Joel Carta tem cheiro. Mesmo no presídio, mesmo lavada de sabão r**m, vem um sopro de rua, de mão que escreve, de cozinha com manjericão, de suor que não é este. Hoje, não veio. O faxina passou com o carrinho chiando, largou duas correspondências no 25, uma no 29, nada no 27. O ar ficou do tamanho de um selo. Eu fiz que não notei. Por dentro, tudo gritou. — Nada pra mim? — perguntei seco, protocolo. — Hoje, não — ele respondeu, sem me encarar. — Disseram que tinha uma, mas “desviou”. Desviou. Palavra torta. Carta não “desvia” sozinha. Carta some na mão de alguém. A de Beatriz é fogo: se cai no lugar errado, queima quem segura e quem mandou. Encostei a testa no concreto e contei até oito, do jeito que aprendi quando o ferro quer morder pensamento. O corpo pediu explosão; dei gelo. Se e

