Os dias seguintes passaram como bordados lentos, cada um com um ponto novo na tapeçaria invisível que ligava Madison e Aradita. Não havia urgência entre elas, apenas um movimento quase ritualístico, onde cada visita, cada gesto, era uma aproximação.
Madison começou a aparecer com mais frequência na casa da tecelã. Trazia ervas recém-colhidas, tintas naturais, pedaços de madeira entalhada e histórias. Aradita, por sua vez, bordava com os olhos atentos, às vezes para os tecidos, às vezes para Madison. Seus dedos costuravam símbolos que antes não ousaria usar: espirais da terra, olhos duplos, luas entrelaçadas.
— Esse é um talismã contra a loucura da fé cega — explicou ela, certa vez, ao mostrar um padrão em uma tapeçaria de cor violeta.
— E também contra o esquecimento — completou Madison. — Porque quem ama desafia o tempo e a punição.
Em uma tarde de chuva fina, quando as pedras do chão exalavam um cheiro de infância antiga, Aradita confessou:
— Quando vi você naquele bosque... senti como se minha pele lembrasse de outra vida.
Madison não respondeu de imediato. Apenas passou os dedos pelas mãos da tecelã, sentindo o calor dos calos, o mapa dos fios que contavam tanto. Depois, disse com voz baixa:
— Então talvez essa seja nossa segunda chance.