De todas as pessoas mais influentes de El Paso, e dentre as mais poderosas, estava Victoriano Santos. Talvez fosse o fazendeiro mais rico de toda a região. Uma fortuna que adquiriu graças a muito trabalho e muito brío.
Um homem forte e de igual temperamento. Tinha três filhas, Diana de 15, Catarina de 10 e a pequena Ana de 8. Eram as meninas de seus olhos. Mas não se iludam, a educação das meninas era firme. Ele era justo e amoroso com elas, mas também as castigava quando mereciam. Afinal, quando se é viúvo cuidando de três meninas, ou se tem pulso ou elas fazem o que querem.
Victoriano tornou-se um homem um pouco duro depois que sua esposa faleceu. Ele a amava muito. Algumas pessoas que conhecem Victoriano há mais tempo dizem que ele era um homem que sorria mais quando sua Luíza era viva. Mas depois que ela morrera, Victoriano se fechou para o mundo. Bem... Nem totalmente. Hoje ele engata um relacionamento, praticamente um noivado com Carlota Valdez. Uma mulher da qual suas filhas detestam.
Victoriano simplesmente adora tudo que tem a ver com cavalos, por isso, desde que Diana era pequena a treina na modalidade de hiquitação.
- Vamos Diana!... - dizia Victoriano enquanto sua filha cumpria mais uma rotina de treinamento. - Arrume essa postura!... Muito bem, filha!... Só mais uma volta e terminamos por hoje!
- Não sei como é que a "Dianita" não fica cansada!... Principalmente depois da chuva que caiu. Ainda bem que temos esse lugar coberto, né pai? - disse Catarina.
- Sim, filha. E sua irmã não está cansada porque já está acostumada, Catarina. - disse Victoriano. - E você o que faz aqui? Não devia estar fazendo seu dever de casa?
- Já fiz. - disse ela com um sorriso maroto.
- E já ajudou a Ana com os dela? - ele pergunta.
- Claro, papai!
- Ajudou nada, essa mentirosa! - disse a pequena Ana se aproximando. - Se não fosse a Nana eu nunca teria terminado as minhas tarefas, papai!
- Cala a boca, pirralha! - disse Catarina.
- Você vai ver quem é a pirralha, sua chata! - disse Ana voando em cima de Catarina.
- Opa!... Vamos parar com isso!... Catarina!... Ana! - exclamava Victoriano. - Diana! O treino acabou por hoje!... Preciso de ajuda aqui! - dizia ele tentando separar as duas.
- Ei! vem aqui pequena! - disse Diana segurando sua irmã caçula.
- Foi ela que começou "Dianita"! Me chamou de pirralha! - disse Ana.
- Porque você é uma pirralha dedo-duro! É isso que você é! - disse Catarina.
- Já chega! As duas! - exclamou Victoriano. - Catarina, você vai ficar de castigo por duas semanas.
- Ah, pai! Por quê?!
- O que foi que eu disse sobre mentiras?
- Mas foi só uma mentirinha! - disse Catarina.
- Grande ou pequena, não interessa! Não quero mentiras nessa família! - ele se altera.
- Calma, pai. São crianças. - ponderou Diana.
Victoriano respira fundo.
- Você entendeu, Catarina? - ele pergunta.
- Sim, senhor. ... Mas não acha que duas semanas é muito tempo? - pergunta Catarina.
- Não força, Catarina! - disse Diana.
- Não Diana, ela está certa. - disse Victoriano. - Eu não terminei de explicar. O outro motivo foi por ter ofendido sua irmã chamando-a de pirralha. Dois motivos, duas semanas. Agora ficou claro?
- Sim, senhor! - disse Catarina bufando.
- Bem feito! - disse Ana.
- A senhorita também está de castigo, Ana. - disse Emiliano.
- Mas por que, papai?!
- Por querer bater na sua irmã. Já disse que nada justifica o uso da violência, não foi?
- Sim, senhor. - disse a pequena de cabeça baixa.
- Uma semana. - disse Emiliano.
Ana olha para a irmã Diana com aquela carinha...
- Nem adianta fazer essa carinha parecendo o gato daquele filme que assistimos outro dia, que não vai colar! O papai já falou! - disse Diana.
- Vamos. - disse Victoriano. - Consuelo já deve ter aprontado o jantar. E eu quero as três bem limpas e arrumadas, pois teremos uma convidada hoje!
- Aposto que é aquela bruxa da Carlota. - sussurou Catarina no ouvido de Ana.
- Disse alguma coisa, Catarina? - perguntou Victoriano.
- Não, senhor! - disse a menina de um susto.
- Não piore ainda mais sua situação, Catarina. - sussurrou Diana.
- Ora, eu não menti sobre isso. Menti, Ana?
A pequena balança a cabeça concordando com a irmã.
***
Hora do jantar.
Diana ajudou suas irmãs a se arrumarem, e as três desceram para a sala.
- Olha só pra elas, Consuelo! - disse Victoriano todo orgulhoso. - São as minhas três princesas! Não são lindas?!
- São as mais lindas, senhor. - disse a criada.
- Vamos comer logo, papai! Tô com fome! - disse Catarina.
- Cadê a sua educação, Catarina?... Vamos esperar a nossa convidada chegar.
O que, é claro, não demora a acontecer. Entrando pela porta, surge Carlota Valdez, a namorada, quase noiva de Victoriano Santos.
Diana a tolerava por respeito ao seu pai, Catarina não a suportava por respeito a memória de sua mãe, e Ana, simplesmente, tinha um certo receio de Carlota. Talvez pelo fato de Catarina a chamar tanto de bruxa que a pequena começava a ter medo da mulher.
- Boa noite! - disse Carlota.
- Boa noite, querida. - disse Victoriano a cumprimentando com um selinho.
- Boa noite, meninas. - ela cumprimenta as filhas de Victoriano.
- Boa noite, senhorita. - responde Diana, um pouco séria.
- Boa noite. - disse Catarina com cara de poucos amigos.
Ana não respondeu. Ao contrário, segurava a mão de Diana o mais forte que podia.
- Seja educada, filha. - disse Victoriano. - Responde pra Carlota.
- Bo... Boa noite. - disse a pequena com uma voz quase imperceptível.
- Bom, Carlota, só estávamos esperando você! - disse Victoriano dando o braço para que ela o acompanhasse até a mesa. - Vamos?
- Claro, meu amor!
***
Durante o jantar Carlota e Victoriano conversavam.
- Soube da última na cidade, meu amor? - pergunta Carlota.
- Sabe que não tenho tempo, e nem dou atenção à fofocas, Carlota. - disse Victoriano.
- Não é fofoca, Victoriano. É verdade. Parece que o Dr. Contreras não vai ser mais o médico veterinário de El Paso.
- Como não vai mais?! E pra onde ele vai?!
- Vai sair de licença. - responde Carlota.
- Licença?! Mas ele não pode sair de licença!... E os meus cavalos? Quem vai acompanhar?!... Faltam poucas semanas para a competição de Diana!
- Calma, papai. - disse Diana. - Tenho certeza que outro médico deve estar à caminho. Vai dar tudo certo.
- A questão não é essa, filha. Eu confiava no julgamento do Dr. Contreras. Ele nos acompanha há anos. ... E quem é esse novo veterinário? - pergunta Victoriano.
- Não sei, meu querido. Ninguém conhece ainda. - disse Carlota.
Mal sabia Victoriano que ele, de certa forma, já conhecia o novo veterinário, ou melhor, veterinária.