Acordei com um cheiro que parecia abraço. Café passado na hora, pão assando, alguma coisa fritando na manteiga, aquele tipo de aroma que te puxa da cama antes mesmo de abrir os olhos. Por um instante, esqueci onde estava. Por um segundo, achei que tinha voltado pra casa da minha mãe, nos dias em que a vida ainda era simples. Mas bastou encarar o teto alto, as paredes frias e o silêncio pesado da casa pra lembrar. Suspirei fundo, me espreguicei devagar e prendi o cabelo num coque. O som das panelas vinha da cozinha. Quando virei o corredor, o calor e o cheiro me acertaram de vez, e junto com eles, a imagem de Dona Lurdes, de avental florido, mexendo numa frigideira enquanto cantarolava um samba antigo. — Ué... acordou, princesa? — disse, sorrindo por cima do ombro, como se eu fosse neta

