Mentira não leva a nada

1631 Words
Charlote Bezerra caminhava nervosamente de um lado para o outro na sala do delegado, seus olhos vermelhos denunciando as lágrimas recentes que havia derramado. As marcas do desespero eram visíveis em seu belo rosto, como se cada expressão refletisse a angústia que a consumia. O fato era que seu pai tinha falecido na manhã daquele dia, às dez e trinta, no decadente hospital da Quinta Avenida. Ele já chegara lá sem vida, vítima de nove tiros no peito, não tendo a menor chance de sobreviver. Charlote sabia disso porque estava ao lado dele quando ele deu seu último suspiro. Enquanto segurava a mão do pai, ele apertava um pen-drive que valia a própria vida dele e, agora, podia ser a chave para proteger a vida da filha. Apesar da tragédia que acabara de acontecer, Charlote era conhecida por sua serenidade, sagacidade e inteligência. Nunca se envolvera em atividades ilícitas, e aquele era apenas seu primeiro ano na universidade. Naquele momento, ela confrontava a verdade de maneira implacável. Sempre acreditou que a mentira não levaria a lugar algum, que o crime não compensava e que as pessoas acabavam sofrendo por causa da maldade alheia. Agora, mais do que nunca, estava determinada a descobrir a extensão das revelações que seu pai lhe deixara, sabendo que essas verdades poderiam mudar sua vida de maneira irrevogável. Sua mãe sempre falou isso. A família havia diminuído novamente, em menos de cinco anos. Ela não conseguia entender como alguém podia suportar tanta dor, sofrer de maneira tão implacável. E bem, ela tinha apenas dezoito anos, era jovem e bonita, com um futuro inteiro pela frente. Sentiu a necessidade de se sentar quando o ar parecia escassear. Fechou os olhos e uma enxurrada de lembranças inundou sua mente. Era tudo o que o delegado tentava arrancar dela, e ela estava em choque, paralisada, incapaz de articular uma palavra. A atmosfera sufocante do lugar não contribuía em nada. Tudo o que ela queria era sair dali, queria que aquele homem parasse de proferir coisas horríveis sobre seu pai. Dez horas antes... O pai chegou em casa mais cedo do que o habitual, com roupas sujas e uma expressão de desespero. Charlote, ainda exausta de uma noite de estudos prolongados, ficou instantaneamente alarmada com sua aparência agitada. "Me escuta, Charlote," disse ele, com a voz trêmula. "Eu sei que errei, sei que isso vai acabar comigo, mas você tem que fazer o que eu peço, filha. Isso é muito importante." A perplexidade envolveu Charlote enquanto ela tentava compreender a gravidade da situação. "Onde o senhor se meteu, pai? O que está acontecendo?" Charles respirou fundo, seu nervosismo era palpável. "Eu disse que faria o meu melhor, que daria a vida por você, e vou cumprir essa promessa. Sua mãe um dia vai me perdoar, eu sei disso. Eu sei que errei, errei com você e com sua mãe." O pai estava tão ansioso, suas palavras carregadas de remorso. Era como se ele tivesse cavado sua própria cova, e agora dependia de Charlote para tomar uma decisão que mudaria suas vidas de maneira irrevogável. Era como se ele tivesse cavado a própria cova. " O que houve, pai?! " " Em hipótese alguma pode procurar ou falar isso pra polícia, você está me entendendo? Eles não podem saber, nunca, a polícia não é sua amiga, nunca vai ser. Um dia você vai usar isso e entregar pra pessoa certa. O dono de verdade. Ele vai proteger você." " Pai o senhor está me assustando assim, o que foi? O que você fez? Por que está falando assim da polícia?! " O homem pegou a mão da filha, uma jovem de apenas 18 anos, que estava se preparando pra começar a nova fase universitária dela. " Você vai pegar esse pen-drive e vai guardar, eu sei que posso confiar em você, não é? " Os olhos do homem estavam agitados, como se estivesse vendo a própria tragédia antes de acontecer. O Sr. Bezerra havia se envolvido em um esquema milionário de tráfico de drogas. Em uma emboscada, ele foi capturado, e agora se via refém de uma carga milionária de cocaína, escondida em algum lugar, cuja rota estava registrada em um pen-drive. Esse pen-drive representava a única garantia de que sua filha continuaria viva. Para ele, já não havia mais nada a ser feito. Seu destino estava selado, e sua única esperança residia no pen-drive que poderia assegurar a sobrevivência de sua filha. " O que tem aqui, pai?" "Eu preciso fazer uma coisa agora filha, você tem que prometer ficar bem e lutar pra se formar e ser feliz. Está ouvindo?!" "Papai?!" "Você entendeu, Charlote?!" O homem ficou ereto, na frente