Joel
A cadeia tem um som que não existe em lugar nenhum do morro. É o metal conversando com o metal: chave no tambor, ferrolho batendo seco, grade tossindo quando o mundo empurra. Contagem cedo, banho de sol curto, luz fria que não esquenta. Eu decorei o corredor em oito passos: da minha porta até o ponto onde a sombra do holofote morre. Oito pra ir, oito pra voltar. Se eu ando mais, o agente olha torto; se eu ando menos, o pensamento morde.
Meu nome aqui virou número. Mesmo assim, por dentro, eu escuto “Joel” quando ela me chama sem boca. Beatriz. O jeito que ela falou “eu vou” do lado de fora da viatura ainda bate em mim como tambor triste. Sou homem de ferro, mas tem parte de mim que é tecido: qualquer lembrança boa puxa fio.
A cela é retângulo e cama de cimento. Colchão fino, cobert
