Primeiro dia.. cap 01
Angeline Müller (Angel)
Ainda parece um sonho. Amanhã é o meu primeiro dia na Universidade de Chicago. Nunca imaginei que realmente sairia da minha cidadezinha, deixando para trás minha mãe e o Thalles, meu irmãozinho. Mas por eles, por tudo o que sempre desejei... aqui estou.
Termino de ajeitar o pequeno apartamento que a tia Fátima me cedeu. Ela morava aqui em Chicago, mas se casou e foi morar com o marido. O AP ficou fechado por um tempo, mas agora é meu. É simples, mas aconchegante — perfeito pra mim.
Me jogo no sofá, pego o celular e, como sempre, ligo para o meu porto seguro: minha mãe.
Ligação on
— Mãe?
— Oi, minha querida! Está tudo bem?
— Sim... e o Thalles?
— No quarto, fazendo o dever de casa.
— Mãe, o AP da tia Fátima é lindo.
— Que bom que gostou, filha. Sua tia não quis o dinheiro do aluguel, então eu vou te mandar mesmo assim.
— Não, mãe. Guarda esse dinheiro. Vocês podem precisar.
— Não, meu amor. Você é quem vai precisar. Cidade nova, tudo novo.
— Eu vou procurar um emprego, vai dar tudo certo.
— Mas você m*l conhece a cidade...
— Eu sei. Mas preciso me virar. Preciso fazer isso dar certo.
— Tá bom, minha querida...
— Agora vou desligar, vou tomar um banho e preparar algo pra comer. Dá um beijo no Thalles por mim.
— Tá certo. Cuida de você. E não esquece de comer direito. Nossa casa não é a mesma sem você.
— Também te amo, mãe. Muito.
— Te amo, minha princesa.
Ligação off
Desligo e sinto um aperto no peito. É a primeira vez que durmo longe deles. Respiro fundo e vou direto para o banho.
Depois do banho, visto um vestido confortável e vou pra cozinha preparar o jantar. Sorte que a tia Fátima deixou a despensa cheia — ela pensou em tudo.
O despertador toca. Meu primeiro dia.
Levanto sonolenta, vou direto ao banheiro, faço minha higiene e escolho minha roupa: blusa preta, calça preta, jaqueta jeans e tênis. Simples e discreta, do jeito que gosto. Penteio o cabelo, organizo minha mochila com os materiais e saio sem tomar café — deixo para comer algo na faculdade.
Tranco bem o apartamento, confiro a maçaneta três vezes (mania minha), e sigo até o ponto de ônibus, que fica a algumas quadras dali. O trajeto leva uns dez minutos, e quando o ônibus chega, sento logo no fundo. Nunca fui muito sociável.
(***)
Paro diante do enorme prédio da universidade. Parece cena de filme. Gente estilosa por todos os lados — mais parece um desfile do que um campus. Respiro fundo e tento não me sentir um peixe fora d'água.
Preciso entregar uns documentos na diretoria antes de ir para a sala. Começo a procurar a tal sala da coordenação, tentando decifrar as placas no corredor, quando esbarro em alguém com força, derrubando meus papéis no chão.
— Desculpa, eu não te vi — diz uma voz grave e rouca.
Me abaixo automaticamente, mas quando levanto os olhos... congelo.
Um homem alto, com barba por fazer e cabelos impecavelmente penteados, já está juntando meus papéis. Corpo definido, postura confiante, e um olhar tão intenso que me faz esquecer até meu nome.
— Garota... ei, garota, aqui. — Ele me estende os papéis com um meio sorriso.
— Ah... sim... de-desculpa. Obrigada. — Gaguejo feito uma boba.
— Tá tudo bem?
— Sim, só... só distraída.
— Precisa de ajuda?
— Ajuda?
— Sim, quer saber onde fica alguma sala?
Dou uma risada nervosa e aceno com a cabeça.
— Estou procurando a sala do diretor.
— Ah, é ali na frente. Reto e depois a esquerda. — Ele responde sem tirar os olhos dos meus. E isso me faz sentir meu rosto pegar fogo.
— Obrigada. — Falo rápido, quase correndo dali.
Só quando me afasto, percebo que estava prendendo a respiração. Solto o ar com força. Caramba... quem era aquele homem?
Já diante da porta da diretoria, respiro fundo e bato. Uma voz responde:
— Pode entrar.
Entro e sou recebida por um senhor de terno sóbrio, expressão gentil.
— Bom dia.
— Bom dia! Em que posso ajudar?
— Sou a Angeline Müller. Vim entregar os documentos pendentes.
— Claro, senhorita Müller. Pode se sentar.
Obedeço e espero enquanto ele confere os papéis.
— Está tudo certo, senhor?
— Tompson. Meu nome é Geraldo Tompson. Está tudo certo, sim. Seja bem-vinda à Universidade de Chicago.
— Muito obrigada, senhor Tompson.
— Aqui estão os seus horários de aula.
Pego a folha com meus horários e saio da sala. Minha primeira aula é com o professor Fontinelle. Hora de descobrir onde tudo isso vai me levar.
Mas uma coisa é certa: aquele olhar no corredor... vai ser difícil esquecer.