Capítulo IV – Entre Fios e Folhas

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Os dias seguintes passaram como bordados lentos, cada um com um ponto novo na tapeçaria invisível que ligava Madison e Aradita. Não havia urgência entre elas, apenas um movimento quase ritualístico, onde cada visita, cada gesto, era uma aproximação. Madison começou a aparecer com mais frequência na casa da tecelã. Trazia ervas recém-colhidas, tintas naturais, pedaços de madeira entalhada e histórias. Aradita, por sua vez, bordava com os olhos atentos, às vezes para os tecidos, às vezes para Madison. Seus dedos costuravam símbolos que antes não ousaria usar: espirais da terra, olhos duplos, luas entrelaçadas. — Esse é um talismã contra a loucura da fé cega — explicou ela, certa vez, ao mostrar um padrão em uma tapeçaria de cor violeta. — E também contra o esquecimento — completou Madison. — Porque quem ama desafia o tempo e a punição. Em uma tarde de chuva fina, quando as pedras do chão exalavam um cheiro de infância antiga, Aradita confessou: — Quando vi você naquele bosque... senti como se minha pele lembrasse de outra vida. Madison não respondeu de imediato. Apenas passou os dedos pelas mãos da tecelã, sentindo o calor dos calos, o mapa dos fios que contavam tanto. Depois, disse com voz baixa: — Então talvez essa seja nossa segunda chance.
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