CAPITULO 73

1719 Words
LILY’S POV Terminei de me ajeitar na frente do espelho, passando as mãos pelo vestido azul que escolhi com tanto cuidado. Não era o mais moderno nem o que me deixava mais bonita, mas eu sabia que era apropriado. A igreja não era um lugar para chamar atenção, e eu queria parecer respeitável, especialmente na frente dos pais do Aidan. Passei um batom discreto e soltei os cabelos que, por algum milagre, estavam cooperando hoje. Soltei um suspiro, tentando me preparar para o que seria, sem dúvida, mais um evento cheio de olhares e provocações veladas de Samuel. Desci as escadas, cada passo ecoando na madeira. Lá embaixo, todos estavam me esperando. Samantha, com seu sorriso eterno, o mesmo sorriso que sempre parecia esconder uma espécie de expectativa não dita. Meu pai, com aquele olhar orgulhoso, como se eu estivesse fazendo tudo certo só por seguir as regras. E, claro, Samuel. O fato de ele estar ali, mesmo após nossa última discussão, fazia o ar parecer pesado. Ele estava sentado no sofá, balançando a perna em um ritmo nervoso, m*l olhando para mim. Assim que cheguei ao final da escada, Samantha foi a primeira a me notar, o rosto dela se iluminando com um sorriso tão radiante que eu quase senti uma pontada de culpa por estar tão distante. Ela sempre foi a mais animada da família, sempre positiva, e isso a tornava insuportavelmente cega para o que acontecia de verdade ao redor. "Você está linda com esse vestido, Lily!", exclamou Samantha, como se fosse o elogio mais sincero do mundo. Eu sorri de leve, tentando parecer agradecida, mas a verdade é que aquele vestido me fazia sentir desconfortável. Não era a peça de roupa que eu teria escolhido, mas era o que se esperava de mim. "Valeu a pena esperar", disse meu pai, Doug, me observando com aquele olhar de orgulho contido. Ele estava vestido de forma impecável, como sempre, com seu terno escuro e gravata, a imagem perfeita de um homem respeitável. Sabia que, para ele, a imagem da família era tudo. Antes que eu pudesse responder, Samuel interrompeu, levantando-se de repente do sofá. "Vou esperar por vocês no carro", ele disse, a voz seca e fria, carregada de irritação que ele não se deu ao trabalho de esconder. Ele saiu da sala sem olhar para trás, e o som da porta batendo ecoou pela casa. A tensão que ele deixou para trás era quase palpável, como se sua presença ainda estivesse ali, nos observando. Samantha, sempre a mediadora, me olhou com simpatia. "Ignore o Samuel, ele provavelmente acordou de péssimo humor hoje." Eu a encarei por um segundo, sabendo que o humor de Samuel não tinha nada a ver com acordar m*l. Era sobre nós. Era sobre a última conversa que tivemos, a briga que ainda estava fresca na minha mente, mesmo que eu tentasse enterrar os sentimentos confusos que ela gerou. Mas eu não queria trazer isso à tona, especialmente antes de ir para a igreja, então apenas dei de ombros, tentando parecer indiferente. "Tudo bem, eu não me importo", menti, minha voz mais calma do que eu realmente sentia por dentro. A verdade era que eu me importava. Cada palavra que Samuel dizia, cada gesto de desdém, cada olhar que ele evitava... Tudo isso me atingia de uma forma que eu não queria admitir. Eu não queria que ele soubesse o quanto ele ainda mexia comigo, e certamente não queria que Samantha ou Doug percebessem a bagunça emocional em que eu me encontrava. Nós saímos de casa em silêncio, e a sensação de desconforto só aumentava. Samuel estava encostado no carro, de braços cruzados, esperando por nós com a expressão fechada. Quando me aproximei, nossos olhares se cruzaram por um segundo antes que ele desviasse o olhar. A raiva ainda estava ali, latente, mas misturada com algo mais. Algo que eu não conseguia identificar completamente. Talvez fosse mágoa, talvez fosse frustração, ou talvez fosse só Samuel sendo Samuel, sempre tentando manter tudo sob controle, até mesmo as emoções que o corroíam por dentro. O caminho até a igreja foi silencioso, exceto por Samantha e Doug, que conversavam animadamente no banco da frente, tentando preencher o vazio com histórias do filme que tinham assistido na noite anterior. Eu fingia prestar atenção, sorrindo ocasionalmente para parecer interessada, mas minha mente estava a mil, sempre voltando para Samuel, sentado ao meu lado, rígido, sem nem ao menos me dirigir um olhar. Quando chegamos à igreja, Samuel saiu do carro primeiro, como se quisesse se distanciar de mim o mais rápido possível. Doug e Samantha saíram rindo de alguma piada interna que eu não prestei atenção, e eu respirei fundo, preparando-me para o que seria mais um evento cheio de olhares curiosos da congregação. Entramos juntos na igreja, nossos passos ecoando pelo piso de mármore enquanto nos dirigíamos ao banco de sempre, perto do altar. Samuel sentou-se na extremidade, e eu ao seu lado, com Samantha e Doug completando a fileira. O sermão começou, e o padre falou sobre perdão, sobre o peso de carregar mágoas e como isso pode afetar não só nossa alma, mas nossas relações com os outros. Minha mente vagava enquanto as palavras do padre me atingiam de uma