Ao terminar as aulas e após pegar Jony, entramos no ônibus e fomos para casa. Tudo estava tão quieto que chegava a ser estranho. Nem o Jony estava falando dessa vez. Entramos em casa e ele foi direto para o seu quarto. Chamei pela mamãe, mas percebi que ela não havia chegado ainda e para minha felicidade, o pai do Jony também não. Após tomar um banho, desci para fazer algo para comer. Eu estava na cozinha, cortando presunto, queijo e passando pasta de amendoim em um dos pães. Ao me virar me assustei, deixei o pão cair da minha mão e me senti sem ar.
-Jony! O que você pensa que está fazendo? – ele estava sentando do outro lado do balcão, me olhando e sorrindo sem parar.
-Você anda muito assustada irmã. – ele escorou seus cotovelos no balcão e sustentou seu rosto com as mãos. – Dá próxima vez faço barulho.
-Agradeço! – soltei um sorriso irônico e abaixei para pegar o que havia caído.
-Pode fazer um desses pra mim também ? – levantei e voltei para a pia, para fazer outro para mim e para ele.
-Então, onde os adultos estão? Você sabe? – perguntei ainda de costas para ele.
-Aniversário de casamento Isa. Você esqueceu, de novo.- sua voz parecia desapontada.
-Sou péssima para datas. – me virei e lhe entreguei o sanduíche. Após ele pegar, a campainha tocou. Nos olhamos confusos. – Será que esqueceram as chaves?
-Será que não é seu namorado? – ao escutar Jony falar aquilo, lembrei que não havia falado com Erik como havia prometido mais cedo. Congelei ao pensar na possibilidade de ser ele lá fora me esperando. –Não vai atender? – meus pensamentos sumiram ao escutar a voz do menino me olhando. Sorri e fui em direção a porta. Respirei fundo e abri.
-O que você está fazendo aqui? – eu estava totalmente surpresa ao vê-la.
-Te pedi para te encontrar as oito, você disse que não ia, então , vim até você. –Luna estava com um sobretudo preto, com os braços cruzados me olhando.
-Certo. Isso é realmente loucura. – passei a mão na franja do meu cabelo. – Entra, vamos conversar. – abri a porta completamente e dei espaço para ela entrar. Com certa insegurança ela entrou. Vi pelo canto do olhar que Jony chegou na sala. – Jony, você pode terminar de comer lá em cima? Eu preciso conversar aqui embaixo. – Jony confirmou e subiu em silencio. A olhei e fiz sinal para ela sentar no sofá da sala. Sentamos. –Então, o que você quer?
-Anda acontecendo muitas coisas estranhas, tanto na escola, quanto comigo particularmente.
-E o que eu tenho a ver com isso? – eu estava impaciente, não queria saber sobre os problemas dela, nem tampouco ajudá-la em tal coisa.
-Você pode por favor, me deixar terminar de falar? – a olhei e me calei. – Ele me mandou vim até você, ele disse que você saberia o que fazer e como me ajudar.
-Ele? Quem é ele?
-Não sei seu nome, ele é um cara estranho, tem olhos verdes lindíssimos, usa uma roupa estranha preta... – antes dela terminar de falar, eu já sabia de quem se tratava e a interrompi.
-Espera, porque ele foi atrás de você? E porque eu posso te ajudar? – me levantei e ela levantou assustada em seguida.
-Então é verdade? Eu pensei que era algum tipo de brincadeira sua. – ela abaixou a cabeça – ótimo, sou mesmo uma aberração.
-Espera, - me virei para ela – o que você sabe fazer? Vamos, me mostre. – ela hesitou, mas a vi indo abrir a janela e voltar para junto de mim. A ouvi respirar profundamente.
-Eu não sei como consigo, - Luna fechou os olhos – mas se eu me concentrar e pensar , posso mexer com o ar. – a vi abrir os braços e fazer movimentos com a mão como se estivesse chamando alguém. Senti a brisa entrando e passando por nós, segundos depois, o vento ficou mais forte e foi diretamente para ela, fazendo voltas em seu corpo. Tive a quase certeza que ela estava levitando. Levei minhas mãos a boca para não gritar. Logo em seguida a vi fechar os braços e tudo desaparecer rapidamente e ela cair no chão.
