Joel O parlatório não é sala, é fronteira. Cheiro de desinfetante, luz fria, vidro que corta mais do que protege. Vim conduzido por dois agentes, sem algema, mas com a coleira invisível de quem sabe que um passo errado vira relatório. Respirei contando até oito — o número do meu corredor — e tentei deixar do lado de fora tudo que não fosse ela. Quando Beatriz entrou, o mundo fez barulho de coração. Não teve trilha, não teve frase bonita: foi só a presença. Cabelo preso, roupa simples, os olhos grandes de sempre, esses que olham por dentro como se tivessem chave das minhas grades. Peguei o telefone e senti a mão tremer, coisa rara. Não tremo por polícia, por blindado, por sentença. Tremo por ela. — Oi — falei, e minha voz saiu com a metade do peso que carrego aqui. — Oi, Joel — ela resp

