Todos os dias, por algumas horas, eu troco um mundo pelo outro. Saio do ar gelado e estéril do hospital, do cheiro de antisséptico e da visão do meu filho pálido na cama, e entro no calor opressivo do morro. O cheiro de lixo, fritura e pólvora toma conta. Os olhares são os mesmos: de medo, de respeito, de cálculo. Mas aqui, pelo menos, eu entendo as regras do jogo. Meu carro sobe a rua principal, e a notícia da minha chegada se espalha mais rápido que o 4G. Homens se endireitam, conversas baixam de tom. Eu sou o Dono. O “queimado”. O homem que transformou um amontoado de casebres e miséria em um império de tijolo e arame farpado. É estranho. Aqui, eu tenho controle. Um aceno de mão pode iniciar uma guerra ou garantir paz. Uma palavra pode significar vida ou morte. Mas no quarto 402 do S