-Luna! Luna! – corri para junto de seu corpo e comecei a bater em seu rosto. – Acorda! – ela abriu os olhos e a ajudei a levantar. – O que foi que acabou de acontecer aqui? Você estava flutuando? Voando?
-Eu também não sei. Mas foi isso que ele falou, que coisas diferentes irão começar a acontecer comigo, que eu não me assustasse, mas como não ficar assustada com isso? Isabelle , eu posso mexer com o ar. – eu senti seu desespero, foi o mesmo que vi nos olhares de Sofia e Alice, elas estavam desesperadas. Todas estávamos.
-Calma! O que mais ele te falou? – me escorei no braço do sofá e a esperei falar algo. Luna estava ajeitando seu cabelo sem me olhar.
-Ele disse que em breve terá grandes mudanças. Que eu deveria te procurar, pois você saberia como me ajudar. E disse para eu não me assustar, pois eu poderia fazer grandes coisas. – a garota deu a volta e sentou novamente no sofá. – Confesso que fiquei com medo , bastante aliás. Mas quando ele fala, ele passa uma certa calma e bem, seus olhos são encantadores. Então, o que você sabe e no que você pode me ajudar?
-Não posso! – segui pelo corredor e fui até a cozinha.
-Como assim não pode? – a escutei gritando e vindo pelo corredor que acabara de passar. – Você sabe , você precisa me ajudar.
- Eu não sei o que está acontecendo. Ele também apareceu para mim, tudo bem, mas eu não sei o que fazer. Estou tão perdida quanto você. O que eu sei, é que não dá pra reverter isso. – peguei um copo com água e dei dois goles.
-Não dá pra reverter? Você tem noção do que está falando?
-Eu sinceramente acho que devíamos esperar. Dá mais um tempo e ver o que acontece. O que não dá é surtar e sai gritando por ai, nem contar para ninguém. - a fuzilei com os olhos.
-Claro que não vou contar a ninguém. Não sou i****a. – ela pareceu se acalmar e sentou na cadeira onde Jony havia sentado alguns minutos atrás. –E você? O que sabe fazer? – Luna colocou os braços sob o balcão e ficou esperando que eu fizesse algo.
-Hã, não sei. – abaixei a cabeça. – Não acho que tenho alguma coisa estranha como vocês.
-Não tem? Vocês? Tem mais alguém envolvido nisso?
-Tem. A Sofia e a Alice. Uma tem uma conexão forte com a terra, as plantas, algo do tipo. E a outra, bem, ela se estressa fácil e pode deixar as coisas bem quentes se quiser. – percebi a boca de Luna aberta. – Exato, não somos a única, ou você não é a única.
-Porque isso está acontecendo ? Eu sou apenas uma adolescente de dezoito anos. – a ouvi se lamentar.
-Vai ver que esse é seu castigo, você já fez muita maldade. Talvez esteja na hora de pagar alguma delas.
-Pode parar com o sarcasmo. Se for isso, significa que você também fez maldade. – nos olhamos e eu sorri. – Do que você está rindo?
-De como você é patética. Acho que já estamos conversadas, é melhor você ir embora.
-È verdade. Tenho que ir. – fomos andando até a porta e pelo visto ela ainda não tinha reparado que no havia adultos na casa. – Onde estão seus pais? Você não tem pais? – antes de sair ela deu meia volta e me olhou com os olhos arregalados. Sorri por uns segundos.
-Tenho Luna. Eles apenas não estão em casa. – abri a porta e parei de rir quando ela percebeu que havia alguém parado do lado de fora. Ela cruzou os braços e arqueou a sobrancelha. Me virei para olhar na mesma direção que ela. – Erik? – falei surpresa.
-Você está me devendo uma explicação sobre o que aconteceu mais cedo. – ele agora estava com as mãos dentro do bolso. – Se você estiver ocupada, conversamos outra hora.
-Bem, eu já estou saindo. – ela ficou ao lado de Erik. – Tenham uma boa noite. – senti seu tom sarcástico e com uma pitada de maldade. Observamos Luna entrar em seu carro e virar á esquina.