da filha, ergueu a mão e segurou o rosto dela. "Eu me envolvi com pessoas erradas, era eu que estava envolvido na máfia daqui e na distribuição de drogas. Eu era o cabeça, fui subindo e tentando ganhar meu lado, pra poder ser alguém e dar o que você merecia. Dar orgulho pra sua mãe e não ser mais aquele miserável de sempre." " Pai?! " Dava pra ver a cara de decepção da filha que tinha um lado correto demais e que acreditava que não precisava fazer coisa errada pra conquistar as coisas. O pai havia ensinado assim. Agora se via na maior contradição da sua vida. Agora admitia o maior erro da, no auge ainda pra dar tudo errado, não apenas pra ele. "Você vai pegar isso e guardar tão bem que nem Deus vá encontrar, se acontecer alguma coisa comigo quero que encontre Dominik, diga que é minha filha, ele vai te proteger, mas nunca entregue isso, tudo bem? Não sem antes ele proteger você. Tudo bem?" A menina, sem entender nada, com o coração na boca, com medo da confissão do pai, apenas balançou a cabeça em afirmativa. Seu coração quase parou dentro do peito. O barulho de batidas na porta apareceu e o homem olhou para ela. "A porta, eu preciso ir." "Não abra, pai. O que vai acontecer com você? " " É tarde demais filha, faça o que eu pedi e lembre-se, você é sua mãe são as coisas mais importantes que eu tive, tudo que fiz foi uma forma egoísta de fazê-las feliz. Eu arruinei tudo." O homem foi se afastando, pegou uma mochila sobre o sofá e se mexeu, quando abriu a porta, Charlote pensou em ir até ele e fazê-lo ficar. O barulho alto e seguido de estourou no seu ouvido fizeram ela se encolher, ela se jogou no chão e apenas se abaixou. Seu sangue correu e seu coração bateu, quando parou, ela sentiu o cheiro forte de pólvora e fumaça, ao erguer o olhar, viu seu pai no chão. A palidez tomou conta eo seu rosto e um desespero entrou nela, o sangue se misturou com um grito que ela deu e depois se rastejou até o pai, olhou os furos na camisa e viu o pai cuspir sangue com força. " Filha..." O engasgo veio e ele focou no rosto dela. "Eu..." Ela virou-se pra porta e viu quando um mustague verde acelerou da frente da sua casa e depois escutou sirenes. "Seja forte." "Para de falar, eles estão vindo, eu vou levar você pro hospital." Ela tirou o casaco que usava e começou a apertar, mas tinha tantos buracos, que ela se perguntou qual estava mais r**m. O sangue aumentou e ali ela soube que iria perder o pai. "Acabou, se proteja e peça ajuda pra ele." " Papai..." " Cuida..." Ele tossiu. "de você!" "Você vai ficar bem, somos uma família, você vai ficar bem e vai resolver isso." As lágrimas desceram. Dez horas depois.... Charlote puxou e soltou o ar pela boca com as lembranças. Se lenbrando de cada coisa que o pai havia falado, inclinando o olhar e olhando para o investigador e o delegado. Que ainda esperava uma única palavra dela. " Eu não tenho nada pra falar, eu quero ir pra casa e enterrar meu pai." A polícia que o pai havia falado agora tentava ver de quem era a droga na mochila que foi achada perto da cena do crime ou como alguém matou o homem na porta da casa dele. De uma forma tão dissimulada. Era um crime hediondo. Mas ninguém se preocupava com o homem que morreu e nem a jovem ali. "Sabe que você não tem culpa do homem que seu pai era, ele era um traficante, eles sabem o que acontecem quando entram nesse tipo de coisa." " O que?" Ela nem ergueu o olhar. "Acho que você sabia do seu pai." O policial era do tipo aquisitivo, o que atrapalhava. "Me diga a verdade menina. Você parece bonitinha demais pra ficar com a ficha suja ou ir parar em uma cela de delegacia." "Eu não sei de nada, eu só sei que meu pai morreu, que estão me mantendo aqui sem eu ter feito nada!" Ela deu um balançar de cabeça. "Eu preciso ir embora, por favor. Eu estou cansada." "Não pode ainda." Antes que ela pudesse rebater, a porta da sala se abriu e um homem alto de terno apareceu, barba bem feita, porte atlético um rosto quase moldado pra ser bonito e admirado. "Senhor detetive que eu não sei o nome, espero que não esteja oportunando mais uma jovem sem defesa das minhas." "Tem a audácia de aparecer aqui, Dominik?" Quando o homem falou o nome, Charlote ergueu rapidamente os olhos, assustada, o olhar dela viu de quem se tratava. Aquele era Dominik? O mesmo que seu pai havia falado? " Sim, eu vi buscar a jovem. Ela está comigo, não é Charlote?" Quando seus olhos se encontraram com o olhar verde. Ela sentiu um arrepio na sua espinha. Quem era aquele homem?
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