Primeiro dia.. cap 01

810 Words
Angeline Müller (Angel) Ainda parece um sonho. Amanhã é o meu primeiro dia na Universidade de Chicago. Nunca imaginei que realmente sairia da minha cidadezinha, deixando para trás minha mãe e o Thalles, meu irmãozinho. Mas por eles, por tudo o que sempre desejei... aqui estou. Termino de ajeitar o pequeno apartamento que a tia Fátima me cedeu. Ela morava aqui em Chicago, mas se casou e foi morar com o marido. O AP ficou fechado por um tempo, mas agora é meu. É simples, mas aconchegante — perfeito pra mim. Me jogo no sofá, pego o celular e, como sempre, ligo para o meu porto seguro: minha mãe. Ligação on — Mãe? — Oi, minha querida! Está tudo bem? — Sim... e o Thalles? — No quarto, fazendo o dever de casa. — Mãe, o AP da tia Fátima é lindo. — Que bom que gostou, filha. Sua tia não quis o dinheiro do aluguel, então eu vou te mandar mesmo assim. — Não, mãe. Guarda esse dinheiro. Vocês podem precisar. — Não, meu amor. Você é quem vai precisar. Cidade nova, tudo novo. — Eu vou procurar um emprego, vai dar tudo certo. — Mas você m*l conhece a cidade... — Eu sei. Mas preciso me virar. Preciso fazer isso dar certo. — Tá bom, minha querida... — Agora vou desligar, vou tomar um banho e preparar algo pra comer. Dá um beijo no Thalles por mim. — Tá certo. Cuida de você. E não esquece de comer direito. Nossa casa não é a mesma sem você. — Também te amo, mãe. Muito. — Te amo, minha princesa. Ligação off Desligo e sinto um aperto no peito. É a primeira vez que durmo longe deles. Respiro fundo e vou direto para o banho. Depois do banho, visto um vestido confortável e vou pra cozinha preparar o jantar. Sorte que a tia Fátima deixou a despensa cheia — ela pensou em tudo. O despertador toca. Meu primeiro dia. Levanto sonolenta, vou direto ao banheiro, faço minha higiene e escolho minha roupa: blusa preta, calça preta, jaqueta jeans e tênis. Simples e discreta, do jeito que gosto. Penteio o cabelo, organizo minha mochila com os materiais e saio sem tomar café — deixo para comer algo na faculdade. Tranco bem o apartamento, confiro a maçaneta três vezes (mania minha), e sigo até o ponto de ônibus, que fica a algumas quadras dali. O trajeto leva uns dez minutos, e quando o ônibus chega, sento logo no fundo. Nunca fui muito sociável. (***) Paro diante do enorme prédio da universidade. Parece cena de filme. Gente estilosa por todos os lados — mais parece um desfile do que um campus. Respiro fundo e tento não me sentir um peixe fora d'água. Preciso entregar uns documentos na diretoria antes de ir para a sala. Começo a procurar a tal sala da coordenação, tentando decifrar as placas no corredor, quando esbarro em alguém com força, derrubando meus papéis no chão. — Desculpa, eu não te vi — diz uma voz grave e rouca. Me abaixo automaticamente, mas quando levanto os olhos... congelo. Um homem alto, com barba por fazer e cabelos impecavelmente penteados, já está juntando meus papéis. Corpo definido, postura confiante, e um olhar tão intenso que me faz esquecer até meu nome. — Garota... ei, garota, aqui. — Ele me estende os papéis com um meio sorriso. — Ah... sim... de-desculpa. Obrigada. — Gaguejo feito uma boba. — Tá tudo bem? — Sim, só... só distraída. — Precisa de ajuda? — Ajuda? — Sim, quer saber onde fica alguma sala? Dou uma risada nervosa e aceno com a cabeça. — Estou procurando a sala do diretor. — Ah, é ali na frente. Reto e depois a esquerda. — Ele responde sem tirar os olhos dos meus. E isso me faz sentir meu rosto pegar fogo. — Obrigada. — Falo rápido, quase correndo dali. Só quando me afasto, percebo que estava prendendo a respiração. Solto o ar com força. Caramba... quem era aquele homem? Já diante da porta da diretoria, respiro fundo e bato. Uma voz responde: — Pode entrar. Entro e sou recebida por um senhor de terno sóbrio, expressão gentil. — Bom dia. — Bom dia! Em que posso ajudar? — Sou a Angeline Müller. Vim entregar os documentos pendentes. — Claro, senhorita Müller. Pode se sentar. Obedeço e espero enquanto ele confere os papéis. — Está tudo certo, senhor? — Tompson. Meu nome é Geraldo Tompson. Está tudo certo, sim. Seja bem-vinda à Universidade de Chicago. — Muito obrigada, senhor Tompson. — Aqui estão os seus horários de aula. Pego a folha com meus horários e saio da sala. Minha primeira aula é com o professor Fontinelle. Hora de descobrir onde tudo isso vai me levar. Mas uma coisa é certa: aquele olhar no corredor... vai ser difícil esquecer.
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