básica e tênis. Prendo o cabelo num coque improvisado e pego minhas coisas.
Chegando na universidade, dou de cara com a Luana.
— Angel! — ela me chama, empolgada como sempre. — Vem cá, deixa eu te apresentar o Tom.
— Prazer, Tom. — digo, estendendo a mão.
— O prazer é meu, Angeline. — ele responde com um sorriso educado.
— Já volto, gente. Preciso ir ali rapidinho.
— Vai lá! A gente se vê na sala. — diz Luana.
De volta à sala de aula, me sento no meu lugar de sempre. Estou distraída quando escuto a voz da Luana.
— Miga! Adivinha quem tá de volta?
— Quem?
— O professor Henry. O Fontinelle. O gostoso.
— E isso é motivo pra felicidade?
— Claro! Pena que sou comprometida, senão…
E como se fosse ensaiado, a porta se abre.
Ele entra.
O homem dos esbarrões. O olhar intenso. O sorriso contido. O mesmo que mexe com meu juízo cada vez que aparece.
Ele se apresenta, fala dos seus currículos, e por fim diz que quer conhecer a turma.
Um a um, os alunos vão dizendo seus nomes. Até que ele olha diretamente pra mim.
— E a senhorita? Como se chama?
Engulo em seco.
— A-Angeline Müller.
— Certo, senhorita Müller. — ele diz com um leve sorriso.
Nosso olhar se cruza. E eu sou a primeira a desviar.
— E aí, Angel? Ainda acha que ele não é lindo? — cochicha Luana ao meu lado.
— Nem reparei... — minto, enquanto minhas bochechas queimam.
A aula segue, e mesmo com as meninas suspirando, tentando chamar atenção e jogando cantadas discretas, o professor apenas sorri de canto e balança a cabeça. Frio. Profissional. Intocável.
Mas, em certos momentos, tenho a impressão de que ele olha pra mim… como se visse algo que ninguém mais vê.
E isso me deixa perigosamente sem ar.