Joel
Traição tem cheiro. Não é só o medo azedo na boca; é um perfume errado que entra pela janela com o vento. Acordei com esse cheiro.
Desde ontem eu vinha espalhando migalhas diferentes para cada um dos meus. Senhas trocadas, horários falsos, rota de entrega inventada. Canary trap, como dizem os homens do asfalto. Se a polícia aparecesse num ponto específico, eu saberia exatamente por qual boca a informação escorreu.
— Central, confirma? — Rato chiou no rádio. — Viatura parada na quebrada do Cemitério.
Meu estômago virou pedra. Aquele ponto só existia na conversa com Bacana.
Desci a escada com a pressa de quem reconhece um fantasma. O morro respirava curto. Lá embaixo, a feira vazia, fruta amassada no chão, um cachorro magro roendo nada. O sol ainda não tinha coragem de nascer intei
