Joel Cadeia tem duas vozes: a que o ferro faz quando fecha e a que corre por baixo da porta, fina e venenosa. Hoje foi a segunda que me acordou: sussurro de corredor, olho que não me encara, recado que vem sem dono. O Don quer furar filtro usando a tua mulher. Palavra atravessou a cela como faca. Beatriz virou alavanca. Entrei em modo gelo. O corpo queria parede; dei parede. O pensamento queria gritar; calou. Quem manda na minha mão sou eu — ou eu caio no jogo que escreveram pra mim. Na contagem, o agente repetiu números como quem reza sem fé. Eu contei, por dentro, o que vale: oito passos até a sombra do holofote, oito de volta. No pátio, céu de dois dedos. Coruja veio arrastando chinelo, sorriso de quem gosta de assistir incêndio. — E aí, morro? — ele ajeitou o boné. — Vai aceitar or

