Alguns dias se passaram desde aquela noite. Desde que Murilo me olhou nos olhos e eu disse as três palavras que mudaram tudo. E desde que ele, sem dizer uma só palavra em resposta, me mostrou com seu corpo, com sua entrega, com a vulneragem crua em seus olhos, que sentia o mesmo. Agora, pela manhã, a rotina ganhou um novo significado. João está sentado à mesa da cozinha, vestindo o uniforme escolar, camisa branca impecável e calça azul-marinho que Murilo insistiu em comprar, mesmo eu dizendo que ele ia crescer e sair dela em alguns meses. Ele está com a língua para fora de concentração, tentando amarrar os cadarços. — Deixa eu ajudar, João — ofereço, me abaixando perto dele. — O tio Murilo disse que tenho que aprender sozinho. — Ele balança a cabeça com determinação. O tio Murilo diss