forma que eu não esperava. O que me prendia a essa situação com Samuel? Por que eu não conseguia simplesmente... perdoá-lo? Ou talvez, mais importante, por que ele não conseguia ver que o que eu queria era mais do que momentos fugazes? Eu queria algo real, algo que ele parecia incapaz de oferecer. Meu coração acelerou, e eu podia sentir a tensão entre nós se aprofundar. Olhei para o lado, esperando ver se Samuel estava ouvindo o sermão, se ele estava, de alguma forma, pensando nas mesmas coisas que eu. Mas ele estava imóvel, olhando fixamente para frente, a mandíbula tensa. Por um breve momento, tive a sensação de que ele estava tão perdido quanto eu. Talvez, apenas talvez, ele também estivesse lutando com os mesmos sentimentos confusos, mas, como sempre, Samuel se escondia atrás de sua fachada de indiferença. Era mais fácil fingir que não se importava, que não sentia nada, do que lidar com a bagunça emocional que envolvia tudo o que estávamos vivendo. Quando o sermão terminou, levantamo-nos em silêncio, a tensão ainda entre nós como uma barreira invisível, mas real. As palavras não ditas pairavam no ar, e, embora estivéssemos cercados por pessoas, eu nunca me senti tão sozinha como naquele momento. Enquanto saíamos da igreja, Samantha puxou conversa com Doug, falando sobre onde iriam almoçar. Samuel manteve-se à frente, caminhando sozinho, como se estivesse a milhas de distância, mesmo estando a poucos passos. Eu respirei fundo e continuei andando, tentando ignorar o peso que parecia esmagar meu peito, sabendo que, mais cedo ou mais tarde, teríamos que resolver isso — ou nos destruir no processo. Eu estava prestes a entrar no carro quando ouvi alguém me chamar. "Lily!" Instintivamente, eu parei e me virei para a direção da voz. Aidan estava ali, de pé com sua família, a expressão amigável no rosto. Ele parecia relaxado e à vontade, o oposto exato do que eu sentia naquele momento. "Lily," ele disse novamente, com um sorriso que parecia tão genuíno quanto eu lembrava. Eu sorri de volta, embora um pouco insegura. "Oi, Aidan. Eu não pensei que a gente se encontraria por aqui." "Pois é," Aidan respondeu, o tom da sua voz carregado de uma leve tristeza que não consegui decifrar. O silêncio se estabeleceu entre nós, e eu podia sentir o peso da expectativa no ar. Samantha se aproximou de nós, o olhar curioso de Samantha acompanhando a troca entre Aidan e eu. "Olá, Aidan," Samantha cumprimentou, seu tom alegre contrastando com a atmosfera tensa. "Como você está?" Aidan lançou um sorriso simpático para Samantha. "Estou bem, obrigado senhora Thompson. Estava pensando se Lily poderia ir para minha casa. Meus pais pediram para convidar Lily para almoçar com a gente." Eu olhei para Aidan, surpresa, e não pude deixar de perguntar, "Como assim?" "Bem," Aidan começou, "os meus pais pediram especificamente para que eu te chamasse. Eles ouviram que você estava na igreja e acharam que seria ótimo se você pudesse se juntar a nós." O meu pai, que havia permanecido um pouco mais distante até então, se aproximou. Ele me olhou com uma expressão de expectativa e perguntou, "Você gostaria de ir, Lily?" A minha mente estava em um turbilhão. Eu olhei para Aidan, buscando qualquer indício de que ele estava apenas sendo educado, mas a sinceridade em seu olhar era inegável. "Você tem certeza disso, Aidan?" Ele assentiu, um sorriso se alargando em seus lábios. "Claro, seria ótimo ter você conosco. Meus pais realmente gostariam de conhecê-la melhor." Senti uma leve ansiedade se formando no meu estômago. Passei a mão nervosamente pelo vestido, tentando abafar a sensação de insegurança que se formava. O convite era inesperado, e, apesar de querer aceitar, eu estava ciente de que havia muitas camadas de complicação envolvidas, principalmente com Samuel ali, observando. Eu olhei novamente para Samuel, que estava próximo ao carro, observando a cena com uma expressão que não consegui interpretar completamente. Havia algo no seu olhar que parecia... não exatamente ciúmes, mas talvez uma mistura de frustração e curiosidade. Eu me virei para Aidan e disse, "Tudo bem, eu aceito. Seria ótimo almoçar com vocês." Aidan estendeu a mão para mim, um gesto simples, mas carregado de significado. Eu hesitei por um momento, então estendi minha própria mão para segurar a dele. O contato foi breve, mas a eletricidade do toque foi suficiente para me fazer sentir um turbilhão de emoções. Enquanto caminhávamos em direção ao carro de Aidan, eu não pude evitar lançar um último olhar para Samuel. Ele estava parado, agora com a cabeça ligeiramente inclinada para o lado, como se tentasse entender o que estava acontecendo. Seu olhar me fez sentir um misto de culpa e confusão. Havia algo na forma como ele me observava que me fazia sentir que, de alguma forma, eu estava traindo ele, mesmo que não tivesse feito nada além de aceitar um convite amigável. Eu não queria permitir que sua presença estragasse o que poderia ser uma boa oportunidade para mim. Eu precisava tentar me concentrar no presente, no futuro que estava me esperando.
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